Demanda aquecida de leite orgânico mobiliza produtores

Segundo o pesquisador André Novo, chefe adjunto de transferência de Tecnologia da Embrapa Pecuária Sudeste, os produtores de leite orgânico recebem cerca de 50% acima do preço do litro calculado Cepea, além de uma bonificação por qualidade.
Foto: Ana Maio

O Brasil tem 17.167 unidades produtivas orgânicas cadastradas, um aumento de 20% comparado ao ano anterior, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). De olho nesse crescimento e atentos às tendências do mercado em relação à sustentabilidade e ao potencial do mercado, produtores, empresas e o setor de pesquisas uniram esforços para ampliar a oferta de leite orgânico e fortalecer a cadeia produtiva.

Para disseminar a técnica de produção de leite orgânico, a Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP), e a Fazenda Nata da Serra, de Serra Negra (SP), organizaram o curso intensivo de Pecuária Leiteira Orgânica, em cinco módulos. “Essa demanda surgiu a partir do interesse da Nestlé em montar um grupo de produtores orgânicos com propriedades em um raio de 100 quilômetros de São Carlos”, relata o pesquisador André Novo, chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da unidade.

Segundo ele, cerca de 50 produtores entraram em contato com a multinacional e manifestaram interesse em fornecer leite orgânico certificado pelo Instituto Biodinâmico. As negociações começaram há cerca de um ano. Na primeira etapa, foram contratados 11 produtores que já possuem o selo de produção orgânica. O restante está em fase de conversão, ou seja, estão saindo do modelo tradicional e migrando para a produção orgânica.

A primeira etapa do curso foi realizada em junho, em Serra Negra. A próxima será nos dias 27 e 28 de julho, em São Carlos, na Fazenda Canchim, onde está instalado o centro de pesquisa da Embrapa. Em agosto, o módulo ocorrerá na Fazenda Nata da Serra e, em setembro e outubro, na Embrapa Pecuária Sudeste.

O mercado brasileiro de proteína animal orgânica é muito carente e ainda está engatinhando, pois o grupo de produtores ainda é pequeno. “O curso de pecuária leiteira orgânica é fundamental, pois passa a criar uma massa de produtores com tecnologia, além disso, existe uma demanda do mercado e da sociedade em relação à forma mais limpa de produzir”, afirma Ricardo Schiavinato, proprietário da Fazenda Nata da Serra. Ele considera a iniciativa importante, pois começa a movimentar a cadeia toda de insumos. “Assim, vão aparecendo novos produtos e novas tecnologias para o setor.”

PESQUISA

A Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos, SP, realiza um trabalho de extensão, capacitação e pesquisa com leite orgânico há 10 anos. Nesse período, a unidade tem acompanhado algumas fazendas leiteiras que passaram a se dedicar à atividade de forma profissional e tecnológica. “Os principais desafios são entender as normas de produção de leite orgânico e adaptar conceitos universais, do modelo convencional, como manejo de pastagens, de forragens, de rebanhos”, afirma Novo.

Segundo Novo, em dez anos foram registrados muitos ganhos em produtividade e eficiência. A fazenda Nata da Serra, por exemplo, saltou de uma produção diária de 250 litros de leite, em 45 hectares, para 1.500 litros em 25 hectares. A produtividade individual média das vacas em lactação é ao redor de 18 litros.

“A utilização de processos de produção e a melhoria na sanidade e na gestão, com a introdução de planilhas econômicas, mudaram a realidade da fazenda”, aponta Novo. Segundo ele, o pacote tecnológico inclui o manejo intensivo de pastagem, o uso de irrigação, a mudança no conforto e na genética dos animais.

Schiavinato começou a trabalhar com pecuária de leite orgânica há 20 anos, mas a produção estava estacionada. Decidiu, então, pedir ajuda para a Embrapa e, atualmente, a propriedade é uma unidade de demonstração da empresa de pesquisa. “Graças ao uso de tecnologias, como, por exemplo, o pastejo rotacionado, produzimos 20 mil litros de leite orgânico por hectare por ano, uma média de 20 litros por vaca em produção”, afirma.

‘Graças ao uso de tecnologias, como, por exemplo, o pastejo rotacionado, produzimos 20 mil litros de leite orgânico por hectare por ano, uma média de 20 litros por vaca em produção’, afirma Ricardo Schiavinato, proprietário da Fazenda Nata da Serra.

PRODUÇÃO PEQUENA

A produção estimada de leite orgânico certificado no Brasil é de 30 mil litros de leite por dia, um volume pequeno para atender a demanda das grandes capitais e o mercado externo. Os 30 produtores que estão em processo de certificação, para atender à demanda da Nestlè, já coletam cerca de 30 mil litros por dia. “Isso significa, na prática, que podemos dobrar a produção dentro de cerca de um ano”, prevê Novo. “Também esperamos que uma oferta maior de leite orgânico possa melhorar o acesso a um produto sustentável”, acrescenta.

Os produtores de leite orgânico recebem cerca de 50% acima do preço do litro calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Esalq/USP, para o Estado de São Paulo, além de uma bonificação por qualidade (boas práticas de fabricação, altos teores de gordura e contagem de células somáticas). “A receita é maior, em função do valor agregado, mas o custo é mais alto em relação ao leite convencional em cerca 30%”, compara Novo.

NA PRÁTICA

De acordo com o pesquisador, os produtores têm muitas dúvidas sobre a certificação e a profissionalização. Por isso, a Embrapa resolveu fazer um curso com base na experiência prática da Fazenda da Nata da Serra e do Sítio Saldanha, de Claudine Saldanha Junior, de São Carlos, que produz leite orgânico há dois anos.

Neste primeiro módulo, participaram produtores do Rio de Janeiro, Mato Grosso, São Paulo, Rio Grande do Sul, Alagoas e Ceará. As 40 vagas oferecidas foram esgotadas rapidamente. “A lista de espera é grande e já estamos programando a edição de 2019”, conta Novo.

Equipe SNA/SP

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp