O agronegócio está descobrindo boas oportunidades de desenvolvimento na área digital, em meio à crise do novo Coronavírus. A observação foi feita pelo diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e professor da USP/Ribeirão Preto e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcos Fava Neves. Ele participou nesta terça-feira de uma live promovida pela Agrishow, feira internacional de tecnologia agrícola.
“Nunca vi algo em tão pouco tempo impactar as cadeias produtivas. O digital veio para ficar. Todos entenderam que tudo pode funcionar dessa forma. Creio que vamos sair dessa crise muito melhores, renovados e muito mais fortes tanto no virtual quanto na ação coletiva, solidária, e na valorização do agro brasileiro”, disse Neves, citando como exemplos de avanços na área digital os atendimentos técnicos, a realização de encontros e a criação de aplicativos que conectam produtores, consumidores, caminhoneiros disponíveis para frete, entre outros.
“Esse é um novo momento de transformação do agronegócio. É uma oportunidade para cadeias produtivas, biocombustíveis e o digital”, reforçou o diretor da SNA.
Protagonismo
Durante a live, Neves voltou a falar sobre a possibilidade de o Brasil ser protagonista no fornecimento global de alimentos e também no setor cooperativista.
“Há risco de faltar alimentos no mundo devido à interrupção de trabalho em algumas cadeias e à proibição de exportações. Nos Estados Unidos, por exemplo, grandes redes de frigoríficos fecharam”, disse o professor da USP. Neste contexto, ele afirmou que Brasil ganha importância no cenário internacional do agro como “produtor de comida”.
Ao comentar sobre a importância do cooperativismo nesse contexto, o diretor da SNA enfatizou que “as cooperativas brasileiras não precisam competir entre elas pra ver qual vende mais para o mercado internacional”, e sugeriu a formação de um grupo onde cada cooperativa manteria sua identidade e administração independentes, mas que pudessem atuar coletivamente no âmbito comercial. “Assim há força. Porque se há competição, é o comprador que manda no preço”, afirmou Neves.
Agro soberania
Para ele, o Brasil é um celeiro e tem olhar diferenciado do mercado internacional. “É preciso aproveitar isso e trabalhar com mais inteligência e coordenação no que eu chamo de uma combinação de agro soberania com neonacionalismo, ou seja, pensar como fortalecer o poder de venda dos alimentos que produzimos e como podemos agregar valor a isso. Nós vamos fornecer alimentos com segurança, mas vamos ditar as regras do jogo”.
Abertura de mercado
Segundo Neves, diversos países já começaram a fechar acordos com o Brasil abrindo mercado nesse momento de crise. “Somente em março, Egito, China, Indonésia, Emirados Árabes, Kuwait e Argentina habilitaram frigoríficos de carne bovina, frango, tilápia e genética bovina e de aves”.
Ao comentar que o Brasil não utiliza nem 10% de seu território para a agricultura, o diretor da SNA afirmou que, mesmo assim, o País se destaca como potência alimentar e ambiental, sendo capaz de assumir a posição de fornecedor mundial “com uma coordenação mais forte”.
Fronteiras agrícolas
Neves também falou sobre a possibilidade de expansão das fronteiras agrícolas, e afirmou que é preciso ampliar essa área em um milhão de hectares por ano.
“A pecuária produz perfeitamente em pequenas áreas. Temos um ótimo trabalho de logística, concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos e a atuação do exército na construção de infraestruturas que podem remover a falta de competitividade em algumas regiões extremas do País, com investimentos em agricultura e geração de empregos para populações locais”.
Fontes: Dr.Agro/Agrolink
Equipe SNA