*Por Paulo do Carmo Martins e Samuel José de Magalhães Oliveira, Pesquisadores em economia da Embrapa Gado de Leite, e Manuela Sampaio Lana e Alziro Vasconcelos Carneiro, Analistas em economia da Embrapa Gado de Leite
Elevação no custo da ração impactou o custo total
O 2º semestre do ano iniciou com reversão de tendência e a inflação de custos está de volta. Os custos de produção de leite interromperam uma trajetória de queda contínua desde abril. Em julho houve inversão desta tendência e os custos registraram expressiva alta, com destaque para a alimentação baseada em milho e soja, cereais que tiveram recuperação de preços no início do mês, impactando os custos de alimentação, principalmente a ração comprada pronta.
O grupo Concentrado fechou o mês com inflação de 1,60%. Outros dois grupos contribuíram para o retorno da inflação de custos. O grupo Sanidade e Reprodução registrou uma alta de 1,30% e o grupo Energia e Combustível de 0,60%, motivada principalmente pelo aumento do preço dos combustíveis. O grupo Qualidade do Leite também registrou variação positiva de custos (0,20%).
Dois grupos registraram queda de custos. O grupo Minerais teve variação de preços de – 2,90% e os custos de produção de Volumosos de – 0,60%. O grupo Mão de obra não registrou variação e o de Sanidade e Reprodução registrou um aumento de 1,30% nos custos no mês. Os dados constam do Gráfico 1.
A variação de custos nos sete primeiros meses do ano mantém a tendência de deflação de 4,30%. A alimentação dos animais é que explica este desempenho, pela magnitude de variação registrada e pelo peso que o item tem na produção de leite. O grupo Concentrado teve variação de – 13,30%, seguido pelo grupo Minerais, com – 12,40% e o grupo Volumosos, com deflação de – 11,80%.
Quatro grupos registram inflação no acumulado do ano. O grupo Qualidade do Leite teve um aumento de custos de 22,10%, seguido pelo grupo Energia e Combustível, com 18,70%, pelo grupo Mão de Obra com 11,30% e pelo grupo Sanidade e Reprodução, com variação de 3,90%. Os dados constam do Gráfico 2.
Em doze meses, o ICPLeite/Embrapa acumulou uma variação de – 4,50%. Os itens de custos que têm formação de preços no mercado internacional tiveram forte elevação no 1º semestre de 2022, em função as expectativas criadas pelo início da Guerra na Ucrânia. Mas, nos meses subsequentes, os preços foram caindo e isso explica, em grande parte, a retração verificada. A diminuição ocorreu em três grupos. Volumosos, Concentrado e Minerais.
Assim, dado o peso relativo da alimentação no custo de produção de leite, representado pelos grupos citados, o ICPLeite registrou deflação no acumulado de doze meses, mesmo com quatro outros grupos apresentado elevação de preços nos itens que os compõem. Os dados são apresentados no Gráfico 3.
A deflação nos preços dos insumos ainda reflete a súbita elevação dos seus preços, ocorridos no 1º semestre de 2022. A tensão gerada pela guerra entre Ucrânia e Rússia promoveu um “overshooting”, ou seja, uma brusca elevação nos preços, motivado pelas incertezas iniciais. Com o passar dos meses este quadro de instabilidade foi se dissipando, com reflexos diretos no ICPLeite.
O Gráfico 4 mostra a tendência de queda no custo de produção de leite ao longo de doze meses e a inflação de custos registrada em julho interrompe este processo contínuo. O mês de agosto irá mostrar se nova tendência altista estará se configurando ou se julho foi apenas um “soluço”.