Não. Não se trata de combinar um cafezinho, tomado depois de saborear uma feijoada, o que vai bem, para tirar a sonolência.
Aqui a combinação é no campo, na lavoura, onde a cultura do feijão se mostra muito adequada ao seu cultivo intercalar, nas ruas do cafezal. De fato, o feijoeiro apresenta características positivas, para aproveitar áreas livres no meio da lavoura de café. As plantas de feijão têm porte baixo, ciclo curto e pertencem à família das leguminosas, tudo isso leva à sua pouca concorrência com os cafeeiros. Junte-se a essas características agronômicas favoráveis, a boa condição de preços, que o feijão tem alcançado no mercado.
No passado, os produtores familiares e mesmo os parceiros usavam, em maior escala, culturas intercalares nos cafezais, obtendo, delas, suporte na alimentação própria, além de sobras para venda.
A dificuldade de mão-de-obra e a necessidade de mecanizar os tratos nos cafezais trouxeram drástica redução no uso de cultivos intercalares. Porem, temos visto, ultimamente, uma retomada desses cultivos, devendo tratar-se de aperto, diante da crise econômica atual e do custo alto do feijão.
A retomada de plantios de feijão, em maiores áreas, nas propriedades cafeeiras, é muito adequada, pois, com a ampliação que vem ocorrendo no plantio de café e com maior uso das podas, extensas áreas de cafezais estão disponíveis, com espaço livre nas ruas da lavoura. Ali, cultivar feijão é muito melhor do que cultivar mato. As prioridades para o cultivo intercalar são, portanto, em cafezais na fase de formação ou no pós-poda drástica (recepa/esqueletamento), ou mesmo em lavouras que, por outras razões (granizo, geada, estiagem, etc.) se encontram em recuperação.
Faz alguns anos atrás, na época do IBC, num período em que faltava feijão, realizamos campanha do seu plantio no meio do cafezal, tendo havido sucesso, pois se conseguiu, num só ano, plantar 400.000 hectares dessa cultura, boa fornecedora de proteína.
O Brasil, ainda, é o maior produtor e consumidor de feijão. A feijoada é um prato típico nacional, mas o feijão nem sempre. O consumo de feijão pelos brasileiros vem caindo, de 26 kg por pessoa na década de 60, para 19 kg em 90 e 15 kg per capita, atualmente. A área plantada caiu de 5-6 milhões de hectares/ano na década de 90 para cerca de 3 milhões de hectares/ano na atualidade. A produtividade compensou, em parte, as safras.
A cafeicultura tem condições de fomentar o plantio de feijão. Não se justifica importar- nem feijão, nem café.
J.B. Matiello e S.R. Almeida – Engs. Agrs. Fundação Procafé e C.A. Krohling – Eng. Agr. Incaper
Fonte: Procafé