Cresce exportação de lácteos para a Rússia

A retaliação da Rússia à União Europeia e a outros países do Ocidente, em resposta às sanções que vem sofrendo por conta do conflito na Ucrânia, abriu uma oportunidade para os exportadores brasileiros de lácteos. Desde julho deste ano, quando a Rússia abriu efetivamente seu mercado aos lácteos do Brasil, as negociações entre as empresas brasileiras e importadores russos para a venda de queijos e manteiga estão aquecidas e os embarques já concretizados também avançam. E a expectativa é que os volumes exportados cresçam nos próximos meses.

De janeiro a setembro, a receita com os embarques dos dois produtos somou quase US$ 1 milhão. Foram 182 toneladas de manteiga e 118 de queijos. Ainda são volumes pouco significativos, mas o potencial é de crescimento, uma vez que a Rússia tem hoje poucas possibilidades de fornecedores no mercado e as vendas estão apenas começando.

De acordo com Marcelo Costa Martins, diretor-executivo da Viva Lácteos, que reúne empresas do segmento, a expectativa é que as exportações de manteiga alcancem 450 toneladas este ano e as de queijos, 350. “Para o ano que vem, se tudo andar bem, temos espaço para pelo menos dobrar essa quantidade”, afirmou.

Uma das empresas que estão prestes a embarcar queijos para a Rússia é a Laticínios Tirolez. De acordo com Cícero Hegg, diretor comercial e de marketing da companhia, o primeiro embarque da Tirolez ao país será nesta segunda-feira. Serão 22 toneladas de queijo gorgonzola. No dia 26 de outubro, haverá outro embarque, mais uma vez de 22 toneladas, de queijos variados. “Os russos são grandes consumidores de lácteos e não são autossuficientes”, observa Hegg. A expectativa, afirma o empresário, é embarcar à Rússia de 40 a 50 toneladas de queijos por mês, “pelo menos”, nos próximos 12 meses.

Já a mineira Itambé, joint venture entre Vigor e Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR), estima embarques mensais de 100 toneladas de manteiga à Rússia. Segundo Ricardo Cotta, diretor de relações institucionais da companhia, há demanda para volumes maiores, mas não há capacidade para atendê-la porque não há matéria gorda suficiente para produzir mais manteiga. Para isso, seria necessário ampliar a produção de leite desnatado, já que a gordura do leite é a matéria-prima para a manteiga.

Até o ano passado, o Brasil não podia exportar à Rússia, mas a impossibilidade de comprar de vários países por causa das sanções levou Moscou a rever as regras que norteiam a importação. Antes disso, a Rússia só permitia a compra de produtos lácteos (leite em pó, manteiga, queijo e outros) de países livres de brucelose e tuberculose no rebanho bovino. Mas pôs fim à exigência e assim foi possível firmar um certificado sanitário internacional com o Brasil, que ainda não é livre das duas doenças.

As negociações para o estabelecimento do certificado sanitário internacional para a exportação de lácteos à Rússia começaram em junho do ano passado, segundo Marcelo Costa Martins, da Viva Lácteos. Em um período de três meses, foram identificados os requisitos sanitários para a exportação e houve inspeção de unidades por parte dos russos. Então, em setembro do ano passado, foram habilitadas 12 unidades e os primeiros embarques começaram.

A BRF, que então ainda não tinha transferido sua área de lácteos para a Lactalis, teve planta habilitada, aproveitou seu conhecimento do mercado russo – para onde já exporta carnes – e vendeu volumes significativos de manteiga. Nos três últimos meses de 2014, quando a demanda russa já era forte em função das sanções, foram 838.4 toneladas.

Além disso, a BRF também foi a responsável pela exportação, em maio, de 182 toneladas de manteiga àquele país.
Em julho deste ano, outras 11 plantas de lácteos do Brasil foram habilitadas a exportar para a Rússia. Agora, são 23 autorizadas.

O diretor-executivo da Viva Lácteos admite que a recente valorização do dólar ante o real e a melhora dos preços dos lácteos no mercado internacional também favorecem os embarques brasileiros à Rússia. Ele avalia que o Brasil pode se tornar um fornecedor mais constante para a Rússia por conta do embargo do país a outros exportadores de lácteos. Ele afirma haver uma percepção de que os russos têm tentando diversificar seu leque de fornecedores.

“Duas a três vezes por semana, recebemos consultas de importadores russos interessados em queijo e manteiga”, afirma.

Hegg, do Tirolez, acredita que a demanda forte por produtos do Brasil “vai durar o tempo que durar o embargo” do Ocidente ao país. Mas o empresário se diz “realista” e observa que os lácteos produzidos nos países europeus, mais próximos da Rússia, têm preços mais competitivos.

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Balança do segmento tem déficit

De janeiro a setembro deste ano, a balança brasileira de lácteos ficou deficitária em quase US$ 90 milhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic) compilados pela Viva Lácteos. As importações de produtos como leite em pó, manteiga, queijos somaram US$ 318.3 milhões, enquanto as exportações alcançaram US$ 228.7 milhões.

As estatísticas mostram que a Venezuela foi o principal destino das exportações brasileiras de produtos lácteos no período. Os itens exportados ao país – principalmente leite em pó – geraram um receita de US$ 166.49 milhões entre janeiro e setembro. A seguir, veio a Arábia Saudita, para onde foram exportados o equivalente a US$ 9.67 milhões, e Angola, com US$ 9.22 milhões.

Os números mostram uma forte dependência da Venezuela, que está em crise econômica e enfrenta escassez de alimentos. Como revelou o Valor, em agosto e setembro a holding J&F, que controla JBS, Vigor (sócia da Itambé) e Flora, foi uma das principais fornecedoras de leite em pó ao mercado venezuelano. E as vendas têm sido com preços bem superiores aos de mercado, porque são feitas sem carta de crédito e com prazo de pagamento de 90 dias. Além disso, a J&F fica responsável por armazenar o produto – que é exportado a granel – naquele país, embalá-lo em pacotes de 1 quilo e distribuí-lo.

De janeiro a setembro deste ano, o principal produto exportado pelo Brasil foi o leite em pó integral. Foram US$ 162.9 milhões do produto. A seguir veio o leite condensado (US$ 33.02 milhões) e depois o leite modificado (US$ 9.75 milhões), conforme os dados compilados pela Viva Lácteos.

 

Fonte: Valor Econômico

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