*Por Paulo do Carmo Martins, Manuela Sampaio Lana, Samuel José de Magalhães Oliveira e Alziro Vasconcelos Carneiro, Pesquisadores e Analistas em economia da Embrapa Gado de Leite
Queda de preço da alimentação concentrada segura o custo de produção
Após o soluço inflacionário registrado em julho, o ICPLeite/Embrapa voltou a registrar deflação no custo de produção de leite em agosto, registrando uma variação de – 0,20%. Os preços dos materiais de limpeza da ordenha, registraram expressiva queda e o grupo Qualidade do Leite, registrou a maior variação negativa entre os grupos que compõem este índice, – 3,20%.
Mas a queda verificada no ICPLeite/Embrapa foi causada, principalmente, pelo recuo dos preços da ração comercial (mistura pronta) e da maioria dos itens para a produção de alimento concentrado, como o milho e outros, que tem maior participação no custo de produção total. Somente a soja registrou um pequeno ajuste de preço, que não foi suficiente para superar a queda dos demais itens. O grupo Concentrado registrou a segunda maior queda, – 0,60%. O grupo Minerais apresentou pequena deflação de – 0,10%.
Três outros grupos registraram variações positivas no mês. Em constante queda de preço desde dezembro/22, o óleo diesel sofreu significativo aumento de preços em agosto, levando o grupo Energia e Combustível a apresentar a maior variação positiva em agosto, de 0,90%. O segundo maior aumento foi registrado pelos grupos Sanidade e Reprodução, que teve uma elevação de 0,60% e Volumosos de 0,30%. O grupo Mão de Obra não registrou alteração. Os dados constam do Gráfico 1.
Os custos acumulados no ano mantêm a tendência de deflação e fecham os oito meses com queda de 4,50%. A alimentação dos animais é que explica este desempenho, devido ao peso relativo no cálculo e à queda registrada no período. O grupo Concentrado teve variação de – 13,80%, seguido pelo grupo Minerais de – 12,5% e o grupo Volumosos, com deflação de – 11,50%.
Quatro grupos registram aumento de preços no acumulado do ano. O grupo Energia e Combustível registrou um aumento de custos de 19,80%, seguido pelo grupo Qualidade do Leite de 18,2%, pelo grupo Mão de Obra de 11,30% e pelo grupo Sanidade e Reprodução, com variação de 4,50%. Os dados constam do Gráfico 2.
Em doze meses, o ICPLeite/Embrapa registrou uma deflação de 7,50%. Esta variação negativa acumulada não se verificava nesta intensidade desde setembro/2017. Um fator a explicar este fenômeno diz respeito aos itens de custos que tem preços formados no mercado internacional, que caíram a partir do 2º semestre de 2022, após serem afastadas as incertezas iniciais causadas pela Guerra na Ucrânia. Fertilizantes e grãos são exemplos. Os três grupos que compõem a alimentação do rebanho tiveram retração de custos e foram responsáveis por este acumulado, Volumosos, Concentrado e Minerais. Os demais quatro grupos, mesmo registrando aumento de preços, não causaram impacto suficiente para reverter o resultado de deflação. Os dados são apresentados no Gráfico 3.
A dissipação do quadro de instabilidade causado pela guerra entre Ucrânia e Rússia e os ajustes das expectativas dos agentes do mercado quanto às suas consequências refletiram diretamente no ICPLeite/Embrapa. O Gráfico 4 mostra a tendência de queda no custo de produção de leite ao longo de doze meses, dos quais em nove se verificou deflação.
