Debates sobre os desafios do agronegócio marcam o Global Agribusiness Forum

GAF
GAF reuniu lideranças do agronegócio em São Paulo

 

“A segurança alimentar passa, necessariamente, pela América Latina e, principalmente, pelo Brasil”, salientou o ministro da Agricultura, Neri Geller, na abertura do Global Agribusiness Forum, evento realizado nos dias 24 e 25 de março, em São Paulo. Geller falou sobre o andamento de algumas ações da Pasta.

“A logística está avançando de forma lenta. Além disso, estamos pedindo agilidade na liberação dos defensivos”, salientou ele, acrescentando que, com um trabalho pautado em “informações convergentes”, “os resultados práticos têm que parecer”.

O novo titular da Agricultura destacou que sua gestão tem foco forte na comunidade internacional, na quebra de barreiras e na abertura de mercados. O novo Plano Safra, explicou, deverá ter mais recursos para armazenagem, um dos gargalos do agronegócio brasileiro. Na temporada 2013/2014, já foram liberados R$ 2,9 bilhões para esse segmento, de um total de R$ 4 bilhões orçados.

“A meta é financiar armazenagem para suprir o déficit de 40 milhões de toneladas e aumentar a capacidade prevendo o crescimento futuro da produção, para 70 milhões de toneladas de grãos”, calculou.

Representando o governador Geraldo Alckimin, Monika Bergamaschi, secretária da Agricultura do Estado de São Paulo, citou as implicações do crescimento da população e da produção de alimentos.

“Temos que enfrentar tributação, burocracia, logística, armazenagem, portos, sanidade. Há necessidade de crescer de modo sustentável, enfrentando tabus, ideologias, ‘achismos’, preconceitos e miopia”, disse.

Futuro da tecnologia

“Seríamos capazes de produzir 400/500 milhões de toneladas dos principais grãos sem incorporar novas áreas se todos os produtores usassem tecnologia”, afirmou Geraldo Bueno Martha Junior, pesquisador da Embrapa, em palestra de abertura do fórum. Ele defendeu a necessidade de acelerar os trabalhos de inteligência para auxiliar na tomada de decisão com rapidez.

 

Geraldo Bueno Martha Junior
Geraldo Bueno Martha Junior diz que o Brasil precisa investir mais em pesquisa

 

Em 20 anos, de acordo com o pesquisador, a distribuição da população mundial não será sincronizada com a capacidade de expansão de produção agrícola.

“O aumento de 1,46 bilhão de pessoas até 2033 será puxado por Ásia e África”, previu.

“Grande parte da demanda será suprida via comércio. Os desafios futuros para a agricultura podem se tornar grandes oportunidades para as cadeias produtivas da agropecuária”, apontou.

Na opinião do pesquisador, o Brasil já fez bastante em sustentabilidade, mas precisa investir no campo e avançar muito mais. “Temos de promover a integração para ampliar a inclusão produtiva e reduzir a pobreza no meio rural”, observou ele, que enfatizou a importância de se investir mais em pesquisa. “A tecnologia já responde por 68% do produto agropecuário”, destacou.

Desafios

Na visão do presidente do grupo argentino Los Grobo, Gustavo Grobocopatel, o futuro da agricultura mundial está vinculado aos cuidados com a água. “Nesse aspecto, a América do Sul e o Brasil estão com os melhores fundamentos do mundo”, observou durante sua apresentação sobre os desafios da expansão da classe média.

Para ilustrar, ele disse que produzir um quilo de bife bovino demanda cerca de 15.500 litros de água e uma laranja requer 50 litros de água. 
O presidente do Los Grobo acrescentou que a revolução econômica virá da China, onde o crescimento da classe média vai alterar o quadro de oferta e demanda mundial.

“Nos próximos 10 anos, o crescimento da classe média vai aumentar ainda mais”, estimou o executivo, que apontou a necessidade de revisão de hábitos de consumo, segurança alimentar, novas formas de governo global e trabalho de forma integrada.

Já o vice-presidente da New Holland, Alessandro Maritano, chamou a atenção para a necessidade do desenvolvimento de novas tecnologias e práticas que maximizem o uso da terra. Nessa linha, ele mencionou o cultivo de duas safras no Brasil e a integração lavoura-pecuária, além de novas ferramentas mais sustentáveis em termos de maquinários.

Segundo Sergio Rial, presidente do Grupo Marfrig, a estabilidade econômica e a forte migração da população das classes D/E para C/B nos últimos anos alterou o ambiente social dos negócios no Brasil.

“O perfil do consumo de alimentos passa por profundas transformações”, afirmou.

Nesse novo cenário, ela lembrou que o importante não é como consumir mais, mas informar, comunicar. “Comer melhor, atender a mercados distintos e trazer na embalagem a realidade nutricional e sustentável dos produtos são alguns desafios do crescimento da classe média”, apontou. “Hoje a indústria não vende produto, vende história.”



Integração comercial

 

Ao lado de Roberto Azevêdo, Delfim Netto
Ao lado de Roberto Azevêdo (à dir), Delfim Netto reforça que ‘o comércio exterior é a alavanca para construir o desenvolvimento econômico’

 

“O comércio exterior é a alavanca para construir o desenvolvimento econômico”, disse Antonio Delfim Netto, moderador do debate sobre os desafios da integração comercial na agricultura, abordado pelo embaixador Roberto Azevêdo, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Segundo Delfim Netto, que destacou a importância da Embrapa, o setor agrícola é o que demonstra mais eficiência no Brasil. “Precisamos ter a ideia clara de que o setor privado não funciona sem um Estado eficiente e forte, e o Estado não é capaz de fazer nada sem o suporte do mercado.”

Em sua apresentação, Azevêdo reforçou que “a agricultura será um dos pilares centrais das negociações em Genebra, junto com indústria e serviços”. Segundo ele, a retomada da Rodada de Doha trará à mesa negociações na área de subsídios internos e de exportação, bem como acesso a mercados.

Mudanças climáticas, biomassa e comunicação aquecem debates 

“Os agricultores devem aprender a lidar com um clima cada vez menos previsível”, alertou o pesquisador da Embrapa Evaristo de Miranda. “As culturas que vão sofrer menos com as mudanças climáticas serão aquelas que utilizarem mais tecnologia”, complementou.

Em sua opinião, a ampliação da irrigação, da eletrificação, da mecanização rural, da armazenagem nas fazendas, da logística e do seguro rural será um avanço diante do cenário de incertezas climáticas. 
O pesquisador também apontou limitações e imprecisões nos modelos de previsão destas mudanças e afirmou que, quando se vai do cenário global para o local, as divergências crescem.

“É mais relevante prever trajetórias para a agricultura do que tentar prever um determinado futuro, uma vez que o agricultor está mais preocupado com a próxima safra do que aquela que pode ser afetada pelo clima daqui a 50 anos”, ilustrou. “Desenvolvimento rural é importante para enfrentar as mudanças climáticas.”

Segundo o diretor-executivo da Iniciativa de Política Climática dos Estados Unidos, Thomas Heller, não há mais espaço para dúvidas sobre as mudanças no clima.

“É possível conciliar produção agrícola e proteção da natureza, mas, para isso, é preciso que se tenha usos mais produtivos da terra. Ou seja, produzir mais e melhor nas áreas já abertas em todo o planeta”, afirmou.

Heller acredita que o Brasil tem demonstrado uma boa capacidade de estabelecer políticas públicas que aliam produção e proteção, tais como o plano de combate ao desmatamento ilegal, que na última década resultou em uma redução muito expressiva das emissões de gases de efeito estufa, e o Plano ABC, que incentiva e financia a agricultura de baixo carbono. Para ele, a questão que o país precisa responder é se estas políticas são estáveis.

