Dívidas antigas podem ampliar o número de usinas em recuperação

Apesar da queda dos juros na economia brasileira e da recuperação do mercado doméstico, especialmente no caso do etanol, usinas sucroalcooleiras que carregam dívidas antigas e com custo mais elevado terão dificuldades para resolver esses passivos, o que poderá resultar em mais pedidos de recuperação judicial no segmento.

Essa é a avaliação de Ricardo Knoepfelmacher, presidente da consultoria RK Partners, que prevê ao menos mais dois pedidos no curto prazo e não descarta que mais uma dúzia de unidades siga o mesmo caminho “no próximo trimestre”.

Segundo o assessor financeiro, que participou ontem de evento promovido pelo escritório Santos Neto Advogados na capital paulista, 23 usinas já entraram em recuperação judicial neste ano. Esse número foi “engordado” pelo pedido da Atvos, braço do Grupo Odebrecht que conta com nove unidades. No total, como já informou o Valor, são 93 usinas protegidas de credores na Justiça no país.

Para as empresas que veem na venda de ativos uma saída de curto prazo, Knoepfelmacher avaliou que há potencial para alguma recuperação do valor das usinas, mas ainda limitado. Ele não enxerga uma recuperação do valor dos ativos para o patamar observado na época de maior expansão do segmento, há alguns anos, quando ocorreram operações de aquisição equivalentes a US$ 100 por tonelada de cana de capacidade instalada na indústria.

“Aquela época acabou”, disse o assessor. Enquanto negociações mais recentes de usinas consideradas “saudáveis” chegaram a ser fechadas por entre US$ 70,00 e US$ 80,00 por tonelada de cana, no caso das empresas em dificuldades, o valor das operações pode cair para entre US$ 10,00 e US$ 15,00. “Depende se o canavial está muito depauperado, se a usina é muito antiga… de uma série de questões”, observou Knoepfelmacher.

Essa queda decorre não apenas da depreciação das usinas, mas também do excesso de ativos em oferta em tempos de poucos investidores interessados.

O fundo americano Amerra, que tem US$ 700 milhões em ativos no agronegócio em geral no Brasil, dentro de uma carteira global de mais de US$ 2 bilhões, e que realizou alguns aportes em usinas brasileiras há dois ou três anos, é um deles, e as oportunidades que podem surgir o animam.

Ana Paula Gambogi, diretora da área jurídica do Amerra, disse ao Valor, durante o mesmo evento, que o fundo está estudando mais de um caso de usinas que vão a leilão dentro de processos de recuperação judicial, mas que também considera outras oportunidades.

“Temos investimentos sendo mapeados (no agronegócio) para os próximos dois anos e eles incluem oportunidades no segmento sucroalcooleiro”, disse a executiva. Ela observou que os valores de um ativo podem variar muito de caso para caso, mas que, apesar da resistência da maior parte dos usineiros nas negociações, “muitas vezes a decisão não é mais dele”.

“Pode variar de US$ 15,00 a US$ 60,00” por tonelada de cana de capacidade, disse Gambogi. Quanto às negociações com bancos a respeito das condições das dívidas existentes, Knoepfelmacher, que assessora diversas empresas do segmento, entre elas a Atvos, está mais otimista. “Hoje os bancos querem conversar. Mas está começando agora, principalmente com as usinas melhores e maiores”.

O assessor financeiro ressaltou, porém, que as usinas em dificuldades precisam saber o momento de entrar em recuperação para não perderem o acesso a um crédito que poderia financiar o capital de giro, que geralmente é elevado na atividade.

“O melhor momento de entrar é no início da safra, quando há geração de caixa”, defendeu Knoepfelmacher. Mas, segundo ele, esse cenário não significa que o segmento como um todo passará por mais dificuldades. “O setor de açúcar e álcool passou por um ciclo muito ruim e acreditamos que as coisas serão bem melhores daqui para frente”.

 

Valor Econômico

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