Dólar segue o mercado externo, fecha em alta, mas longe das máximas

O mercado de câmbio brasileiro viveu mais um dia de forte pressão de alta no dólar, que se aproximou dos R$ 3,70 menos de uma semana depois de ter rompido a barreira de R$ 3,60. Há um mês, o dólar estava cotado a R$ 3,40. Apenas em maio, a moeda americana se apreciou 4,67%. No ano, a alta é de 10,5%. Em 12 meses, alcança quase 18%. Desde a mínima deste ano, a moeda subiu 17%.

O dólar comercial fechou em alta de 0,90%, cotado a R$ 3,6602 para compra e a R$ 3,6608 para venda. Na máxima, foi a R$ 3,6932, maior cotação desde 7 de abril de 2016 (R$ 3,7189).Na mínima foi negociado a R$ 3,6439.

A forte pressão no câmbio novamente deve fortalecer o debate sobre uma atuação mais incisiva do Banco Central (BC) no mercado, uma vez que o dólar já se aproxima de R$ 3,70. Mais cedo, a instituição vendeu todos os 5.000 contratos de swap cambial ofertados como dinheiro “novo”. No fim da manhã, a autoridade monetária fez a rolagem integral de todos os 4.225 contratos de swap expirariam em junho.

A terça-feira foi mais um dia de dólar forte em todo o mundo, mas o movimento se intensificou em relação ao dia anterior. A corrida se dá em meio ao aumento das taxas de retorno dos títulos soberanos americanos, referência para a renda fixa global.

O rendimento do título do Tesouro americano de dez anos bateu na máxima 3,069% ao ano, maior nível desde julho de 2011. O mercado se ressente ainda de incertezas geopolíticas, do embate comercial entre China e EUA e da desaceleração da economia europeia, onde até a potência Alemanha fraquejou.

Tudo isso intensifica o destaque dos EUA como grande economia com maior impulso relativo nos últimos meses. E esse cenário joga a favor de mais elevações de taxas de juros pelo Federal Reserve, movimento que, historicamente, potencializa saída de recursos de mercados emergentes.

Uma cesta de 12 moedas emergentes, incluindo o real, cai às mínimas desde janeiro de 2017.

No mercado internacional por volta das 17h30 (Horário de Brasília), o Dollar Index estava em alta de 0,61%, cotado aos 93,11 pontos, enquanto o euro estava em baixa de 0,72%, cotado a US$ 1,1841.

Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas do Goldman Sachs para a América Latina, diz que os mercados vivem atualmente os efeitos da normalização das condições monetárias nos EUA, mas não necessariamente isso significa o fim do crescimento global sincronizado. “Basicamente, a taxa livre de risco está acima de 3%, o que é bastante atrativo ao investidor”, afirma, referindo-se ao juro do título do Tesouro americano de 10 anos.

No caso brasileiro, tudo indica que o patamar de dólar acima de R$ 3,50 “veio para ficar”, pelo menos até as eleições presidenciais de outubro. Ele destaca que, apesar de condições macroeconômicas melhores que em 2013, por exemplo, o Brasil preferiu trabalhar com uma estratégia “gradualista” na resolução do problema fiscal. E isso se combina à incerteza eleitoral como fator a pressionar a taxa de câmbio.

Juros

A piora do ambiente externo para ativos de risco voltou a deixar suas marcas no mercado brasileiro de juros. Os contratos de DI operaram em alta desde a abertura, com efeito mais acentuado nos vencimentos mais longos.

O DI janeiro de 2025 chegou hoje ao maior patamar desde o começo do ano. Na máxima do dia, a taxa subiu até 10,270%, um pouco abaixo do nível de 10,280% registrado em 10 de janeiro.

“A aversão ao risco volta a mostrar as caras”, disse o operador Cleber Alessie Machado Neto, da H.Commcor. O pano de fundo desta postura mais defensiva é composto por uma série de fatores, como preocupações com uma guerra comercial entre EUA e China, além de riscos geopolíticos.

O ambiente mais adverso tem, dentre seus principais fatores, o novo salto dos juros dos títulos do Tesouro americano, o que força uma reprecificação global nos mercados. O rendimento do título de 10 anos voltou a superar os 3% e bateu o maior nível desde 2011, em meio a preocupações sobre um aperto monetário mais duro diante da valorização do petróleo.

“Tem um claro componente externo afetando os mercados, até porque não daria para passar ileso de um avanço dos juros americanos”, disse o executivo de uma gestora. O profissional chama a atenção para o fato de que o juro real dos títulos públicos está avançando em ritmo mais acentuado que o da inflação implícita desses títulos.

Isso sinaliza, disse o profissional, que o mercado tem elevado o prêmio de risco enquanto ainda existe a percepção de inflação contida no Brasil.

O leilão de títulos públicos hoje é um exemplo desse movimento: o Tesouro Nacional pagou nesta terça-feira (15/5) a maior taxa real de juros em leilão de NTN-B mais longa (2055) desde julho do ano passado. As NTN-B de vencimentos mais curtos foram negociadas com o maior juro real desde dezembro do ano passado.

O “dilema” entre a inflação contida no Brasil e a piora do externo é algo que o BC deve enfrentar em sua decisão de juros, que será anunciada manhã. A expectativa majoritária de analistas é de que o COPOM decida pelo corte a Selic para nova mínima histórica, de 6,25%. Por outro lado, a expectativa já não traz tanta convicção no mercado, que precificava até ontem 33% de chance de a taxa ser mantida no nível atual, de 6,50%.

Por volta das 13h45, o DI janeiro/2019 subia para 6,365% (6,360% no ajuste anterior); o DI janeiro/2020 caía para 7,380% (7,410% no ajuste anterior); e o DI janeiro/2021 avançava para 8,490% (8,480% no ajuste anterior). O DI janeiro/2023 subia para 9,650% (9,610% no ajuste anterior) e o DI janeiro/2025 estava cotado a 10,120% (10,080% no ajuste anterior).

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