A demora no andamento do plano federal de infraestrutura e a falta de regulamentação e regras claras têm frustrado representantes do agronegócio, e para muitos os gargalos logísticos já são considerados atualmente o maior entrave competitivo do setor atualmente.
“O produtor brasileiro tradicionalmente reclama das taxas cobradas no Brasil. Isso sempre foi a queixa número um, mas nos últimos meses mudou. Em minhas conversas com eles, a reclamação maior agora é a logística”, disse o holandês Floris Bielders, presidente da Mosaic Fertilizantes no Brasil, em evento realizado pela Amcham ontem em São Paulo. “Os portos são antigos, ineficientes, caros e foram engolidos pelas cidades. Não têm como expandir. E 90% de tudo o que entra e sai das fazendas vem por estradas”.
Segundo o executivo, que assumiu em fevereiro a presidência da subsidiária brasileira da maior produtora global de fertilizantes derivados de fosfato e potássio combinados, é preciso que o governo federal acelere os processos e deixe a iniciativa investir. “O governo não precisa investir nada. A iniciativa privada faz isso. Mas permita que ela faça”, disse, em alusão à demora na implementação do novo Programa de Investimento em Logística (PIL2), anunciado em junho pela presidente Dilma Rousseff com a expectativa de atrair R$ 198 milhões em investimentos. Desde o lançamento, nenhuma obra de infraestrutura foi licitada.
“O progresso no Brasil é frustrantemente lento”, disse o diretor-superintendente da Hamburg Sud, Julian Thomas. “O plano de logística é uma luz no fim do túnel, mas espero que não seja um trem vindo na direção contrária”. Ou, como emendou Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura: “É a luz no fim do túnel, mas o túnel é longo e a luz é fraca”.
Thomas se queixou, ainda, da interferência ideológica nos debates e a “barreira de burocracia” no país, sobretudo em questões ambientais. Citou como exemplo investimentos travados no porto organizado de Santa Catarina, que há três anos aguarda pela liberação do IBAMA.
Bielders, da Mosaic, ressaltou que a companhia ainda vê potencial no Brasil, onde já investiu quase US$ 400 milhões no país. Mas também teme que o produtor brasileiro deixe de usar a lógica e adote a emoção ao tomar decisões. “Há um ambiente de medo no País”. Para Rodrigues, o maior temor é que a “briga intestinal” entre os partidos políticos leve à redução do rating do Brasil e a perda do grau de investimento. “A crise vai chegar ao agronegócio. Na safra passada, plantamos a US$ 2,70 e colhemos a US$ 3,20. Na próxima, a que dólar vamos colher?”
Fonte: Valor Econômico