Após registrar uma queda pela manhã no mercado doméstico, em um aparente movimento de realização de lucros, o dólar ganhou força ao longo da tarde em meio ao aumento da aversão ao risco no exterior e à alta das taxas dos Treasuries. Na última hora de negociação, com piora das Bolsas em Nova York e alta adicional dos juros longos nos EUA, a moeda rompeu R$ 4,99 e registrou a máxima do dia a R$ 4,9940. No fechamento, o dólar estava em alta de 0,42%, cotado a R$ 4,9870 para a venda, a maior cotação de fechamento desde 1º de junho (R$ 5,0064).
Apesar da agenda doméstica carregada, com divulgação do IPCA-15 de setembro e da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central na semana passada, o mercado externo foi, mais uma vez, preponderante na formação da taxa de câmbio. Aos temores relacionados ao setor imobiliário chinês e a perspectiva de juros elevados por período prolongado nos EUA, reforçada pela alta dos preços do petróleo, soma-se a preocupação com eventual paralisação parcial do governo americano, dado o impasse no Congresso dos EUA para aprovação do orçamento.
“Temos uma aversão ao risco generalizada no mundo que leva naturalmente a uma demanda pelo dólar. Há preocupação com o risco de paralisação nos EUA em meio a uma pressão por mais gastos. Os preços dos ativos estão assimilando a perspectiva de juros mais altos nos EUA por mais tempo”, disse o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, acrescentando que, por ora, o dólar respeita o nível psicológico de R$ 5,00 no curto prazo. “Quando se aproxima de R$ 5,00, aparece um movimento vendedor muito forte. Mas se o ambiente externo piorar ainda mais, com pressão nas taxas longas nos EUA e desaceleração na China, isso pode mudar.”
Com a demanda global por dólar, o Dólar Índice operou o dia em alta firme e registrou uma máxima aos 106.261 pontos. A moeda americana subiu em bloco em relação as divisas emergentes e de países exportadores de commodities, incluindo as moedas latino-americanas pares do real. A taxa da TNote de 30 anos superou a marca dos 4,70% pela primeira vez em mais de 12 anos. O retorno da TNote de 10 anos voltou a ultrapassar a barreira de 5,55%. Indicadores americanos divulgados hoje, confiança do consumidor e venda de moradias novas, decepcionaram, colocando em xeque a expectativa de um pouso suave da maior economia do mundo. O vencimento dezembro do Brent subiu 0,72%, para US$ 93,96 o barril. Teme-se que a alta dos preços dos combustíveis retarde o processo de desinflação nos EUA.
“Vimos uma piora dos ativos com a alta mais forte das taxas dos Treasuries e a preocupação com o impacto dos preços do petróleo, com problemas de oferta na Rússia. Além disso, há o risco de desaceleração mais forte da economia chinesa”, disse a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
Com juros elevados nos EUA por mais tempo e o processo de cortes da Selic, analistas alertam que haver estreitamento do diferencial entre taxas internas e externas, o que pode tirar parte da atratividade do real no médio prazo. A ata da reunião do Fed na semana passada trouxe um tom duro e reforçou o ritmo de redução em 0,50% nas próximas reuniões do FOMC.
O IBGE informou que o IPCA-15 acelerou de 0,28% em agosto para 0,35% em setembro. O resultado, contudo, veio ligeiramente abaixo da mediana das estimativas de projeções Broadcast (0,37%). Em geral, instituições avaliaram que o índice mostrou ainda uma composição benigna da inflação, com arrefecimento de núcleos, além de menor difusão.