O dólar comercial fechou em alta de 0,56%, cotado a R$ 3,8758 para compra e a R$ 3,8773 para venda, com máxima a R$ 3,8773 e mínima a R$ 3,8309, se reaproximando dos R$ 3,90, cotação que ultrapassou no começo do mês e obrigou o Banco Central a promover intervenções mais intensas para tentar conter a volatilidade e prover liquidez ao mercado cambial.
E o nervosismo deve continuar no mercado no segundo semestre, diante da indefinida eleição presidencial doméstica, dos temores com a guerra comercial dos Estados Unidos com seus parceiros e ainda a trajetória de alta de juros norte-americanos.
O dólar acumulou uma alta de 2,49% na semana.
O dólar terminou junho com valorização de 3,76%, no quinto mês seguindo em elevação, acumulando no primeiro semestre de 2018 uma valorização de 16,98%. Depois de ter caído 0,43% nos três primeiros meses do ano, o dólar ficou 17,49% mais caro de abril a junho.
“Acho difícil o dólar ficar abaixo de R$ 4,00 no terceiro trimestre… A tendência do câmbio é de alta, embora em julho, com as férias no Hemisfério Norte e recesso (do Congresso no Brasil), a moeda possa continuar oscilar ao redor de R$ 3,80”, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves.
Daqui para frente, as pesquisas devem ganhar mais força, com a proximidade das eleições, o que pode elevar o nervosismo se, de fato, nenhum candidato com o perfil defendido pelo mercado, mais reformista, ganhe força.
O mercado também seguirá monitorando a retórica do presidente Donald Trump com relação a seus parceiros comerciais, sobretudo a China, o que vem azedando o humor nas últimas semanas. Esse cenário, junto com a perspectiva de mais duas altas de juros nos Estados Unidos é maléfico aos emergentes, já que os investidores preferem ativos menos arriscados.
Há ainda alguma expectativa para a forma como o Banco Central vai atuar em julho, depois da forte intervenção que vem realizando no mercado cambial desde meados de maio. Em agosto, vencem US$ 14.023 bilhões de contratos de swap cambial tradicional e o mercado aguarda anúncio para a rolagem dos lotes.
“O volume é grande e o mercado está muito sensível. Nem pensa que o BC não vai rolar esse volume”, disse o operador da corretora Spinelli, José Carlos Amado.
O estoque total de swap é de US$ 67.414 bilhões e o presidente do BC, Ilan Goldfajn, já repetiu diversas vezes que não vê problemas em aumentar essa posição, se necessário.
Nesta semana, no entanto, o BC não fez nenhum leilão de novos swaps, depois de ter injetado o equivalente a US$ 43.616 bilhões com essas operações desde 14 de maio.
Nesta sexta-feira, o dólar passou a manhã de olho no exterior, mas a formação da taxa Ptax deixou o mercado mais técnico e volátil.
“O primeiro semestre terminou e não deve deixar saudades”, resumiu o operador da Advanced Corretora, Alessandro Faganello.
No mercado internacional, por volta das 17h45 (Horário de Brasília), o Dollar Index estava em baixa de 0,81%, cotado aos 94,23 pontos, enquanto o euro estava em alta de 1%, cotado a US$ 1,1684.
No último dia de junho, juros futuros caem, mas melhora não é clara
O segundo trimestre foi marcado pela forte alta nos juros futuros, seguindo a escalada do dólar e as incertezas sobre a condução da política monetária pelo Banco Central (BC). Embora a curva tenha registrado um alívio nas duas últimas semanas, as perspectivas para a segunda metade do ano não são animadoras.
“Achamos que a curva continuará premiada. O BC não deu sinais de que há alta de juros iminente, pelo contrário, sinaliza manutenção da Selic na próxima reunião do Copom. Mas as incertezas ainda são maiores”, disse Mariana Dreux, gestora da Truxt Investimentos. “Não sabemos onde o mercado externo vai parar e o mercado local começa a negociar com base no cenário eleitoral brasileiro, que não é dos mais favoráveis.”
Para a gestora, é o efeito da dinâmica global no câmbio que vai ditar as tendências dos contratos de juros. Uma possível alta na moeda americana poderia contaminar as expectativas de inflação e levar, assim, o BC a elevar a taxa básica de juros.
