Crise do etanol segura plano de usinas de biomassa

dados oficiais apontam que, atualmente, há 58 usinas de biomassa outorgadas pela Aneel com previsão de iniciar operação comercial até 2020. A realidade, porém, é que apenas 14 usinas estão com seus cronogramas em dia.
Dados oficiais apontam que, atualmente, há 58 usinas de biomassa outorgadas pela Aneel com previsão de iniciar operação comercial até 2020. Porém, apenas 14 estão com cronogramas em dia

A crise que toma conta da indústria do etanol passou a contaminar os projetos de geração de energia alimentados pelo bagaço de cana, uma fonte que hoje responde por 9,2% de toda a capacidade instalada de energia no País.

A maior parte das usinas de biomassa em construção vive situação preocupante de atraso ou simplesmente não tem mais previsão para conclusão. Aquelas em situação financeira mais grave já deram início a processos de revogação de contratos com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A geração por biomassa equivale a toda a capacidade produzida por usinas movidas a carvão, óleo diesel e nuclear-um conjunto de 1.224 usinas que entregam 10% do parque instalado de energia.

Os dados oficiais apontam que, atualmente, há 58 usinas de biomassa outorgadas pela Aneel com previsão de iniciar operação comercial até 2020. A realidade, porém, é que apenas 14 usinas estão com seus cronogramas em dia. Em 20 empreendimentos, a situação é de alerta e tudo indica que haverá novos adiamentos.

Para 24 projetos, contudo, o cenário é crítico: oito deles estão com proposta de revogação de contrato em andamento, 13 estão sem perspectiva de início de obras e três estão parados.

“Isso é o reflexo da situação difícil que todo o setor vive no País. É um efeito dominó. As usinas de açúcar e álcool passam por complicações devido ao alto grau de endividamento”, diz Newton Duarte, presidente da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen).

A origem de todos os problemas, criticam os especialistas, está na política de controle de preços da gasolina imposta pelo governo, o que tira a competitividade do Etanol nos grandes mercados consumidores do país. “Essa falta de política para o Etanol nos levou a ter hoje 70 empresas em situação financeira extrema, com paralisação de operações ou em processo de recuperação judicial”, diz Duarte.

A geração de energia a partir da biomassa é feita hoje por 486 usinas noPaís, que somam capacidade de 12.056 megawatts.

Aoferta de energia dessas usinas, geração que a princípio tinha o propósito de autoconsumo, acabou se convertendo em um integrante importante na matriz elétrica nacional – sobre tudo, em um momento em que o País precisa poupar água em seus reservatórios para garantir o abastecimento.

Apesar do cenário nebuloso, os especialistas apostam numa possível retomada dos projetos de geração a biomassa, a partir do leilão de energia chamado “A-5”, marcado para 28 de novembro, quando serão contrata- das usinas de todas as fontes para entrada em operação daqui a cinco anos. Um total de 32 projetos de térmicas abiomassa seca-dastrou para o leilão, com previsão de entregarem até 1.917 megawatts de energia. Dos 32 cadas-tradospara o leilão, dez térmicas estão previstas para São Paulo.

Para esses empreendimentos, o governo fixou um preço-teto depagamentopormegawatt/ho-ra,de R$ 197.Vence oleilãoaque-le que apresenta omaiordeságio emrelaçãoaessepreço.Aavalia-ção no setor é de que o preço permitirá competição entre as empresas, com possibilidade de que ao menos metade da energia cadastrada seja efetivamente contratada pelo governo.

POTENCIAL

A evolução da biomassa na matriz energética depende, essencialmente, dacapa-cidade de inovação técnica das usinas sucroalcooleiras. O setor, que inicialmente só usava a biomassa para o autoconsumo, seja em produção decalor ou de eletricidade, passou a ser um exportador de energia para a matriz elétrica do país. As estimativas apontam que o negócio de energia com o bagaço pode responder por mais de 10% do faturamento dessas empresas.

A União da Indústriade Cana-de-açúcar (Unica) diz que a bioeletricidade tem um potencial de mais de 13 mil megawatts médios no Brasil, o equivalente a quase três vezes a energia firme a ser entregue pela hidrelétrica de Belo Monte.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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