Ex-ministro da Agricultura e atual presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli afirmou que “o Brasil tem conhecimento para estudar as especificidades de seus biomas, de forma a definir como produzir ainda mais e melhor de maneira sustentável”. “Quem não conhece o país não tem legitimidade para dizer como devemos fazer”, argumentou ele, acrescentando que o que falta é um plano de longo prazo para isso.

Energia limpa


Segundo líderes do setor sucroenergético, que participaram do painel “Biomassa: energia limpa para o futuro”, a falta de incentivo do governo ao setor de biocombustíveis é um grande entrave para a produção sustentável do país, que vem aumentando a importação de combustíveis fósseis. O painel contou com a presença do presidente da Confederação Geral dos Plantadores de Beterraba da França (CGB), Alain Jeanroy, do diretor da GEO Energética, Alessandro Gardemann, do presidente da ICM, Dave VanderGriend (EUA), Julio Minelli, diretor superintendente da Aprobio, e o presidente da Copersucar, Luis Roberto Pogetti.

Alain Jeanroy apresentou o panorama do biodiesel na União Europeia, que tem utilizado a beterraba como matéria-prima para a geração de etanol. Segundo informou, o bloco europeu adotará uma nova diretriz, até o início de 2015, pela qual aumentará em 3 bilhões de litros a produção de etanol a partir da raiz. O palestrante destacou as vantagens da beterraba.

“Seu rendimento de açúcar é muito grande. Temos um crescimento alto com cada vez menos fertilizantes e adubos. Ela produz mais etanol por hectare do que o milho, o trigo e a cana. A planta tem uma vantagem muito grande em relação à cana. Uma tonelada contém 18,5% de açúcar. É muito sustentável. A beterraba também precisa de menos água do que a cana”, expôs.

Já o presidente da ICM, empresa responsável por 80% das destilarias instaladas nos Estados Unidos, enfatizou o papel do milho no cenário produtivo.

“Em vez de jogarmos o milho para o mercado global, mantemos o grão em casa, produzindo e reduzindo o custo dos combustíveis. Hoje, essa mesma oportunidade está aberta para o Brasil”, avaliou.

De acordo com Luis Roberto Pogetti, presidente da Copersucar, o país tem alto potencial para produzir energia limpa, mas trava na falta de competitividade com a gasolina.

“A situação é consequência da carência de políticas públicas destinadas à agroenergia”, justificou. “O etanol é uma criação brasileira, de reconhecimento mundial e de absoluto sucesso. São 40 anos de uma tecnologia que ganha espaço no mundo e está afinada com os preceitos de sustentabilidade.”

Apoio e proteção


“As políticas brasileiras são os piores inimigos do País”, afirmou Gavin Maguire, colunista da Thomson Reuters, no painel “Instrumentos modernos de apoio a produtor e cadeia”.

“O mundo inteiro olha para o Brasil como país que promove a biodiversidade. Aqui há um nível de inteligência muito alto, um nível elevado de paixão, comentou.

Luiz Daniel de Campos, do IFC, destacou o potencial agrícola brasileiro, com muitas oportunidades em desenvolvimento. “Faltam políticas”, concordou com Maguirre.

“Como grande produtor global de todas as commodities agrícolas, o Brasil exporta para países que têm dinheiro, mas a burocracia acaba afetando o capital estrangeiro”, enfatizou.

Especialistas apontam mudanças na comunicação

O público está migrando das mídias tradicionais, como rádio e televisão, para novas mídias, a exemplo das redes sociais na internet. Essa mudança acontece paralelamente ao movimento de retorno dos jovens para o campo. Essa tendência foi apresentada no Global Agribusiness Forum, recente evento realizado em São Paulo.

 

Jose Luiz Tejon, no púlpito, Patricio Crespo Ureta, Rodrigo Mesquita e Donario Lopes de Almeida.
Jose Luiz Tejon, no púlpito, Patricio Crespo Ureta, Rodrigo Mesquita e Donario Lopes de Almeida

 

O painel reuniu Donario Lopes de Almeida (Canal Rural), Jose Luiz Tejon (ESPM), Patricio Crespo Ureta (Sociedad Nacional da Agricultura do Chile) e Rodrigo Mesquita (Instituto Peabirus).

