Desafios e potencial da produção orgânica são debatidos em São Paulo

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Amarjit Sahota, do Organic Monitor: para os latino-americanos o melhor é exportar para os Estados Unidos, porque são 50 estados, ou seja, somente uma porta de entrada e de negociações

 

Amarjit Sahota, presidente do Organic Monitor, chamou a atenção para a proliferação dos eco-rótulos no mercado de produtos orgânicos. Ao falar sobre o potencial de aberturas desse mercado para América Latina durante a 1ª edição latino-americana do Sustainable Foods Summit (Cúpula de Alimentos Sustentáveis), realizada em São Paulo, Sahota disse que, atualmente, são mais de 200 rótulos para comidas e bebidas orgânicas e que existem produtos que têm de cinco a seis rótulos. E questionou: “Será que conseguiremos ter um só eco-rótulo?”.

Para o coordenador do projeto Organics Brasil, Ming Liu, existe o perigo da banalização do selo. Segundo ele, “se existe o selo oficial do segmento, do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), não há necessidade de mais. De repente, aparece outro que diz que tal produto é orgânico, porém um orgânico que envolve uma situação eco-social extra para uma determinada região e, assim, surge mais um selo. Não se pode classificar um produto só porque ele tem na sua composição um ingrediente que corresponde a 1% da sua classificação como orgânico”.

Porém, Liu diz que o Brasil precisa adotar um selo para o mercado exterior, para que os consumidores consigam visualizar que existe um trabalho sério de rastreabilidade. “O consumidor se sente mais confiante. Por outro lado, não sei até que ponto o consumidor brasileiro entende o significado do selo na sua essência – a certificadora foi à propriedade, viu e comprovou como o agricultor estava plantando. No momento em que o brasileiro entender que o selo não é somente uma fiscalização, mas um processo de acompanhamento e melhoria, ele vai entender que o produto com o selo terá um custo maior do que aquele que não tem”, acrescenta.

Alexandre Harkaly, diretor executivo IBD Certifications, explicou que, no Brasil, pode-se ter acesso ao mercado de orgânicos de três formas. Pela venda direta ao consumidor, através de associações ou grupos de produtores, que conseguem um registro no Mapa que, porém, não concede o direito de usar selo. A segunda forma é a certificação participativa, através de cooperativas ou associações, monitoradas pelo Mapa e podem usar o selo para o mercado interno. Esse sistema não é aceito internacionalmente. Finalmente, a terceira forma, que é a certificação por auditoria, também chamada de auditoria de terceira parte, realizada por empresas certificadoras, que qualifica o produto para o mercado externo e para o externo.

INFORMAÇÃO

Para Harkaly o consumidor precisa ser mais bem informado, saber da existência dos produtos orgânicos, das suas vantagens para a saúde e para o meio ambiente. Já o produtor, diz, precisa, além de mais acesso às formas de produção, estar mais bem assessorado. Em sua opinião, “acesso é uma questão financeira, assessoria é uma questão técnica”. O orgânico, argumenta, precisa de técnica, adubação, manejo de fertilidade, controle biológico, manejo de pragas, das várias estratégias que existem para controlar pragas e doenças,equilíbrio ecológico.
Melhor assessorado, argumenta, o produtor orgânico passa também a ser um administrador, alguém que precisa entender do mercado e encontrar as melhores formas de vender seu produto. “Ele precisa ir de encontro ao consumidor que quer esse produto. Ele só vai conseguir tudo isso se tiver gente, estrutura s trabalhando para fazer essa ponte. O que é necessário realmente é o aumento da consciência do consumidor sobre esse tipo de produção e suas vantagens”, acrescenta o diretor executivo IBD Certifications.

OPORTUNIDADES

Faltam produtos para atender a demanda global por orgânicos. Cada vez mais o consumidor procura por alimentação mais saudável, livre de produtos químicos e que sejam produzidos de forma sustentável, principalmente no que diz respeito ao meio ambiente e ao social. Dentro desta visão, Amarjit Sahota apresentou as oportunidades para a América Latina no mercado mundial de orgânicos, através dos resultados de estudos realizados pelo Organic Monitor, entidade que preside, em 2012.

Segundo os estudos, são 1,4 milhões de produtores no mundo, chegando a um total de 37,5 milhões de hectares a área ocupada pela produção orgânica em todo o planeta. A Oceania é líder em área cultivada, com 32% do total, seguido pela Europa (30%) e pela América Latina (18% – 6,8 milhões de ha).

