Custos na produção reduzem rentabilidade do arroz

A chegada de nuvens escuras e carregadas no horizonte causou preocupação aos arrozeiros gaúchos neste ano. Com o excesso de chuva no campo, tiveram uma perda de 3,6% na área plantada no Estado. A turbulência mais forte, no entanto, não ocorreu nos céus da Campanha, Depressão Central ou da Fronteira Oeste, mas em um terreno bem mais sensível, o bolso do produtor. Foi o aumento elevado no custo de produção que tirou o sono do agricultor.

O avanço no preço da saca foi muito tímido frente à alta nas despesas, que chegaram com intensidade e em várias frentes: combustíveis, energia elétrica, insumos e mão de obra.

– Está se confirmando uma sensação que já tínhamos faz algum tempo: o principal problema neste ano não é a queda na produtividade, mas a queda na renda. O preço da saca precisaria estar entre R$ 42,00 e R$ 45,00 para superar as despesas. E está abaixo disso, com perspectiva de cair ainda mais, afirma Paulo, ressaltando que o alto custo deve influenciar nas decisões para a safra seguinte.

Juntos, os irmãos plantam 1.300 hectares de arroz no município (85% em área própria) e têm no cereal a principal produção da propriedade. A alternativa seria investir na pecuária, atualmente com rendimentos maiores.
– Não vamos desistir do arroz, mas a cultura pode diminuir de importância, resume Paulo.

Arrozeiros buscam novos mercados

Entre os custos que pressionaram as despesas, a conta de luz, que veio bem mais salgada em 2015, deve dar um alívio neste ano. A concessionária AES Sul, que atende àquela região, deve reduzir até abril a tarifa cobrada em até 3%. O recuo não faz sombra ao aumento elevado de 2015, mas sinaliza uma pressão menor sobre as despesas.

– A AES já teve o aumento mais elevado no reajuste extraordinário do ano passado. Agora, deve haver uma redução e a mudança na bandeira tarifária deve ajudar – afirma Paulo Steele, analista que atuou por cinco anos na Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) no desenvolvimento do cálculo dos custos para as concessionárias e hoje está na consultoria TR Soluções.

Agroquímicos mais caros

A compra de insumos, por outro lado, deve seguir pesando na carteira dos produtores. Negociados em dólar, agroquímicos tende a ficar ainda mais caros ao longo de 2016, com risco de alta no segundo trimestre, justamente o período de compras para a próxima semeadura.

Pré-custeio prometido para a próxima safra

– As sementes utilizadas hoje são bastantes suscetíveis ao fungo brusone, por exemplo. A praga está sob controle, atingindo algumas áreas restritas, mas exige mais aplicações de fungicida. É um custo cada vez mais importante – explica Leonardo Alonso, engenheiro agrônomo do Instituto Rio Grandense do Arroz(IRGA) em Alegrete.

Diretor comercial do IRGA, Tiago Sarmento Barata, afirma que, apesar do aumento nos custos, o dólar mais elevado ajudou mais do que atrapalhou na safra deste ano. Faltando um mês para o fechamento do ano comercial do Brasil, as exportações já superaram a média obtida nos últimos dois anos.

– No País, a expectativa é que cheguemos a 1.4 milhão de toneladas, um resultado excelente. O dólar mais valorizado também reduziu as importações, que será a menor em sete anos. Nossa Balança Comercial terá um superávit de 820.000 toneladas, disse Barata.

O diretor do IRGA afirma que o Rio Grande do Sul só não exportou mais arroz em função de deficiências logísticas. Ele informa que alternativas podem ser encontradas para superar as dificuldades em infraestrutura e cita a maior utilização do porto de Imbituba, em Santa Catarina, como possibilidade.

Na contramão das perdas

Com estimativa de redução de 15% na produção gaúcha na safra 2015/2016, o arrozeiro Marcones Giacomelli, de Alegrete, pode se considerar um produtor de sorte: não teve prejuízo na lavoura causado pelo excesso de chuvas. O resultado foi um alento para compensar o aumento expressivo das despesas.

O custo do plantio nos 304 hectares arrendados deu um salto que o produtor nunca tinha visto igual.

– No ano passado, eu gastava R$ 80,00 de energia elétrica por hectare. Agora, pago quase R$ 150,00. A conta que era de R$ 25.000,00 agora chega a R$ 45.000,00. Isso em menos de um ano, disse.

Giacomelli informa que, sem incentivo do governo para valorizar o preço da saca, será obrigado a diminuir a área de plantio no próximo ciclo. Pela característica do terreno, o arrozeiro, diferente de outros produtores, não conseguiria investir em cultivares diferentes.

O engenheiro agrônomo Lucas Bastos, consultor em diversas propriedades no município, explica que o peso no bolso varia muito para cada arrozeiro. Depende, principalmente, da área de plantio e das condições de arrendamento do terreno.

– O preço da saca em R$ 40,00 não é bom para ninguém. Mas para alguns é muito ruim. O ponto de equilíbrio entre custo e ganho para um grande produtor pode ser de R$ 42,00. Para outro, menor, pode chegar a R$ 45,00, R$ 48,00 até R$ 50,00, disse.

O valor da mão de obra também preocupa. Apesar do aumento do desemprego permitir um avanço mais lento da renda salarial, a tecnologia utilizada nas máquinas agrícolas exige cada vez mais especialização dos operadores.

– São poucos profissionais de qualidade no mercado, o que obriga os produtores a desembolsarem cada vez mais pelo trabalho, disse Giacomelli, que opera a própria colheitadeira.

Em Alegrete, os irmãos e sócios Luís Cadore e Paulo Cadore, deram início à colheita há duas semanas e estão contentes com o resultado. Apesar da chuva que atingiu a cidade em outubro e dezembro, não vista com tanta força pelos produtores desde 1997, a produtividade na lavoura não foi tão prejudicada quanto o esperado. Nos primeiros dias com as máquinas no campo, estava sendo possível colher cerca de 8.000 quilos por hectare, 500 a mais do que o projetado logo após as enchentes.

 

Fonte: Zero Hora

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