Cresce a cada ano a relação do setor governamental com o setor privado no âmbito das propostas de soluções para investimentos e melhorias nos setores de transporte, logística e armazenagem, verdadeiros gargalos da agricultura moderna.
Um dos projetos que pretendem atender essa demanda – em fase de elaboração pela UFRJ, com a parceria do Ministério da Ciência e Tecnologia – prevê a criação dos Centros de Integração de Logísticas. O objetivo é promover a inovação da armazenagem e utilizar este conceito com o propósito de buscar uma solução para o setor.
“Podemos ganhar com a adoção do conceito de centros de concentração e convergência logística. Os transportes não somente visam a organizar o processo de desenvolvimento no território, como servem de estímulo para o comportamento dos mercados e seus efeitos positivos”, analisa o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura Paulo Protásio, que acredita no potencial da proposta para atrair o apoio da Embrapa e o interesse do Ministério da Agricultura.
Avanços
“Os recursos precisam de um alvo concentrado e alguns portos devem ser priorizados. Eles precisam começar a acontecer”, assinala Protásio, destacando o de Santos.
“O porto de Santos sempre esteve na liderança do ranking de portos para atender o Brasil como maior produtor de cana-de-açúcar e maior exportador mundial de açúcar a granel e álcool, além de mais de 80% da produção mundial de laranjas que ocorre no Brasil. Temos de lembrar que a capacidade de processamento da laranja para suco concentra-se no Estado de São Paulo, mais especificamente nas cidades de Matão, Limeira e Catanduva. Por conta da proximidade destas cidades com o porto de Santos, o complexo portuário santista é responsável por 97,7% de toda a exportação brasileira de suco concentrado, suco natural e, também pellets de laranja”, explica o diretor da SNA.
No caso do Rio, Protásio observa alguns avanços logísticos. “O Rio está duplicando sua operação portuária na Baía de Guanabara, implanta um novo porto entre as iniciativas do grupo do Eike Batista e constrói o seu anel rodoviário, integrando ainda mais Sepetiba à eficiência logística.”
No entanto, para o diretor, o maior destaque identificado no estado é a realização do Plano Estratégico de Logística e Cargas (PELC). “Esta iniciativa produz uma análise do papel que o Rio tem como importante elemento do eixo São Paulo – Minas Gerais, constituindo uma parte significativa da produção, distribuição e consumo de alimentos no país. O projeto em curso acabará por mostrar a relevância estratégica do Rio como verdadeira rótula da logística produtiva nacional e internacional”, analisa o diretor, que também defende outras melhorias: “Para fechar com uma proposta século 21, deveria ser criada em uma das áreas do Porto Maravilha um complexo integrado de informação e comunicação, voltado para servir a região como sede da plataforma logística. O desenho está pronto na prancheta há mais de 20 anos e, se não for aproveitado agora, não o será nunca mais. Para o Rio é agora ou nunca”, ressalta.
Perspectivas
O Projeto Alimentos do CGEE/Embrapa, que serviu de base para o 14º Congresso da SNA, em 2013, trouxe um quadro esclarecedor do setor logístico. Entre vários aspectos abordados, uma enquete no site da revista Globo Rural mereceu especial atenção, ao revelar que somente 10% dos entrevistados acreditam que o Brasil vai melhorar sua infraestrutura de transporte e logística.
“Todos sabem da falta de gestão do lado do governo, mas nem todos sabem que o aumento das exportações está mudando sua saída e direção, do sul para o norte do país. O que sabemos é passado, muito pouco do futuro. Mas, no transporte e armazenagem, somente o futuro interessa”, declara Protásio.
De acordo com a enquete da Globo Rural, poucas pessoas acreditam que a proposta do governo em relação aos investimentos em infraestrutura alcançará êxito. Além disso, a pesquisa mostrou que a reestruturação do Brasil no tocante à sua geografia e desenho de logística – direcionando sua bússola para o lado norte – irá favorecer, em especial, a produção e exportação de grãos.
Na opinião do diretor da SNA, em logística é preciso mais que investimentos. “Para ganhar velocidade e promover mudança, não será suficiente apenas a promessa de recursos ou a abertura para o setor privado, mas a adoção e incorporação de novos valores na gestão e a integração de modais que possam atrair volume de capital e iniciativas”, conclui.
Números
Os investimentos privados no setor portuário brasileiro devem chegar a R$ 36 bilhões ao longo dos próximos três anos. O anúncio foi feito na última semana pela Secretaria de Portos do governo. Por outro lado, dados incluídos na prestação de contas das empresas estatais – divulgada pelo Sistema de Informações Estatais do Ministério do Planejamento – indicam que os portos federais brasileiros gastaram apenas 28,5% dos recursos previstos pela União, entre 2000 e 2013. Ou seja, deixaram de gastar 71,5% dos valores destinados a eles.
Por Equipe SNA/RJ