Tejon, especialista em comunicação no agronegócio, disse que o setor precisa trabalhar para mudar o conceito de agricultura familiar. “Tem agricultor familiar que planta 30 mil hectares”, disse ele, numa referência de que ser familiar não é uma questão de tamanho e que existem grandes produtores que estão na categoria de agricultura familiar.

De acordo com Tejon, as empresas do setor deveriam investir em ações de comunicação que remetessem à origem do produto. “Precisamos comunicar de forma ética. Quando formos falar com a sociedade urbana, temos que usar uma linguagem focada na educação, sem parecer propaganda”, ensinou.

De acordo com o especialista, os consumidores estão mais exigentes e se preocupam com a origem do produto, o caminho, o processo da produção e o impacto sobre a cadeia produtiva, ou seja, a sustentabilidade. 
Tejon também sugeriu trocar a ideia de agronegócio por agrosociedade, que, em sua opinião, é um conceito mais amplo e envolve um grupo maior de pessoas, como uma cidade inteira, em torno da atividade rural.

“Falta uma orquestração do agronegócio para a agrosociedade. É isso que vai nos levar para um mundo novo, onde o local atinja o global”, ressaltou.

Segundo o CEO do Canal Rural, Donário Lopes de Almeida, a evolução da renda do setor e a crescente utilização de insumos tecnológicos atraem os jovens para o agronegócio.

Para o presidente do Instituto Peabirus, Rodrigo Mesquita, o mundo está criando um novo ecossistema da informação.

“O público está migrando para as novas mídias e as empresas do agronegócio precisam ouvir as pessoas que utilizam as redes para estabelecer um canal de comunicação com o público”, recomendou.

Conforme explicou, o setor precisa perder a timidez e ir até o público nas redes com uma comunicação ordenada.

“As empresas que seguem isso são três vezes mais competitivas que as que não estão nas redes, afinal, comunicação é conversação, é diálogo. A economia física depende da economia social”, ponderou.

Valor do produtor

Equalizar a economia de escala com a pequena produção é o grande desafio para o Brasil, segundo Otaviano Canuto, do Banco Mundial, que participou de um painel do Global Agribusiness Forum com o tema “Como valorizar e preservar o papel dos produtores num mundo de escalas crescentes”. Ele sugeriu um mapa das necessidades, desafios e oportunidades para o mundo e para o Brasil.

Mario Sergio Cutait, da International Feed Industry Federation(IFIF), destacou a velocidade das mudanças e a necessidade de falar com formadores de opinião, médicos e consumidores.

“É necessária uma atitude proativa”, recomendou, lembrando que a visão do IFIF é produzir mais, usando menos e a um custo justo para o consumidor.

Interesse estrangeiro


Na visão de Abilio Diniz, presidente do conselho de administração da BRF, o principal desafio do agronegócio brasileiro é agregar valor aos produtos exportados. Na sua avaliação, a visão de investidores estrangeiros sobre o Brasil é boa, mesmo após o anúncio do rebaixamento do Brasil pela agência Standard &Poor’s.

 

Segundo Abílio Diniz, o principal desafio do agronegócio brasileiro é agregar valor aos produtos exportados.
Segundo Abílio Diniz, o principal desafio do agronegócio brasileiro é agregar valor aos produtos exportados

 

Segundo Diniz, o único tema que hoje preocupa investidores estrangeiros é a volatilidade do câmbio.

“Tenho conversado com muita gente fora do Brasil e a visão que eles têm é melhor que a nossa aqui dentro. Os grandes investidores não saíram daqui, quem saiu foi o capital de bolsa e, com qualquer espasmo, ele volta”, observou.

 

Por Equipe SNA/SP

 

 

 

 

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