Diretores da SNA avaliam propostas do governo para amenizar crise cafeeira

Nesta quarta-feira, 7 de agosto, a presidente Dilma Rousseff anunciou um pacote de medidas emergenciais de apoio aos cafeicultores para amenizar a crise no setor. Nos últimos meses, de acordo com levantamento feito pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), os preços pagos aos produtores pela saca de 60 quilos têm ficado abaixo dos custos de produção e do preço mínimo.  Na safra 2012/2013, os preços do grão caíram, em média, 24% nas principais regiões produtoras.

O governo pretende lançar o leilão de Contratos de Opção de Vendas de café ainda neste mês de agosto, com exercício de opção para março de 2014, com aporte de recursos acima de R$ 1 bilhão. A decisão atende a 3 milhões de sacas de 60 quilos de café. O preço para contratos do leilão é de R$ 343.

Durante seu pronunciamento em evento de inauguração do Campus Avançado da Universidade Federal de Alfenas, em Varginha (MG), a presidente acrescentou que a ação prevê também a liberação de recursos para financiar a estocagem e a política de preço mínimo para compra do grão, de R$ 307 a saca. Sem dar detalhes sobre a a quantidade da compra do café e valores para financiamento, Dilma destacou que, com a iniciativa do governo, “evitamos que os pequenos produtores que precisam do recurso no curto prazo vendam sua produção a preço vil”.

Ruy Barreto Filho

Segundo o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e produtor de café Ruy Barreto Filho, as medidas, que já eram esperadas pelo setor, são fundamentais para melhorar no curto prazo a situação dos cafeicultores. “O volume de 3 milhões de sacas representa mais de 10% da produção anual, uma quantidade muito considerável, o que faz essa medida ser extremamente forte. Fora o financiamento de custeio e políticas públicas que coloquem o preço de mercado rentável, acredito que essa seja a melhor solução imediata”, opina Barreto Filho.

José Milton Dallari, especialista em café e também diretor da SNA, acredita que as ações amenizam de imediato os prejuízos que o setor está enfrentando, mas deve ser analisada com atenção, principalmente em relação ao destino que o governo dará ao produto. “Se o governo der uso para esse café, sem deixá-lo parado no estoque especulativo, como foi feito em outros momentos, será muito importante para produtores no longo prazo. O governo precisa, agora, decidir se quer continuar com o país na pauta das exportações ou não”, avalia Dallari.

Queda nos preços

Há alguns meses, o setor enfrenta uma queda nos preços de comercialização de sacas de café. Mais de 40% da safra mineira já foi colhida. O estado, que é o principal produtor do país, responsável por mais da metade de todo o café brasileiro produzido, está acompanhando a cotação de preços abaixo do custo operacional. Segundo o boletim Custos e Preços, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a saca de 60 quilos têm sido negociada abaixo dos custos de produção e do preço mínimo, de R$ 307.

Ruy Barreto Filho explica que a expectativa era de que o setor tivesse preços bons para os próximos anos, mas, após a crise mundial, os registros foram de queda. “Os preços e o setor vinham bem há dois anos. Tínhamos um aumento de consumo e as expectativas falavam em pelo menos dois anos de firmeza nos preços, mas, de dez meses para cá, a queda foi grande. Ninguém esperava essa crise mundial e, em consequência, uma crise de consumo.”

José Milton Dallari. Foto: Nilton Bastos

Dallari observa que a queda na qualidade dos produtos brasileiros também motivou a crise da cultura. “A queda significativa do consumo no mercado interno foi motivada pela redução da qualidade do produto, após pressão exercida pelas próprias torrefadoras do Brasil, que passaram a aumentar a quantidade de café robusta nos blends com o arábica comercializados no mercado interno.”

Soluções no longo prazo

O país detém a maior produção mundial de café, mas não apresenta crescimento e destaque no produto final como deveria. Barreto Filho explica que a indústria mundial de solúvel cresce 2,5% ao ano e a brasileira está estagnada há dez anos. “Deixamos de participar desse crescimento porque não há incentivo do governo. Hoje, falta vontade política para o setor. Se o Brasil se unir ao Vietnã, em uma política única de abastecimento, conseguiríamos dominar o mercado e controlar a bolsa, a oferta e a demanda. Os vietnamitas precisam do dinheiro, pois consomem apenas 5% do que produzem e vivem da exportação. Isso serve para a Indonésia também”, sugere Barreto.

O Vietnã é um dos principais competidores brasileiros na produção de café. Segundo Dallari, a produção vietnamita é subsidiada e atinge o mercado internacional com preços muito abaixo dos praticados no Brasil. “No Vietnã, o sistema é todo estatizado. O governo viabiliza a terra, a planta, o adubo, todos os custos do processo para utilizar a mão de obra que tem no país. Então, o custo não pode nem ser comparado ao do Brasil, que tem uma produção extremamente tecnológica e profissionalizada. O governo precisa enxugar um pouco o mercado, comprando alguma coisa e recompondo em parte os estoques estratégicos para poder competir no mercado internacional de forma mais equilibrada”, sugere Dallari.

O atraso no repasse dos recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), da ordem de R$ 3,18 bilhões, é apontado como um dos fatores que agravou a situação do setor cafeeiro. “As medidas normalmente são tomadas fora de prazo, fora de tempo. Nós estamos praticamente no final da colheita e ainda não temos dinheiro para custeio e para comercialização. Nós precisamos desses recursos no mês de março, já estamos em agosto e não recebemos nenhuma verba do governo”, cobra Dallari.

Uma das alternativas para colocar o país com maior competitividade no mercado é a garantia de recursos, para produtores, que financiem a compra e a venda do café. Os diretores destacam a necessidade de investimentos do governo visando políticas que projetem resultados no longo prazo. Para Ruy Barreto Filho, “o governo precisa apoiar o setor, caso contrário ele será arrasado no país. E isso se faz com políticas públicas de incentivo, estoques estratégicos e programas que tragam a liberação de recursos em tempo hábil para comercialização e custeio da produção.”

Por Equipe SNA/RJ, com informações do Mapa

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