Dólar fecha praticamente estável; cautela com exterior e eleições continua

O dólar comercial fechou praticamente estável, em leve alta de 0,03%, cotado a R$ 4,1525 para compra e a R$ 4,1531 para venda, com máxima a R$ 4,1947 e mínima a R$ 4,1384, num movimento de correção após ter se aproximado de R$ 4,20 durante o pregão, com o mercado ainda cauteloso com o cenário externo e eleições presidenciais locais.

Na véspera, a moeda norte-americana fechou em alta de 1.95%, cotado a R$ 4,1520. A maior cotação de fechamento do dólar é R$ 4,1655, registrada em 21 de janeiro de 2016.

“O mercado aguarda os desdobramentos das negociações entre os Estados Unidos e o Canadá, além da imposição de novas alíquotas já anunciadas pelo governo norte-americano aos produtos chineses. Com isso, o clima segue de cautela, o que tem atingido, além das bolsas europeias, as moedas dos países emergentes”, justificou mais cedo o banco Bradesco em relatório, quando o dólar rondava as máximas do dia.

As tensões comerciais vêm afetando os mercados globais e emergentes, com as preocupações aumentando novamente após o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, no fim de semana de que não havia necessidade de manter o Canadá no Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta).

Além disso, Trump estaria preparado para acelerar rapidamente a guerra comercial com a China e poderia estar pronto para impor mais tarifas às importações chinesas.

No exterior, o dólar registrou forte alta sobre moedas de países emergentes, com destaque para o rand, depois que a África do Sul entrou em recessão no segundo trimestre pela primeira vez desde 2009.

As atenções também continuaram voltadas para a Argentina, onde o governo anunciou novos impostos e cortes de gastos na véspera para tentar equilibrar o orçamento e antecipar recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI). O dólar subia 3 por cento ante o peso argentino perto do fechamento doméstico.

No mercado internacional, por volta das 17h55, o Dollar Index estava em alta de 0,32%, cotado aos 95,37 pontos, enquanto o euro estava em baixa de 0,32%, cotado a US$ 1,1583.

A forte alta do dólar durante a manhã, no entanto, foi perdendo força e chegou a ser revertida com a notícia de que o Ministério Público de São Paulo denunciou o candidato a vice-presidente do PT, Fernando Haddad, por corrupção.

“Tudo o que atrapalhar o PT neste momento é bom para o mercado”, afirmou um profissional da mesa de câmbio de uma corretora local.

Haddad, provável substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na chapa do PT após o ex-presidente ter sido barrado da disputa na semana passada, já havia sido acusado pelo MP de improbidade administrativa e enriquecimento ilícito no mesmo caso.

O mercado vê o PT como menos comprometido com as contas públicas e, por isso, assume posturas defensivas diante da possibilidade de a legenda avançar para o segundo turno. Lula lidera todas as pesquisas de intenção de votos à Presidência e os investidores temem a força de transferência desses votos para seu substituto.

O mercado também esteve na expectativa sobre novas pesquisas de intenção de votos: Ibope, depois do fechamento do mercado nesta terça-feira, e Datafolha, que deve sair no fim de semana.

Embora não tenha sustentado o recuo até o final do dia, o dólar também não voltou a galgar patamares mais altos, já que exportadores aproveitaram preços e os investidores também voltaram a ficar atentos à possibilidade de atuação extraordinária do Banco Central.

O Banco Central brasileiro realizou a venda em leilão de 10.900 contratos de swap cambial tradicional. Com a venda de hoje, o BC já rolou US$ 1.090 bilhão do lote de US$ 9.801 bilhões que vence em outubro.

Juros futuros sobem com volatilidade do dólar

A incerteza sobre uma eventual atuação do Banco Central no mercado de câmbio está interferindo no mercado futuro de taxas de juros e ajuda a explicar a maior volatilidade dos DIs. Segundo profissionais, depois que o BC fez a oferta líquida de swaps cambiais na última quinta-feira (30), em resposta à forte alta do dólar por causa da crise da Argentina, toda vez que a cotação dispara há um movimento de zeragem de posições, levando as taxas futuras para cima.

Isso acontece porque muitos fundos apostavam na alta da bolsa, nas NTN-Bs e, como proteção, ficam comprados em dólar, disse David Cohen, sócio e gestor da Paineiras Investimentos. Se o BC atua e o dólar cai, o mercado naturalmente desmonta todas essas posições.

“Quando o BC interveio, ele retirou a eficiência da proteção no dólar e gerou desmanche de posições. Outros ativos, para além do dólar, também estão sendo prejudicados”, disse. Cohen observa que, nesta terça-feira (4/9), o dólar chegou bem próximo do patamar quando o BC interveio na semana passada e que o mercado desmontou rapidamente parte da posição comprada em dólar com medo de uma nova intervenção.

Rogerio Braga, gestor de renda fixa e multimercados da Quantitas, vai na mesma linha ao explicar que o mercado estava com uma elevada posição comprada em dólar como hedge, e que alguns players desmontaram posição. Com isso, o fluxo técnico se sobressai aos fundamentos. Segundo ele, neste contexto, a correlação entre juros e câmbio foi alta ao longo do dia. No fechamento do pregão regular, no entanto, os DIs tinham desempenho ainda mais negativo.

Cohen, da Paineiras, lembra que os mercados estão com alta volatilidade e, na menor tendência positiva, os investidores aproveitam para zerar posições. Além disso, conforme o dólar vai se mantendo no patamar mais alto, crescem as dúvidas sobre o impacto disso na inflação e em como o BC procederá na sua estratégia de política monetária, o que gera mais prêmio na curva.

Os investidores também seguem cautelosos à espera da divulgação da pesquisa nacional Ibope de intenção de voto para presidente que será divulgada no “Jornal Nacional” da TV Globo. Esta será a primeira pesquisa a capturar possíveis efeitos da propaganda eleitoral gratuita, iniciada na sexta-feira (31/8). A coleta dos dados acontece desde o dia 29 até o fim desta terça.

Ao fim da sessão regular, ás 16h, o DI janeiro/2020 fechou com taxa de 8,83% (8,79% no ajuste anterior), o DI janeiro/2021 estava cotado a 10,09% (9,99% no ajuste anterior) e o DI janeiro/2025 a 12,46% (12,32% no ajuste anterior).

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp