Custos altos comprometem renda da pecuária de corte

Valores da arroba do boi negociados no mercado futuro, até maio deste ano, estão em patamares baixos, alerta o Conselho de Administração da Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon). Foto: Divulgação

O ano de 2017 começou delicado para a pecuária de corte. Apesar da retração nos preços dos grãos, em relação aos valores máximos do ano passado, essa queda ainda inviabiliza a produção. É o que afirma Alberto Pessina, presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon).

“Da mesma forma, o bezerro ou o boi magro que o produtor comprou no ano passado não viabiliza a produção. Os valores da arroba do boi negociados no mercado futuro, até maio deste ano, estão em patamares baixos e, diante de um cenário de custos altos e preços em queda, o produtor não consegue rentabilizar a atividade”, analisa Pessina.

Para o segundo semestre, com os preços dos bezerros em retração e a entrada da safra de grãos, o executivo prevê uma redução mais significativa nos custos para o produtor.

“Quanto ao aumento dos preços de venda dos animais, vai depender, realmente, de uma melhora no consumo interno de carne. Este cenário, porém, ainda é uma incógnita.”

Na visão de Juliana Pilla, zootecnista e analista de mercado da Scot Consultoria, o cenário atual do mercado do boi é de pressão baixista na cotação da arroba.

“Do lado da demanda, o consumo continua patinando, a carne bovina no atacado teve queda quase consecutiva neste ano de 2017, o que diminui o ímpeto de compras do lado do frigorífico’’, ressalta.

 

RETOMADA NA DEMANDA

Conforme Pessina, o produtor deve ficar atento aos sinais de recuperação da economia: “Se os cenários apresentarem melhora, a demanda interna de carne bovina pode ser retomada em algum momento”.

O segundo ponto, na opinião no executivo, é não perder as oportunidades de negócios: “Se conseguir travar os preços no mercado a termo ou no futuro com alguma rentabilidade, o produtor deve aproveitar, pelos menos para fazer parte dessa função, pois tudo indica que 2017 será um ano bastante complicado”.

Mesmo diante das incertezas, Pessina acredita que o segundo semestre será melhor, “mas a gente não sabe em que velocidade isso pode ocorrer”.

 

Presidente do Conselho de Administração da Assocon, Alberto Pessina acredita que o segundo semestre será melhor para a pecuária de corte, “mas a gente não sabe em que velocidade isso pode ocorrer”. Foto: Leandro Souza

Quanto ao mercado externo, por mais que reaja, Pessina lembra que as exportações absorvem somente 20% da produção: “Os 80% restantes abastecem o mercado doméstico, ou seja, mesmo que o Brasil consiga aumentar os embarques de carne bovina, isso não terá impacto suficiente na melhora dos preços. A grande mudança viria de uma reação no mercado interno”.

Outro fator que ele recomenda considerar é o ciclo da vaca que o setor está entrando no momento atual e que sinaliza o aumento do abate de fêmeas. “Somente por este fato, independente da engorda ou não, vamos ter mais oferta de carne bovina no mercado, a questão é se teremos demanda para absorvê-la.

“A oferta de animais vem crescendo, principalmente devido ao maior número de fêmeas participando da escala de abates, e esse cenário deve seguir até o final do período de monta (abril/maio”, concorda Juliana.

 

CONFINAMENTO

Mesmo com o cenário adverso, a Assocon acredita que o número de animais confinados deve voltar a crescer em 2017 e ultrapassar 4 milhões de cabeças, em razão dos custos menores ao longo do ano, como reflexo da previsão de safra recorde de grãos no país.

Na opinião de Juliana, as expectativas em curto e médio prazos apontam para preços pressionados para o boi gordo: “Com relação aos custos com confinamento, com a boa expectativa da boa safra de milho este ano, os preços devem permanecer menores comparação anual, aliviando os custos de produção”.

Segundo a associação, no ano passado, a quantidade de animais terminados em confinamento totalizou 3,4 milhões de cabeças, devido ao alto custo de produção e à queda no consumo interno que reduziram as margens da atividade.

Dentre os Estados brasileiros, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás apresentaram as maiores quedas no número de animais confinados. Por sua vez, mesmo com os altos custos de produção, São Paulo registrou um incremento na quantidade de animais confinados em 2016.

Zootecnista e analista de mercado da Scot Consultorias, Juliana Pilla diz que as expectativas, em curto e médio prazos, apontam para preços pressionados para o boi gordo. Foto: Divulgação

RETROSPECTIVA

Fazendo uma retrospectiva do setor, Pessina lembra que em 2016 os custos de reprodução e de insumos (grãos, principalmente) subiram bastante e teve apenas um momento no mercado futuro para o pecuarista vender a sua produção ao preço máximo.

“Quem perdeu esse momento, e eu diria que foi a maioria dos produtores, foi surpreendido pela baixa demanda que derrubou os preços da carne e acabou gerando rentabilidade muito baixa, e até mesmo negativa no confinamento”, observa.

Pessina credita a queda dos preços do boi principalmente à retração na demanda: “Houve um cenário de preços altos, no segundo semestre, no mercado futuro, apontando nessa direção. O produtor chegou a apostar nessa oportunidade, botando boi no confinamento, mas os preços declinaram e ele acabou tendo prejuízo, não fazendo, inclusive, o segundo ciclo pecuário de confinamento”.

Ele ainda acrescenta que, por causa da baixa rentabilidade, o produtor reduziu o número de animais na engorda.

 

Por equipe SNA/SP

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