Dólar puxa demanda por crédito à exportação

Em um momento de forte volatilidade cambial, que levou o dólar a superar os R$ 4,00 em agosto pela primeira vez no ano, os exportadores aproveitaram para antecipar o fechamento do câmbio e garantir um preço maior de vendas em reais. Apesar de a moeda americana ter voltado para a casa dos R$ 3,70, a demanda por linhas de crédito à exportação continua em alta, diante da expectativa da nova queda do dólar com o fim das eleições.

No ano, até 19 de outubro, o volume tomado por exportadores via contratos de Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC) cresceu 23% em relação ao mesmo período de 2017, para US$ 28.2 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC). Nesse tipo de empréstimo, que serve como um capital de giro, o banco antecipa recursos em reais aos exportadores relativos a uma venda externa já acertada, para embarque em até 360 dias.

Já as operações de Pagamento Antecipado (PA) avançaram 31% no período, para US$ 54.5 bilhões. Essas linhas têm prazo mais longo, de até cinco anos, e são usadas para financiamento de produção.

Somente em outubro, até o dia 19, o volume contratado via ACC cresceu 15% em relação ao mesmo período de 2017 e o total movimentado nas linhas de pagamento antecipado foi 16% maior.

O maior crescimento, contudo, foi registrado em agosto, quando somente as operações de ACC cresceram 54%. “Os produtores correram para fixar os preços, principalmente de soja, quando o dólar bateu R$ 4,00”, disse Rafael Fortunato Mendes, chefe de operações estruturadas em commodities para América Latina do ING.

Roberto Medeiros, diretor do Departamento Internacional e de Câmbio do Bradesco, afirmou que a demanda mais forte veio principalmente de exportadores de café, que viram na alta do dólar uma oportunidade de melhorar a rentabilidade das vendas, uma vez que os preços da commodity amargam queda no ano. “Quando o dólar passou de R$ 3,90, quem tinha fluxo para antecipar correu para fazê-lo”, disse.

A aposta na ampliação do portfólio de clientes no segmento de pequenas e médias empresas garantiu ao Banco do Brasil (BB) um aumento de 14,8% no volume contratado de ACC neste ano até setembro. “Só na carteira de PMEs tivemos um crescimento de 23% nessas linhas”, informou Thompson Cesar, gerente geral da unidade de comércio exterior do BB. Ele afirmou, contudo, que o pico de desembolsos no banco ocorreu neste mês.

O volume movimentado nas linhas de comércio exterior só não foi maior por conta da incerteza sobre o custo do frete após a greve dos caminhoneiros, uma vez que esse é um componente importante para a definição do preço final dos produtos. “As transportadoras estão dando mais clareza agora, mas a questão do custo do frete para o ano que vem ainda não está solucionada”, disse Mendes, do ING.

Ele lembrou que, por conta dessa incerteza, muitos exportadores preferiram não travar os preços agora para fazer a venda do produto à vista no ano que vem. Isso teve reflexo não só nas linhas de financiamento à exportação como na demanda por operações de hedge cambial, realizadas por meio de contratos a termo de moedas (NDF).

Os exportadores, no caso da soja, começam a fechar o preço das exportações para a safra do próximo ano em setembro, travando as receitas em reais. Segundo Sergio Machado, chefe de vendas da mesa de renda fixa para clientes corporativos no Brasil do BNP Paribas, normalmente, 70% das vendas têm o preço travado antecipadamente. Neste ano, contudo, a demanda por essas operações ainda está tímida.

Machado estimou que apenas 30% do fluxo de exportações previstas de soja teve o câmbio travado por meio de NDF. “O normal para essa época do ano é um percentual maior (de fechamento de câmbio), mas quando o produtor, mesmo com o dólar mais alto, ligava nas tradings, não conseguia travar o preço porque não se sabia quanto era o frete”, disse.

Apesar de muitas empresas terem antecipado as operações para garantir os recursos antes do resultado das eleições, se o dólar voltar para um nível entre R$ 3,80 e R$ 3,90, os exportadores tendem a aumentar a contratação de linhas de crédito à exportação. A avaliação é do responsável por produtos e vendas de “trade finance” do Citi Brasil, Adriano Milani.

Do lado dos importadores, a demanda por linhas de crédito também foi maior neste ano, refletindo a retomada dos investimentos com a perspectiva de recuperação da economia. “Desde janeiro, tivemos um crescimento de 20% nas linhas de importação e 10% em operações exportação”, contou Milani.

O Bank of America Merrill Lynch verificou um aumento de 35% em agosto nas linhas de importação, com os importadores buscando travar o custo e se proteger da variação cambial. “O importador tinha uma preocupação de que o dólar pudesse ficar ainda mais alto”, afirmou Marcelo Carvalho, responsável pela área de “corporate banking” do BofA.

 

Fonte: Valor Econômico

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