Incêndios frequentes no sul da Amazônia alteram, severamente, não só a estrutura e a composição da floresta, mas também a fauna, especificamente as comunidades de formigas. No Dia Nacional de Defesa da Fauna, comemorado em 22 de setembro, é importante informar que essa alteração é preocupante, porque indica que outros grupos de animais são potencialmente afetados de maneira similar e que várias funções ecossistêmicas e interações biológicas podem ser prejudicadas.
Mudanças no uso da terra, juntamente com eventos climáticos extremos, tornam as florestas tropicais úmidas mais inflamáveis. Estes incêndios podem degradar severamente a floresta e, no longo prazo, convertê-la em savanas derivadas – florestas degradadas pela ação humana – caracterizadas por uma vegetação pouco diversa, com dominação de gramíneas e árvores espaçadas.
A informação é de um estudo publicado na revista Biological Conservation, por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Charles Darwin University, da Austrália.
O grupo de pesquisadores investigou quais os impactos sobre a fauna utilizando formigas como modelo de estudo, já que estas são extremamente abundantes, importantes ecologicamente e bioindicadoras, o que significa que mudanças observadas nestas comunidades refletem alterações que provavelmente também ocorrem em outros grupos da fauna.
“Nestas savanas derivadas, houve uma invasão de espécies de formigas que são típicas de áreas abertas, ao passo que as espécies de florestas tornam-se menos diversas e abundantes nestes ambientes. Essa troca de espécies levou a uma modificação na composição de toda a comunidade de formigas que habitam as savanas derivadas”, informa um dos autores do estudo, Lucas Paolucci, pesquisador pós-doutor do Ipam e pós-doutorando em Ecologia na UFV.
Os pesquisadores também concluíram que, assim como ocorre para a vegetação, um único incêndio não é suficiente para desencadear a conversão da fauna de formigas.
O TRABALHO
O trabalho foi realizado na Fazenda Tanguro, em Mato Grosso, local onde o Ipam desenvolve pesquisas sobre a interação entre mudanças climáticas, floresta e agricultura. O experimento aconteceu em uma área de 150 hectares dividida em: queimada anualmente entre 2004 e 2010 (exceto 2008), queimada trienalmente e área não queimada que serviu como controle.
Ao todo foram coletadas 187 espécies diferentes de formigas, 113 na área controle, 94 na área queimada anualmente e 121 na área queimada trienalmente. Com o experimento, os pesquisadores atestaram que nenhuma espécie típica de savana foi encontrada na área controle, enquanto que estas espécies ocorreram 61 vezes nas áreas queimadas. Além disso, teve uma queda de 50% na abundância de espécies típicas de floresta nas áreas queimadas.
Pelas características únicas que as formigas carregam, é provável que alguns dos seus serviços ecossistêmicos, como dispersão de sementes e predação de insetos herbívoros, sejam impactados nestes novos ecossistemas.
“Nosso estudo reforça a necessidade da prevenção de incêndios recorrentes, evitando assim uma conversão ampla da biodiversidade das florestas tropicais e uma perda de serviços ecossistêmicos chave”, ressalta Paolucci.
Fonte: Ipam com edição d’A Lavoura