Da economia ao clima: entenda as consequências da saída do Reino Unido da União Europeia

O Reino Unido deve encaminhar um pedido de desfiliação da União Europeia após o referendo de quinta-feira, 23 de junho, que decidiu pela saída do país do bloco, e após essa medida terá dois anos para negociar sua saída. A seguir, as possíveis consequências do rompimento para o Reino Unido e a UE.

 

ECONOMIA

O Reino Unido não estará mais sujeito às regras orçamentárias da UE, que limitam o déficit orçamentário dos governos a 3 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) e a dívida pública a 60 por cento do PIB.

O país, portanto, poderá ter qualquer déficit orçamentário que quiser sem ser repreendido pela Comissão Europeia e por outros ministros do bloco. Os britânicos também estariam livres do monitoramento da Comissão e de recomendações sobre ações futuras.

 

FINANÇAS

As empresas de serviços financeiros sediadas no Reino Unido, de bancos a câmaras de compensação e fundos, podem perder os rentáveis “passaportes” da UE, que lhes permitem vender serviços em todo o bloco de 28 nações com custos baixos e um conjunto único de regras.

O sistema de passaportes contribuiu para tornar Londres um dos maiores centros financeiros do mundo. Alguns bancos norte-americanos, japoneses e não europeus que têm sede na capital britânica já disseram que irão cogitar transferir partes de seus negócios dentro da UE no caso de uma saída britânica do bloco.

 

COMÉRCIO

O restante da UE tem um superávit comercial de bens de cerca de 100 bilhões de euros com o Reino Unido, e o Reino Unido exporta cerca de 20 bilhões de euros a mais em serviços do que importa, sobretudo devido aos serviços financeiros.

Os defensores da desfiliação dizem que é do interesse da UE concordar com um acordo de livre comércio com o Reino Unido se o país deixar o bloco. Mas existe a tendência de o foco se concentrar mais em bens do que em serviços em acordos de livre comércio.

A Suíça, onde os serviços financeiros representam uma fatia maior do PIB do que no Reino Unido, não tem acesso generalizado aos mercados de serviços financeiros da UE e acumula um déficit no comércio de serviços financeiros com o bloco.

 

CLIMA

O Reino Unido é o segundo maior emissor de gases de efeito estufa na Europa e suas empresas prestadoras de serviços estão entre os maiores compradores de créditos de carbono do Sistema de Comércio de Emissões (ETS, na sigla em inglês) da UE.

Embora a maioria dos analistas acredite que o Reino Unido irá se manter no esquema de compra de créditos de carbono, o referendo é visto como hostil ao mercado, já que o Reino Unido não conseguirá mais adotar reformas rígidas para elevar o preço.

A desfiliação britânica também irá interromper os planos do bloco de dividir o fardo de seu compromisso com o acordo climático de Paris.

Os defensores do meio ambiente também temem que as metas climáticas da UE sejam menos ambiciosas sem a liderança britânica para equilibrar Estados-membros mais relutantes, como a Polônia, que é muito dependente de sua indústria carvoeira.

 

POLÍTICA EXTERNA

Assim como a França, o Reino Unido é a maior potência da política externa do bloco, podendo se vangloriar de um grande contingente militar e laços estreitos com os Estados Unidos. Washington já deixou claro que, após a desfiliação, terá menos interesse em Londres como aliado por causa da percepção da perda de influência.

O Reino Unido não estará mais sujeito a posições conjuntas da UE, por exemplo em sanções econômicas contra a Rússia, mas continuará sendo membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

 

JUSTIÇA E ASSUNTOS INTERNOS

O Reino Unido tem muitas exceções em questões políticas de justiça e assuntos internos, sobretudo a dispensa da zona de circulação conhecida como Espaço Schengen.

Não está claro que restrições os britânicos irão adotar para a entrada de estrangeiros. A UE prometeu reagir à altura.

Atualmente o Reino Unido reconhece mandados de prisão de outros países da UE, compartilha informações entre as polícias, inclusive dados pessoais, e é membro da polícia do bloco, a Europol.

Seu envolvimento futuro, incluindo o acesso a bancos de dados do bloco, pode diminuir, o que irá significar menos cooperação no policiamento e no combate ao crime.

 

Fonte: Reuters

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