Por Mauro Zafalon
O mercado internacional de grãos voltou a ficar nervoso. Uma série de fatores permitiu uma nova aceleração de preços na Bolsa de Chicago, o que provoca efeito em todo o mercado internacional. Um dos motivos foi a Cúpula da China, realizada na semana passada. Soja e milho são produtos importantes na produção de combustíveis renováveis.
Essas altas não deixam de se refletir no Brasil, que já está com preços elevados devido a exportações, demanda interna aquecida e cotação do dólar.
O efeito prático das promessas de adoção de novas políticas de redução de gás carbônico, por diversos governantes, ainda está distante, mas o mercado não perde a chance de promover altas ou baixas em situações como esta.
A situação do clima nos Estados Unidos, que começam a efetuar o plantio de milho e soja, também trouxe incertezas para o mercado. Um frio intenso e fora do normal na semana passada travou a semeadura do milho.
É para esse produto, que registra incertezas de mercado em vários países, que se deslocam as atenções, afirma Daniele Siqueira, da AgRural. A analista destaca problemas com a safrinha brasileira, que perde produtividade devido à seca em várias regiões produtoras. Isso diminui o potencial do país no mercado externo.
Estimada em 80.1 milhões de toneladas, a safrinha deverá ficar próxima das 77.5 milhões neste ano, segundo estimativas atuais da AgRural. Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul apresentam as piores condições climáticas, mas o clima seco de outras regiões também preocupa.
Apesar dessa quebra na produção, o volume esperado para este ano ainda é superior ao de 2020, devido ao aumento de área semeada.
Argentina e China
A ameaça do governo da Argentina de elevar o imposto de exportação sobre o milho também ajuda a manter os preços internacionais aquecidos, segundo Siqueira.
Os argentinos são os únicos que têm milho para vender no momento. Os estoques americanos estão baixos; os ucranianos tiveram quebra de safra; e os brasileiros seguram o cereal à espera de preços melhores.
Os passos da China também são importantes para esse mercado. Grandes consumidores de milho, os chineses têm clima seco em várias áreas de produção do país.
Além disso, o aumento de consumo interno e a reposição dos estoques do cereal fizeram a China importar 23.1 milhões de toneladas dos Estados Unidos nesta safra. Na anterior, haviam sido apenas 880.000 toneladas.
A queda do dólar, em relação a uma cesta de outras moedas, aumenta a competitividade do produto americano no mercado internacional e ajuda a incrementar os preços, afirma Siqueira.
Altas
As altas dos últimos dias afetaram, ainda, a soja e o trigo. A oleaginosa está com os maiores preços em oito anos. Uma das grandes pressões sobre a soja vem da demanda por óleo, segundo Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. Os óleos vegetais devem manter valores aquecidos devido à demanda por biodiesel.
Mas Brandalizze acredita que os preços das commodities podem estar no limite de alta. Tanto para o mercado consumidor humano como para o de rações animais, os preços atuais são inviáveis.
Ele espera que, com o avanço do plantio nos Estados Unidos, haverá uma acomodação desses valores para baixo. Um recuo próximo de 10%. Afirma, no entanto, que os preços vão se manter em patamares elevados, inclusive em 2022. “O consumo é maior do que a produção, e os estoques estão baixos. Não há espaço para uma queda repentina”, diz Brandalizze.
O vencimento julho do milho e da soja registraram, nesta segunda-feira (26), as maiores altas desde julho de 2013. O milho foi cotado a US$ 6,57 o bushel (25,4 quilos) na Bolsa de Chicago, e a máxima da soja atingiu US$ 15,45 o bushel (27,2 quilos).
Fonte: Folha de S.Paulo
Equipe SNA