O dólar comercial fechou em alta de 1,43%, cotado a R$ 3,1835 para compra e a R$ 3,1850 para venda, com máxima a R$ 3,1937 e mínima a R$ 3,1377, registrando a maior alta diária desde 13 de junho quando subiu 1,62% e voltou a se aproximar dos R$ 3,20, após o presidente interino Michel Temer demonstrar preocupação com a queda recente da moeda norte-americana e em meio à realização nos mercados globais após o recente tombo da divisa.
A moeda norte-americana acumulou uma alta de 0,50% na semana, após recuar nas duas semanas anteriores.
“A fala de Temer adicionou algum ruído ao mercado e deve deixar o dólar um pouco mais pressionado, pelo menos até que os fluxos de capital (para o Brasil) comecem a se materializar”, disse o operador da corretora Intercam Glauber Romano.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Temer afirmou que é preciso “manter um certo equilíbrio no câmbio” e ressaltou que figuras do setor corporativo discutiram o recuo recente da moeda norte-americana com ele. “Nem pode ter o dólar num patamar elevado, nem um dólar derretido”, disse.
Cotações baixas do dólar tendem a prejudicar a indústria ao encarecer exportações, enquanto cotações altas elevam os preços de insumos importados e podem contaminar a inflação.
As declarações de Temer vieram após o BC intensificar sua intervenção no câmbio na véspera, vendendo 15.000 contratos de swap reverso em vez dos costumeiros 10.000 contratos e manteve esse ritmo nesta manhã.
Nesta manhã, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, repetiu que a instituição utilizará com parcimônia seus instrumentos cambiais e reiterou o compromisso com o câmbio flutuante.
“Houve uma ‘intervenção verbal’ da parte do Temer, que deve ser suficiente para segurar o dólar acima de R$ 3,10 por algum tempo”, disse o operador de uma corretora nacional, sob a condição de anonimato.
Pela manhã, o cenário externo ajudou a limitar o avanço da moeda norte-americana, com dados fracos sobre os Estados Unidos reforçando as expectativas de que os juros não devem subir neste ano por lá.
Mas esse movimento se dissipou durante a tarde, com investidores comprando dólares após o dólar recuar fortemente em relação a moedas emergentes nesta semana.
O dólar acumulou uma queda de 3,6% em relação ao peso mexicano desde a divulgação do relatório de emprego dos EUA na sexta-feira passada, por exemplo, atingindo os menores níveis desde meados de junho.
“Houve alguma realização durante a tarde depois de um período extenso de ganhos das moedas emergentes. Não vejo isso como uma mudança de patamar, mais um ajuste”, disse o economista da consultoria Tendências Silvio Campos Neto.
O mercado continua no aguardo de fluxos positivo de recursos no Brasil relacionados a operações corporativas recentes e ao renovado interesse em ativos brasileiros. Muitos esperam, porém, que esse movimento só ganhe força após a confirmação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, que deve acontecer no fim deste mês.
No mercado internacional, o Dollar Index fechou em baixa de 0,20%, cotado aos 95,71 pontos, enquanto o euro fechou em alta de 0,22%, cotado a US$ 1,1162.
Juros futuros ficam quase estáveis em relação a ontem e a semana passada
Os contratos futuros de taxas de juros encerraram sessão desta sexta-feira próximas tanto do fechamento de ontem quanto do nível observado na semana passada. Segundo profissionais do mercado, essa baixa volatilidade e também o volume reduzido de negócios deve-se à ausência de notícias que justifiquem uma mudança de posição – seja comprada, seja vendida.
“O mercado vai ficar nesse compasso de espera até que venha uma definição do quadro político e, então, sinais mais claros sobre a capacidade do governo de implementar o ajuste fiscal”, disse um profissional. “As taxas já caíram muito. E, mesmo ainda oferecendo prêmio, ninguém vai se expor agora sem que surjam fatos mais concretos.”
Na sexta-feira da semana passada, o DI janeiro/2021, por exemplo, aquele que capta mais claramente a percepção de risco dos investidores em relação ao quadro fiscal, estava a 11,84%, a menor taxa de fechamento do ano. Antes desse dia, esse contrato não havia sido negociado abaixo de 11,90%. Hoje, fechou abaixo desse piso novamente, a 11,88%.
“O mercado vê espaço para cair mais, caso o cenário benigno se confirme. Mas agora optou por esperar”, disse um profissional. Esse interlocutor se refere ao quadro de ingresso de recursos esperado para o momento em que o impeachment for consolidado e à postura mais agressiva que se espera por parte do governo para implementar o ajuste fiscal, especialmente a aprovação do teto de gastos. “Esse é o cenário mais provável para o mercado, mas sem dúvida houve um aumento de risco na margem”, disse.
Mas o ambiente externo, persistentemente positivo para ativos de risco, também não permite que haja uma correção mais expressiva das taxas. “Ninguém consegue ir contra esse movimento. Mesmo vendo riscos, o mercado acaba seguindo o movimento global”, disse outro profissional.
Em evento em São Paulo, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, voltou a alertar que o BC vem monitorando a reação dos mercados ao cenário internacional, favorável aos emergentes. “Há riscos para a disponibilidade de liquidez atual e para o crescimento global”, afirmou. Ele também reiterou que está comprometido com o cumprimento da meta de inflação em todo o horizonte relevante da política monetária, mas especialmente com 2017, quando a inflação deve convergir para 4,5%.
Fonte: Valor