Crédito rural com juro controlado ganha peso em tempos de pandemia

Os desembolsos de crédito rural começaram a nova temporada com recorde. No mês passado, o primeiro da safra 2020/21, alcançaram R$ 24.1 bilhões, 50% mais que um ano antes e o maior valor registrado para um mês de julho, segundo dados do Banco Central.

O montante destinado a empréstimos para operações de custeio, investimentos, comercialização e agroindustrialização representou por 11% do total de R$ 236.3 bilhões disponível até o fim de junho do ano que vem, e o avanço foi puxado pela forte demanda por recursos com juros controlados.

O maior salto foi nas operações de investimentos. O valor acessado mais que dobrou e chegou a R$ 5.2 bilhões em julho. “Isso significa que o produtor está acreditando na atividade no médio e longo prazo”, disse Wilson Vaz, diretor de Financiamento e Informação do Ministério da Agricultura, durante evento online.

Historicamente, segundo ele, as contratações em julho respondem por entre 4% e 7% do total reservado para a safra, e o resultado deste ano surpreendeu.

Só no Moderfrota, linha destinada à aquisição de máquinas agrícolas que vinha apresentando resultados abaixo do esperado em 2019/20, em parte devido ao cancelamento de feiras agropecuárias por causa da pandemia, as liberações somaram R$ 1.2 bilhão em julho.

No caso de programas como ABC (agricultura de baixo carbono), PCA (armazenagem) e Inovagro (inovação em fazendas), prioritários para o governo, os desembolsos dobraram.

As linhas para a modernização da atividade (Moderagro) e para a compra de equipamentos de irrigação (Moderinfra) registraram resultados ainda melhores. As contratações aumentaram até seis vezes em relação a julho do ano passado.

Os produtores também acessaram mais empréstimos para garantir o fluxo de caixa. Os recursos para custeio avançaram quase 40%, para R$ 15 bilhões no mês passado. Os financiamentos nessa frente via Pronaf (agricultura familiar) cresceram em proporções ainda maiores e no Pronamp (médios produtores) subiram 32%.

Em meio à maior aversão ao risco dos bancos por causa das incertezas provocadas pela pandemia, o acesso aos recursos controlados aumentou quase 62% em comparação a julho de 2019. Mais de 80% dos empréstimos foram feitos com dinheiro de fontes controladas.

“O mercado bancário está retraído para fontes livres e os produtores estão utilizando os recursos controlados com mais força. É nessas horas que o crédito controlado mostra suas múltiplas vantagens”, disse Rogério Boueri, subsecretário de Política Agrícola e Meio Ambiente do Ministério da Economia, no mesmo evento do qual participou Wilson Vaz.

A poupança rural, que tem juros equalizados com recursos do Tesouro Nacional, foi a principal fonte dos desembolsos no primeiro mês da safra 2020/21. Foram mais de R$ 9.4 bilhões contratados, três vezes mais que em julho de 2019. As Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), com taxas livres, apresentaram queda de 37% menor, para R$ 1.6 bilhão.

“Esperamos que tão logo a pandemia passe, os bancos voltem a ofertar recursos livres, sobretudo para os produtores mais estruturados”, afirmou Vaz.

Para Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e vice-presidente da Comissão Nacional de Política Agrícola da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), outro dado positivo foi o aumento de 24% nos números de contratos, que totalizaram 218.000 no primeiro mês da temporada.

“Há um crescimento forte do número de contratos, contrariando a trajetória dos planos anteriores. Significa que mais gente está acessando o Plano Safra e, quem sabe, (estamos) recuperando pessoas que estavam fora do sistema”, disse. O Rio Grande do Sul foi o estado com maior número de operações (mais de 50.000) e maior valor contratado (R$ 4.4 bilhões), seguido de Paraná, Minas Gerais e São Paulo.

Mesmo com maior concorrência, o Banco do Brasil continuou a liderar com folga o mercado de crédito rural. A instituição registrou mais de R$ 9 bilhões em contratações em julho, valor 50% superior ao apurado no primeiro mês do ciclo passado. O Sicredi (instituição financeira cooperativa) e o Bradesco também tiveram bons desempenhos e liberaram, juntos, R$ 6 bilhões.

“Por mais que a economia mundial esteja sofrendo por causa de aspectos relacionados à pandemia, os produtores acharam uma maneira de se adaptar à nova realidade e, mais uma vez, estão mostrando otimismo e capacidade gerencial”, afirmou Álvaro Tosetto, gerente executivo de Agronegócios do BB.

 

Valor Econômico

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