Destruição de safra de laranja por furacão nos EUA abre mercado para o Brasil

A destruição dos pomares de laranja da Flórida, devastados pelo furacão Irma em meados de setembro, poderá beneficiar os produtores brasileiros. Para suprir a demanda, o mercado americano deve importar mais suco do Brasil, o maior produtor mundial, segundo especialistas consultados pelo G1.

O furacão atingiu a Flórida no último dia 10, quando estava na categoria 4. Inundou os bosques e arrancou frutas das árvores antes de elas estarem prontas para ser colhidas. A chegada do Irma provocou uma alta de 6,2% em uma semana no preço do suco na Bolsa de Nova York, considerando os contratos com vencimento em novembro.

A colheita da safra americana de laranja começou no domingo (1º) e termina em 30 de setembro de 2018.

O impacto do furacão ainda não foi exatamente mensurado, mas haverá perdas grandes, estima o diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto. “O furacão passou antes das estimativas da safra 2017/2018, quando a gente vai poder quantificar a perda”, declara. A primeira contagem deve sair em meados do mês de outubro.

Segundo Maurício Mendes, engenheiro agrônomo e membro do Grupo de Consultores em Citros (GCONCI), os pesquisadores da Universidade da Flórida têm apontado quebra de 50% a 70% da safra na região.

Impacto no Brasil

O mercado americano já foi o principal consumidor do suco brasileiro, mas perdeu lugar para Europa. Agora, com o furacão, o mercado dos Estados Unidos deve demandar mais produto brasileiro. A Citrus BR afirma que, independentemente do tamanho da perda, os EUA vão precisar importar mais suco do Brasil.

“Os Estados Unidos voltam a ter um protagonismo maior porque a produção deles deve ser comprometida. Mesmo que haja diminuição no consumo, os EUA vão precisar comprar mais laranjas de nós”, disse Mendes. O Brasil tem uma participação de 23% no suco de laranja consumido pelos americanos, segundo a CitrusBR. E, diante desse cenário, ganha uma nova possibilidade de venda.

“Nós somos o principal fornecedor de laranja dos Estados Unidos e um dos únicos que consegue suprir essa demanda. Se isso acontecesse no ano passado, quando os estoques estavam baixos, o Brasil não teria oferta suficiente”, disse Fernanda Geraldini, especialista em citricultura e analista de mercado da Esalq (Escola Superior de Agronomia “Luiz de Queiroz” da USP).

Apesar da alta dos preços no mercado futuro, o produtor brasileiro não venderá o produto por valores maiores, necessariamente. “O mercado dos Estados Unidos é muito voltado para si mesmo e 70% do que a gente vende vai para a Europa”, disse o diretor da CitrusBR. “Por conta disso, apesar da alta da cotação da laranja no mercado americano, o suco brasileiro não será necessariamente valorizado”.

Supersafra

O potencial crescimento das exportações para os EUA chega em boa hora para os produtores brasileiros. A safra nacional de laranja de 2017/2018 será uma das maiores dos últimos tempos e deve chegar aos 374 milhões de caixas, com um crescimento de 52,5% com relação à anterior.

Segundo a CitrusBR, é uma safra bastante robusta, ainda que a anterior tenha sido ruim. Essa safra será suficiente para elevar os estoques que vinham baixos.

Queda no consumo

Antes da passagem do furacão, a safra de laranja da Flórida já vinha tendo problemas sérios com o greening, uma bactéria que atinge às plantações. E isso vinha pressionando os preços da laranja nos EUA pra cima.

Na medida em que a produção e a demanda por suco vêm caindo, o valor na gôndola cresce. E isso não é bom para o produtor. O risco de uma alta brusca de preços é que o consumidor troque o suco por outra bebida, como chás. “O preço já vem subindo e, com o furacão, isso se acentuou e pode fazer o consumidor buscar outras bebidas”, disse Fernanda.

“Nos Estados Unidos, a cultura de tomar suco de laranja está muito associada com a citricultura da Flórida. E sempre que acontece um fenômeno desse, você distancia o consumidor americano do produto”, disse Netto.

Os produtores da Flórida usam o apelo de produto nacional para vender suco de laranja aos americanos. Com a importação do produto, esse argumento será perdido e pode prejudicar o mercado no longo prazo.

Apesar de o furacão aumentar a demanda por suco brasileiro nos EUA no curto prazo, o diretor da CitrusBR disse que seria muito mais positivo para os produtores nacionais se essa encomenda viesse do aumento de consumo em vez da quebra da safra. “O impacto no mercado vem pelo pilar da oferta. Você dá um corte na oferta e alguém tem de compensar.”

 

Fonte: G1 Agro

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp