Definição eleitoral nos EUA mobiliza AGRO

Imagem: Freepik

Perfil do vencedor trará desafios para o setor

O Portal SNA vem acompanhando os desdobramentos da corrida à presidência dos EUA e o impacto que a disputa já exerce, uma vez que o cargo mais poderoso do mundo terá novo ocupante a partir de janeiro. Isso porque o atual mandatário, Joe Biden, acabou desistindo de sua candidatura em favor da sua vice, Kamala Harris. Do outro lado, o republicano Donald Trump tenta voltar à Casa Branca. Potências do agronegócio e concorrentes diretos nessa área, Brasil e EUA mantêm produtiva relação comercial, mas a alternância de poder tanto aqui quanto lá pode gerar eventuais ruídos de comunicação que não são benéficos a essa parceria.

Com a proximidade da definição do pleito, que ocorrerá terça, 5 de novembro, autoridades brasileiras, produtores rurais e analistas de mercado traçam cenários possíveis a partir da vitória de cada um dos lados. A primeira passagem de Trump na presidência ficou marcada pela guerra tarifária com a China, da qual o Brasil se beneficiou, escoando commodities que o país asiático deixou de comprar dos americanos. Mas os efeitos da COVID – 19 trouxeram obstáculos de toda ordem, enquanto o republicano tentava a reeleição.

A gestão Biden, que começou ainda no auge da pandemia, trazia promessas de reduzir o uso de combustíveis fósseis e reingresso em tratados ambientais como o Acordo de Paris. As lavouras americanas se viam cada vez mais necessitadas de mão de obra imigrante, o que acirrou ânimos políticos. Os subsídios agrícolas continuaram, embora não houvesse uma agenda tão agressiva de protecionismo quanto à de Trump. Enquanto isso, no Brasil, a pujança das colheitas, sobretudo as de grãos, atingia patamares recordes e as exportações também.

A relação consolidada com a China, além dos prognósticos de uma nova safra de grãos acima da média para 2024/2025 faz com que o Brasil esteja numa posição confortável para competir por mercados asiáticos com os americanos, embora os chineses busquem, ao mesmo tempo, reduzir sua dependência do Ocidente. Um retorno de Trump, ainda que ele busque repetir os atritos com os chineses e a agenda protecionista, encontraria um agronegócio nacional robustecido com os êxitos do pós – pandemia.

Como este Portal vem abordando, as bancadas parlamentares, entidades de representação e empresários somaram esforços que renderam relevantes vitórias para o setor nos últimos anos; entre elas, a reforma tributária, o marco temporal e abertura de novos mercados.

Uma eventual presidência de Kamala Harris, entretanto, pode apresentar desafios quanto a uma agenda verde mais rigorosa, pois a atual vice-presidente já manifestou sua vontade de avançar sobre temas mais sensíveis, sobretudo para os eleitorados de estados agrícolas americanos, ou aqueles que outrora desfrutaram de um apogeu industrial. Essa região ficou conhecida popularmente como cinturão da ferrugem, em alusão ao declínio das fábricas. Na gestão Trump, entretanto, algumas dessas cidades experimentaram uma ressurgência econômica, o que pode influenciar o voto de seus moradores.

Uma aliança improvável, mas muito necessária

Algo que aproxima Brasil e EUA, independentemente de alinhamentos partidários ou ideológicos, é a resistência a demandas ambientais da União Europeia. Nomes de destaque defendem que os dois países devem se unir no combate às exigências arbitrárias que o bloco impõe de modo a disfarçar barreiras comerciais, caso da tão falada EUDR, a nova lei antidesmatamento, que já causa polêmicas antes mesmo de entrar em vigor. Uma dessas figuras é o diplomata Roberto Azevêdo, que presidiu a Organização Mundial do Comércio (OMC) por dois mandatos consecutivos, entre 2013 e 2020, além de passagens de sucesso por empresas privadas de grande porte.

Em palestra proferida no Congresso Brasileiro do Agronegócio, realizado em agosto passado em São Paulo, ele declarou que o Brasil não pode seguir sozinho protestando na arena internacional, pois as demandas ambientais continuarão em maior ou menor grau, algo que, em sua opinião, reflete uma dinâmica tensa e antiga entre países produtores e exportadores. Para ele, mesmo sendo concorrentes, americanos e brasileiros sofrem as mesmas pressões por parte do bloco europeu e precisam reforçar esse debate.

Oportunidades não faltam, já que o Brasil preside, durante 2024, o G20, em cujo bojo estão inseridos os grupos de trabalho, como o de agricultura. São instâncias importantes para que o país troque ideias e alinhe estratégias com representantes públicos e privados de outras nações, inclusive os EUA. Na segunda quinzena de novembro, os chefes de estado e de governo virão ao Rio de Janeiro para uma reunião de cúpula, para encerrar as atividades do ano. Será também um teste para a diplomacia brasileira, já que o resultado das eleições americanas sairá antes disso.

Por fim, mas não menos importante, a COP 30, que em 2025 será sediada em Belém, oferecerá ao país uma chance de ouro para firmar posição junto a aliados. É preciso usar essa plataforma para explorar eventuais divergências e propor novos caminhos que contornem exigências ambientais desmedidas, de forma mais assertiva. Assim, fica claro que modelos de agricultura, comércio e sustentabilidade mudam conforme a geografia, clima e outros aspectos de cada país, que precisam ser respeitados, para que todos contribuam de sua maneira. Naturalmente, Brasil e EUA podem colaborar nesse sentido, independentemente do resultado que sairá das urnas americanas.

Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb 13.9290) marcelosa@sna.agr.br

 

 

 

 

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