O Brasil mantém um ritmo forte na produção de grãos nos últimos anos. A armazenagem, porém, não tem acompanhado essa evolução.
A supersafra deste ano deixa boa parte dos grãos produzidos sem a possibilidade de armazenagem, o que significa fretes mais caros e preços mais baixos para os produtores.
No final de 1990, o Brasil produzia 75 milhões de toneladas de grãos e tinha capacidade de armazenagem de 83 milhões.
Nesta safra, a 2016/17, o País deverá produzir o recorde de 232 milhões de toneladas de grãos, mas terá capacidade para armazenar apenas 158 milhões.
Ou seja, 74 milhões de toneladas ficarão a céu aberto ou terão de sair direto da roça para os portos.
Esse número de armazenagem é com base em dados oficiais da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Pode não incluir toda a capacidade de armazenagem nas fazendas.
Nessas condições adversas de armazenagem, quanto mais distante estiver a produção dos portos, maior será a depreciação dos preços para os produtores.
Na colheita, o produtor de Sorriso (MT) recebe, em média, 30% menos do que os preços praticados nos portos, segundo Mauro Osaki, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Essa perda deverá ser menor nos próximos anos, segundo ele. “Quanto mais o Estado se estruturar em armazenagem e escoamento de produtos, melhor será a renda do produtor.”
Há poucos anos, essa defasagem de preços da lavoura para o porto chegava a 35% na colheita, segundo Osaki.
Os Estados Unidos têm uma situação bem diversa da do Brasil. A capacidade estática de armazenagem dos americanos supera em 12% a produção total de grãos do país.
Fronteiras agrícolas
Os maiores déficit de armazenagem no Brasil estão nas fronteiras agrícolas. Mato Grosso consegue armazenar apenas 60% do que produz. Já Paraná e Rio Grande do Sul têm capacidade de armazenagem de 79% e 94%, respectivamente.
Osaki destaca a importância da elevação do potencial de armazenagem no Brasil. Mas esse aumento tem vantagens e desafios.
Entre os pontos positivos estão uma melhora da eficiência de colheita no campo, menos descontos nos grãos produzidos e oportunidade para uma venda da produção fora dos períodos de pico da safra.
Mas o aumento de armazenagem exige elevados investimentos; eleva o custo fixo das propriedades (bens e mão de obra) e pode gerar uma perda de qualidade e quebra técnica do produto.
Por Mauro Zafalon
Fonte: Folha de S. Paulo