O gestor de renda fixa da Franklin Templeton, Rodrigo Borges, acredita que a autoridade monetária conseguiu fazer o mercado olhar menos o cenário externo, por ora, e mais o cenário inflacionário local. Para o próximo mês, é esperado que o IPCA venha mais alto por conta dos efeitos da greve dos caminhoneiros, mas volte a cair na sequência.
“Se isso for se confirmando ao longo de julho, o DI tende a ir perdendo mais prêmio. Se confirmar o cenário de inflação para patamares baixos, o DI acompanha o movimento”, disse o gestor.
A dinâmica negativa do segundo trimestre começou já em meados de abril, com o movimento de alta da moeda americana sendo seguido pelos contratos de juros no mercado futuro. Mariana, da Truxte, lembra que a tendência culminou na quebra de expectativa do mercado quando, em maio, o BC interrompeu o ciclo de corte dos juros e manteve a Selic em 6,5%, trazendo instabilidade para os ativos financeiros.
Junto a isso, pesou a greve dos caminhoneiros, que trouxe incerteza sobre o ritmo da atividade e o efeito que teria na inflação. O quadro eleitoral também passou por mudança, ainda que pequena, com a percepção dos investidores de que os candidatos reformistas não estavam ganhando força na disputa pela presidência do país.
Nesta sexta-feira (29/6), os contratos foram negociados com oscilações, mas pouca liquidez. No fim da sessão regular, às 16h, fecharam com queda sobre o ajuste. O DI janeiro/2020 terminou o pregão regular com taxa de 8,32% (de 8,33% no ajuste anterior), o DI janeiro/2021 estava cotado a 9,310% (9,35% no ajuste anterior) e o DI janeiro/2025 conclui a sessão a 11,57% (11,65% no ajuste anterior).
Tesouro aproveita volatilidade e recompra R$ 192 milhões em títulos
O Tesouro aproveitou a oportunidade resultante da volatilidade nos preços internacionais para recomprar títulos brasileiros. O órgão recomprou papéis no valor financeiro total de R$ 192.09 milhões.
Com a volatilidade, os preços dos títulos caíram, tornando oportuna a atuação do Tesouro.
Ainda sobre o mercado externo, o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Luis Felipe Vital, disse que apesar da saída líquida de R$ 5.3 bilhões de não residentes em maio, o saldo continua positivo tanto no acumulado de 2018 quanto nos doze meses terminados em maio.
Vital disse ainda que apesar do percentual da Dívida Pública Federal vencendo em 12 meses estar em 20,3% em maio, ele tem “conforto ao dizer que vamos encerrar o ano abaixo de 18% da dívida a vencer em 12 meses, limite existente no Plano Anual de Financiamento (PAF)”.
O coordenador ressaltou ainda que o baixo valor de emissões do Tesouro em maio se deveu à alta volatilidade do mercado durante o mês. “As condições de mercado foram ficando mais voláteis e o Tesouro veio reduzindo lotes ofertados, chegando a cancelar alguns leilões no fim de maio”, disse.
Já no caso do resgate, o baixo volume se deve ao perfil da dívida. “Tem mês com número menor de vencimentos e aí o resgate será menor”, disse. Quase todo o resgate de maio se refere ao vencimento de R$ 11 bilhões de cupom de NTN-Bs, acrescentou.
As emissões corresponderam a R$ 35.34 bilhões, enquanto os resgates alcançaram R$ 15.49 bilhões, o que equivale a uma emissão líquida de R$ 19.85 bilhões.
Vital disse ainda que com a queda na taxa de juros, investidores realizam seus lucros enquanto outros passam a procurar outros ativos mais rentáveis. Isso explica os resgates registrados no Tesouro Direto.
O custo médio do estoque da Dívida Pública Mobiliária Federal Interna (DPMFI) teve nova queda em maio e chegou a 9,6 % ao ano, o que representa o menor valor da série histórica, iniciada em dezembro de 2005.
Vita, disse que o valor das emissões, de 8,5% a.a., também foi o menor da série histórica. Nesse caso, ela tem início em dezembro de 2010.
Ele ponderou que no momento, não há nenhuma avaliação de que seja necessário alterar o Plano Anual de Financiamento (PAF), mas que caso seja necessário, “não haverá constrangimento em mudá-lo”.