De acordo com Amarjit Sahota, os Estados Unidos, Europa (45% das vendas globais), Japão e Canadá são considerados os maiores mercados consumidores. Nos Estados Unidos, aponta o estudo, os orgânicos movimentaram US$ 32 bilhões, sendo que no mercado de alimentos norte-americano os orgânicos respondem por 3 a 4% e não há produção para atender a demanda. . “Falta produto e a demanda é alta, importam da Europa, América Latina e África”, diz Sahota, que ainda mostrou dados de uma pesquisa com os consumidores norte-americanos, indicando que 14% não compram orgânicos; 65%, ocasionalmente; e 21% compram orgânicos.

Já o mercado europeu movimentou US$ 29 bilhões e os orgânicos ocupam 2 a 3% do mercado de alimentos. Os maiores consumidores são Alemanha, França, Reino Unido e Itália. Porém, explica o presidente do Organic Monitor, o maior consumo per capita está na Suíça e nos países Nórdicos, destacando-se Dinamarca e Suécia (frutas, verduras, laticínios e carne). Segundo ele, os produtos in natura são os preferidos dos europeus.

Sahota acentuou que para os latino-americanos o melhor é exportar para os Estados Unidos, porque são 50 estados, ou seja, somente uma porta de entrada e de negociações. Já para a Europa, por se tratar de um continente, significa ter que exportar para cada país individualmente, são várias portas de entrada e negociações.

INDÚSTRIA

Segundo o Instituto Biodinâmico (IBD), é possível que o Brasil tenha quase 1 milhão de hectares em produção orgânica e 95% dessa área é ocupada por pequenos e médios produtores. De acordo com Ming Liu, atualmente, a agricultura familiar brasileira envolve praticamente 90 mil pequenos agricultores. Por isso, para a produção chegar, inclusive à indústria, além do apoio técnico e financeiro, o agricultor orgânico precisa ter espírito associativista, trabalhar em conjunto através de uma cooperativa ou associação, caso contrário ele nunca chegará à produção de grande volume e, consequentemente à indústria.

“O pequeno depende, talvez, de uma entidade como a Emater, ou o Sebrae, ou uma outra que o conscientize de que ele precisa se juntar e entender essa dinâmica do mercado em relação à sua atividade e a grande indústria. Já existem closter de produtores pequenos que conseguem atingir esse nível de estruturação e atender esse mercado”, diz o coordenador do projeto IPD Organic Brasil.

Hoje, no Brasil, de acordo com Liu, 60% da produção de matéria prima, produtos in natura, são destinados ao mercado externo e 40% a o mercado interno. Já 80% dos produtos manufaturados são para atender o consumidor dos brasileiros.

PECUÁRIA

A palavra desafio foi uma das mais pronunciada durante a 1ª edição latino-americana do Sustainable Foods Summit. Para o presidente do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), Eduardo Bastos, o grande desafio é a constatação e apelo da FAO ao afirmar que será necessário, até 2050, aumentar em 70% a produção de alimentos e que desses 70%, 50% serão produzidos na América Latina, que passar a ser o principal fornecedor de alimentos para o mundo.

Bastos ressaltou que a pecuária é o principal doador de área para a expansão da agricultura e, “ao mesmo tempo, consegue, com a intensificação mínima, continuar entregando proteína animal de altíssima qualidade para o mundo que, cada vez demanda mais esse tipo de alimento”.

Para ele, o Brasil está bem posicionado com relação à proteção ambiental, pois tem o Código Florestal “mais eficiente do mundo”. Dentro da porteira, garante,” fazemos um trabalho excelente, cada vez mais e melhor. O problema está no pós porteira, falta infraestrutura, escoamento, problemas portuários, problema logístico. Acredito que, através do esforço multilateral , envolvendo vários atores, consigamos amenizar todos esses problemas e fazer a coisa rodar na velocidade que a agropecuária precisa. Não dá para esperar 50 anos para fazer uma grande mudança, precisamos mudar nos próximos 10 anos. Tem que ser agora”, finalizou.

A Sustainable Foods Summit reúne as organizações mais influentes na área de sustentabilidade. O evento já é reconhecido em âmbito internacional como referência em debates sobre produção e comércio de produtos sustentáveis. O foco principal são as green commodities, melhores práticas de marketing e embalagem sustentável. Os temas principais desta primeira edição na América Latina foram produtos sustentáveis, melhores práticas de marketing, embalagens verdes e, principalmente, desafios e oportunidade para a América Latina.

 Por Equipe SNA/SP

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