O aumento das tarifas fixadas pelo Plano Safra, a aplicação de juros livres e o salto do dólar dificultaram a concessão de crédito rural pelos bancos. Mesmo assim, até o momento, os produtores utilizaram o mesmo percentual de recurso próprio para custear a safra. A diferença é que, atualmente, para manter este nível é necessário mais dinheiro.
A primeira Sondagem de Mercado do Agricultor Brasileiro, novo indicador lançado na última semana pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) em parceria com a Organização de Cooperativas Brasileiras (OCB), estima que nas safras 2014/ 2015 e 2015/ 2016 o percentual de capital próprio utilizado na lavoura permaneceu estável em 35%.
“Parece igual, mas do ponto de vista absoluto representa muito mais. O dólar subiu e grande parte dos insumos é indexada à moeda norte-americana. Com isso, você precisa de um volume de recursos maior para manter essa igualdade no percentual”, explica o gerente do departamento do agronegócio da FIESP, Antonio Carlos Costa.
O estudo destaca esse incremento no desembolso do agricultor, uma vez que os custos de produção avançaram entre 15% e 20% neste ciclo.
Os bancos públicos seguem na liderança entre as fontes de crédito, e responderam por 38% da origem dos financiamentos na safra passada, com variação de apenas um ponto percentual para baixo em 2015/2016.
Muito se falou a respeito de um avanço nas operações de “barter” (troca de insumos por produto agrícola) e nas tomada de crédito direto com as tradings ou fornecedores, como alternativa à recessão praticada pelas instituições financeiras.
No entanto, o levantamento mostra que a busca efetiva por estas fontes variou entre 1% e 3% tanto na temporada de 2014/ 2015 quanto nessa. Costa diz que o montante financiado com os bancos públicos é muito alto, logo, mesmo com as dificuldades de acesso, o produtor quase não consegue repassar o volume para outras fontes.
Em linhas gerais, com uma estrutura de safra parecida com a praticada no ano passado, “entendemos que o volume total de crédito, venha de onde vier, vai ser maior e a demanda por estes recursos também. A necessidade é maior e esse financiamento está mais caro”, disse o executivo.
Temor
A partir do último trimestre de 2014, acendeu-se uma luz amarela na questão crédito, que se intensificou em 2015 com a falta de recursos para o pré-custeio. Para o gerente da Fiesp, a possibilidade deste cenário se repetir no ano que vem já preocupa o setor. Quando os produtores são questionados sobre os entraves da atividade, conta o executivo, o financiamento aparece entre os principais.
Mesmo após o início do plantio de verão, o vice-presidente da Associação de Produtores de Soja e Milho do Estado do Mato Grosso (Aprosoja) para a região Leste, Endrigo Dalcin, diz que ainda há dificuldade no acesso ao crédito com juros controlados. “Se o câmbio não tivesse nos ajudado [com o incremento da receita] nós teríamos problemas para fechar a conta”, ressalta.
Diante deste cenário, última semana, o superintendente do Banco do Brasil em Mato Grosso, Sérgio Luís Cordeiro Oliveira, garantiu aos produtores que não faltarão recursos para a safrinha de milho na região. “Nos próximos dias, estará comunicando oficialmente que já há recursos aportados para esta safra”, disse em nota.
Fonte: DCI