Crédito impulsiona cadeia do frango

Mais do que o consumo crescente ou a queda nos custos, o crédito facilitado vem dando fôlego à expansão da avicultura. Em um modelo que aproxima bancos, integradoras e produtores, o setor contrata financiamentos com flexibilidade no pagamento e menor exigência de garantias. O resultado são granjas que passam a ser vistas como um investimento, despertando o interesse até do público urbano.

A atividade representa um negócio milionário dentro das instituições financeiras. Nos últimos dois anos e meio, o Banco do Brasil registrou R$ 380 milhões em contratações de operações de investimentos nas granjas. Volume semelhante, R$ 400 milhões, representam os ativos do Sicredi para a avicultura nos estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, utilizando apenas recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Isso ajuda o produtor a ficar mais capitalizado, fazendo com que ele também movimente mais recursos no Sicredi. É uma relação ganha-ganha”, detalha o gerente de Desenvolvimento de Crédito da instituição, Gilson Farias.

O montante expressivo reflete os crescentes investimentos do setor. A construção de uma granja de alta tecnologia pode custar entre R$ 400 mil e R$ 1 milhão, sem considerar o valor da terra. O resultado é avicultores assumindo um perfil empresarial, com olhar atento aos custos e receitas, constata Ildeu Canalli, gerente agroindustrial da GT Foods, de Maringá. Além do aporte financeiro, a construção das granjas inclui etapas burocráticas que abrangem estudos de viabilidade e regularização ambiental.

De olho nesse cenário, as integradoras mudaram a estratégia de atuação. “Temos uma equipe atuando exclusivamente na captação de recursos junto a instituições financeiras e agilizando a parte documental”, explica Canalli. Mesmo nas cooperativas o foco não muda. “Fazemos o projeto conforme a necessidade de pagamento do produtor, que precisa ser associado há pelo menos três anos. Isso reduz o risco e dificilmente um projeto é recusado nos bancos”, aponta Reni Girardi, gerente industrial da C.Vale, de Palotina.

Além do apoio operacional, as empresas também são avalistas dos avicultores junto aos bancos. Isso reduz as garantias reais que os produtores precisam apresentar. Em média, para cada R$ 1 financiado são exigidos até R$ 2,4 em garantias, mas por meio de convênios e acordos essa exigência cai para apenas R$ 1,3. “As empresas também dão uma garantia fidejussória, na qual elas assumem a dívida caso o produtor não consiga pagar. E há um vínculo com o próprio avicultor, para que ele não invista sem garantia de venda depois”, detalha a gerente adjunta de Operações do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Carmem Rodrigues Truite.

O BRDE tem convênios com 18 integradoras e cooperativas, e o produtor pode conduzir todo o processo em agências do Sicredi e Credialiança no próprio município em que reside. Estando com toda a documentação regularizada é possível acessar o recurso em aproximadamente 45 dias. As parcelas do financiamento são descontadas na hora em que as empresas pagam os produtores, após a entrega dos lotes. As linhas mais procuradas são Finame Agrícola, Moderagro e Inovagro, revela Carmem.

Os produtores que usufruem dessas vantagens não reclamam. “Fazer uma granja sozinho é mais difícil. A maior dificuldade não é obter o recurso, mas dar as garantias. Com o apoio da empresa isso muda”, celebra o avicultor Eiremar Carlos da Silva, de Joaquim Távora, que construiu sete aviários desde 2006 na área de 97 hectares, graças ao suporte da integradora, a Frangos Pioneiro. “O resultado positivo da primeira granja me motivou a construir mais duas. É um investimento que se paga”, complementa o avicultor Hugo Manzano, de Maringá.

Indústrias dão trabalho a moradores de cidades vizinhas e estrangeiros

Consolidada no interior, a avicultura ajuda a movimentar economias locais, com a geração de emprego e renda. Nos horários de troca de turno dos frigoríficos é comum encontrar dezenas de ônibus na frente das empresas, trazendo trabalhadores oriundos de municípios vizinhos. A Frangos Pioneiro, de Joaquim Távora (Norte), tem cerca de 60% dos 2 mil funcionários provenientes de outras cidades, conta o gerente de fomento da empresa, Rhoger Henrique dos Santos. Já em Cascavel (Oeste), a Coopavel tem cerca de 10% de mão de obra dos frigoríficos proveniente de países como o Haiti.

As aves também ajudam na arrecadação dos municípios. A C.Vale, de Palotina (Oeste), que importa mão de obra de 28 municípios, distribui também seu Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na região. Ao invés de direcionar todo o recurso para o município sede da indústria, é feito um rateio com base na origem da matéria prima, baseado na cidade onde estão instaladas as granjas. “A indústria pode concentrar toda sua estrutura em uma única cidade, reduzindo custos, mas todos os municípios são estimulados a investir na avicultura”, pontua o gerente industrial da empresa, Reni Girardi.

“Trata-se de uma indústria que atrai outras empresas de serviços. É uma reação em cadeia que ajuda a promover o desenvolvimento da região”, exalta o secretário de Agricultura de Palotina, Carlos Piovezan.

 

Fonte: Agrolink

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