O mercado de câmbio doméstico foi mais uma vez envolvido pelo movimento de aversão ao risco no exterior, com a queda das bolsas em Nova York, a alta das taxas das Treasuries e fortalecimento global do dólar. Dados acima do esperado possibilidade de alta adicional da taxa básica de juros pelo Federal Reserve e a permanência dos juros em níveis elevados nos EUA por um período prolongado.
Em alta desde a abertura, o dólar acelerou o movimento ao longo da tarde, acompanhando a deterioração do ambiente externo, até o nível de R$ 5,16. Com máxima a R$ 5,1600, o dólar fechou em alta de 1,73%, cotado a R$ 5,1540 para a venda, na maior cotação de fechamento desde 28 de março. Nos dois primeiros pregões de outubro, a divisa já acumula uma valorização de 2,54%.
No exterior, o Dólar Índice voltou a superar os 107.000 pontos, mas teve seu ímpeto em parte contido pela valorização do yen à tarde. Operadores especularam que a mudança de rota estaria associada à intervenção de autoridades do Japão, após o dólar registrar a maior cotação em relação à moeda japonesa desde outubro de 2022. A moeda americana subiu em bloco em relação as divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O real registrou perdas similares a dos pesos mexicano e colombiano, as duas divisas que ainda lideram os ganhos em relação ao dólar em 2023.
“Vemos um movimento global de valorização do dólar. O Dólar Índice acumula uma alta de 7,35% desde meados de julho e não parece querer recuar. Essa força do dólar deve-se, basicamente, à escalada das taxas dos títulos das Treasuries, que vem renovando máximas atrás de máximas”, disse o Diretor de Tesouraria do Braza Bank, Bruno Perottoni. “Os dados econômicos que têm sido divulgados mostram uma economia aquecida e, pelo menos na retórica, um Fed disposto a usar as armas da política monetária para resolver a situação.”
Divulgado pelo Departamento do Trabalho americano, o relatório JOTS mostrou que a abertura de postos de trabalho nos EUA aumentou para 9.61 milhões em agosto, bem acima das expectativas dos analistas (8.9 milhões). Esses dados aumentam a cautela em torno da divulgação da pesquisa ADP de emprego privado amanhã (4), e do relatório oficial de emprego (payroll) de setembro, na sexta-feira (6).
O Chefe da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, indicou que as taxas dos Treasuries já abriram em alta e ganharam ainda mais fôlego após a divulgação do relatório JOLTS. “A aversão ao risco está alta em todos os mercados, com o dólar ganhando força. Ontem, o real foi a melhor moeda emergentes, a que menos de desvalorizou, e hoje anda junto com o peso mexicano”, disse Weigt. “Talvez o Fed suba mais os juros. Dizem que vão ficar com taxas por bastante tempo. Por isso, a curva longa lá ficou menos invertida”.
As taxas longas do Treasuries avançaram com força. O yield da TNote de 30 anos subiu, tocando o nível de 4,94% na máxima, enquanto o retorno da TNote de 10 anos superou na máxima o nível de 4,80% pela primeira vez desde agosto de 2007. Monitoramento do CME Group mostra um aumento das expectativas de aumento adicional da taxa básica de juros pelo Federal Reserve.
“O relatório JOLTS mostrou um mercado de trabalho bem aquecido, o que tem reflexo na inflação. Isso levou a mais um dia de alta dos Treasuries, pressionando as divisas emergentes. Temos fluxo de dólar saindo daqui porque existe perspectiva de juros mais altos nos Estados Unidos”, disse a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.