Os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS), divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam uma elevação de mais de 100% na utilização de defensivos agrícolas no campo, entre os anos de 2000 e 2012. Em 2002, ano de menor uso da série, a comercialização do produto era de 2,7 quilos por hectare, enquanto em 2012 foi de 6,9 kg/ha. Os dados preocupam o setor agropecuário que procura, cada vez mais, produzir com mais sustentabilidade.
“Esse incremento de consumo é um somatório de alguns fatores preocupantes: primeiro, o desequilíbrio ambiental causado, principalmente, pela prática da monocultura e pela ausência de vegetação nativa, que deveria servir de abrigo para os inimigos naturais das pragas das lavouras; segundo, o desequilíbrio nutricional das plantas, em função do apelo por produtividades crescentes, com a aplicação de elevadas doses de fertilizantes químicos”, pontua o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura Alberto Figueiredo.
Ele ainda ressalta que o terceiro fator para o aumento do uso de agroquímicos nas lavouras é o “o precário conhecimento, por parte da maioria dos produtores, em relação aos sintomas a serem observados, às dosagens a serem empregadas, à formulação dos produtos químicos que são utilizados”.
“Por última, temos uma ausência de fiscalização quanto à exigência de receituário agronômico, e também aos períodos de carência para consumo dos produtos agrícolas após as aplicações de defensivos agrícolas.”
De acordo com o IDS, a região Sudeste alcançou maior comercialização de defensivos agrícolas por unidade de área (8,8 quilos por hectare), seguida pelo Centro-Oeste (6,6 kg/ha). Entre os Estados, os maiores valores foram observados em São Paulo (10,5 kg/ha), Goiás (7,9 kg/ha) e Minas Gerais (6,8 kg/ha); e os menores ocorreram no Amazonas e Ceará, com menos de 0,5 kg/ha.
“A região Sudeste tem alta concentração de produção de legumes e hortaliças, que demandam fortemente o uso de defensivos agrícolas, daí o consumo elevado. Como são culturas de ciclo curto e plantadas em elevada concentração por área, dependem de várias aplicações durante o desenvolvimento dessas culturas”, comenta o diretor da SNA.
FALTA DE CONHECIMENTO
Em sua opinião, o agricultor ainda compra o produtos agropecuários, sem avaliar os riscos para a própria saúde e para os alimentos que produz e irá comercializar.
“Na tomada de decisão sobre a compra de produtos químicos para controle de pragas ou doenças nas culturas plantadas, podemos dizer que existe uma cadeia de irresponsabilidades e, porque não dizer, de ignorância. Por falta de fiscalização adequada, as lojas comercializam os produtos que são solicitados, quando muito, indicam similares por questão de preço ou disponibilidade.”
De acordo com Figueiredo, “são raríssimas as orientações técnicas dadas aos usuários (produtores) no que diz respeito às dosagens, frequências de aplicação e, inclusive, equipamentos de proteção individual ou adequados para as aplicações”.
“Considerando a inexistência de coleta constante de amostras de produtos agrícolas para pesquisa de presença de resíduos de princípios ativos dos defensivos utilizados, todos relaxam. Os consumidores, em sua grande maioria, por desconhecerem as consequências danosas para a saúde, relativamente à ingestão desses produtos, também não exercem pressão sobre os órgãos públicos responsáveis.”
Para Figueiredo, o poder público precisa apoiar e apresentar propostas sérias de produção sustentável. “A agricultura e a pecuária orgânicas já demonstram essa viabilidade, ao mesmo tempo em que a ação do poder público, em relação à análise mais rigorosa e frequente dos alimentos consumidos, possa resguardar os interesses dos consumidores a respeito dos sérios prejuízos à saúde decorrentes da presença de certos princípios ativos e de doses superiores às permitidas nos alimentos que consomem.”
Por equipe SNA/RJ