Demanda cai, mas abastecimento de hortifrútis segue normal

O abastecimento de hortifrútis nas principais centrais atacadistas do país segue normalizado, segundo Guilherme Bastos, presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que acompanha a oferta de norte a sul do País. Por esses entrepostos, escoam mercadorias para feiras, varejões, food service e também para supermercados (estes têm aumentado suas compras), além de lojas especializadas.

Por causa da pandemia, Bastos afirmou que, em março, algumas Ceasas tiveram queda de 20% nas vendas. O movimento foi afetado por restaurantes e cozinhas industriais fechados, além da retração no comércio das feiras. “Apesar disso, a oferta de produtos se mantém normal para esta época do ano”, disse. “Altas de preços de alguns produtos também seguiram padrões sazonais”,

Um dos casos foi o da cenoura, que subiu de 40% a 50% entre a segunda quinzena de março e a de fevereiro nas Ceasas de São Paulo (SP), Fortaleza (CE), Brasília e Goiânia (GO), refletindo o excesso de chuvas no principal polo produtor, São Gotardo (MG). Outro caso foi o da cebola, cuja alta superou os 50% em seis Ceasas analisadas.

No caso das frutas, Bruno Benassi, um dos maiores distribuidores do País, disse que verificou quedas de preços principalmente de itens que eram exportados por via aérea e perderam seu canal de distribuição, com cancelamentos de voos comerciais. “Produtos como atemoia e avocado, por exemplo, ficarão no País, e devemos ter oferta de qualidade e preços atraentes”, afirmou o distribuidor. É o caso também do caqui, manga palmer, tommy e do mamão.

Manoel Oliveira, diretor executivo do Instituto Brasileiro de Horticultura (Ibrahort), confirmou que, de fato, não se verifica falta de produtos nas Ceasas ou nas gôndolas dos supermercados, mas, segundo ele, isso ofusca uma situação que pode eclodir num futuro próximo.

O diretor do Ibrahort informou que a cenoura subiu de preço em março em comparação a fevereiro, mas está 10% mais barata que o habitual para esta época do ano e o tomate, 50% mais em conta. “Essa época é de baixa oferta para o tomate, já que estamos na entressafra, e o produtor olha para esses preços e se pergunta se continua a plantar”, disse. A caixa, que costumava valer de R$ 100,00 a R$ 120,00 nesta época, caiu para de R$ 50,00 a R$ 70,00.

Aldo Antonio Dal Bosco, produtor de tomate da região de Caçador (SC), disse que a demanda desapareceu subitamente e que, como o produto é muito perecível, se viu obrigado a descartá-lo. O prejuízo já chega a R$ 130.000,00. Inseguro com a situação, dispensou 65 de seus 80 funcionários, e cogita reduzir o próximo plantio.

Produtores de outras regiões também descartaram parte da produção. Segundo José Nelson Mallmann, que preside a Comissão Nacional dos Produtores de Tomate de Mesa, houve relatos de descarte porque supermercados não absorveram frutos miúdos antes direcionados a merendas, redes de fast food e indústrias processadoras.

Mallman afirmou que o cenário é de incerteza para o pico da oferta a partir de junho, podendo haver redução de área se as cotações recuarem mais.

No setor de verduras, já é esperado um corte na produção que pode reduzir a oferta daqui a dois ou três meses, conforme a Produce Marketing Association (PMA). A associação estima uma semeadura 35% menor no cinturão verde paulista.

Para a produtora de hidropônicos Simone Silotti, a situação é devastadora e, no mínimo, um terço do que seria plantado por ela e outros 20 produtores da Vila de Quatinga, no município de Mogi das Cruzes (SP), na semana passada, já não foi. Para não descartar a produção, o grupo fez doações e criou uma vaquinha virtual na tentativa de recuperar ao menos seu custeio.

 

Valor Econômico

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp