CRAs Verdes de US$ 47 milhões financiam expansão da soja sem desmatamento no Cerrado

O dinheiro dos “green bonds” foi levantado junto aos bancos Santander Brasil e Rabobank – Imagem de Oleksandr Ryzhkov no Freepik

Uma emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) Verdes, anunciada ontem (2), que envolveu diversas instituições financeiras e varejistas, levantou US$ 47.24 milhões (R$ 232.2 milhões) para financiar o aumento da produção de soja com desmatamento zero em 122 propriedades rurais do Cerrado.

Por meio da transação, as fazendas contempladas pagarão taxas de juros inferiores à média de mercado, mediante o compromisso de desmatamento e conversão zero da mata nativa, incluindo os excedentes de reserva legal, ou seja, áreas que poderiam ser desmatadas legalmente. As propriedades ficam nos Estados de Mato Grosso, Goiás e na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), segundo comunicado das instituições envolvidas.

O dinheiro dos “green bonds” foi levantado junto aos bancos Santander Brasil e Rabobank, que aportaram, cada um, US$ 12.62 milhões, bem como com o fundo europeu de investimento de impacto AGRI3, que investiu US$ 11 milhões. Esses recursos se somam a outros US$ 11 milhões alocados pelas varejistas britânicas Tesco, Sainsbury’s e Waitrose em um fundo criado pela iniciativa Responsible Commodities Facility (RCF) em agosto de 2022. O aporte feito à época foi convertido em crédito e integralmente quitado e agora volta a ser concedido a produtores.

A entrada dos novos investidores, Santander Brasil, Rabobank e o fundo AGRI3, permitiu que o fundo da RCF quadruplicasse de tamanho. Os CRAs Verdes foram registrados na Bolsa de Viena, na Áustria, e na B3, no Brasil.

A emissão dos “green bonds” em dólar foi coordenada pela Sustainable Investment Management (SIM), empresa especializada em finanças ambientais e idealizadora do RCF, em parceria com a plataforma de securitização Opea e a Traive, empresa que, por meio de tecnologias de análise, documentação e monitoramento do risco de crédito, conecta produtores rurais e investidores. O escritório Pinheiro Neto Associados prestou a assessoria jurídica e o Santander Brasil atuou como coordenador líder da emissão da série brasileira, segundo o comunicado.

A emissão terá como lastro as 260.000 toneladas de soja estimadas para a safra 2023/2024 provenientes das fazendas envolvidas. Pela operação, será conservada uma área de 43.400 hectares de vegetação nativa, dos quais 11.300 de excedente de reserva legal, capazes de estocar mais de 20 milhões de toneladas de carbono.

Na nota, as instituições participantes explicam que as fazendas seguirão os critérios socioambientais da Iniciativa IFACC (Innovative Finance for the Amazon, Cerrado and Chaco). O cumprimento dos critérios e os impactos ambientais serão continuamente monitorados e reportados a um Comitê de Sustentabilidade, no qual mantêm assento organizações internacionalmente reconhecidas, como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (UNEP), The Nature Conservancy (TNC), BVRio, Conservation International, Proforest Initiative Brasil e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazonia (IPAM).

“Após uma bem-sucedida primeira operação, em que a totalidade do crédito concedido foi quitada e não houve qualquer desmatamento, o programa está agora sendo escalado rapidamente para garantir que mais soja seja produzida e certificada como livre de desmatamento e conversão. Estamos animados para trabalhar com nossos novos investidores e aumentar nossa capacidade de dar escala a essa iniciativa agora e no futuro”, informou na nota o CEO da SIM Brasil, Mauricio de Moura Costa.

“A primeira emissão do CRA Verde em dólar do último ano foi um enorme sucesso entre os investidores, tanto que esse ano a operação aumentou mais de quatro vezes em volume. Estou confiante de que essa demanda continuará a crescer significativamente ano após ano”, indicou o CEO da Traive, Fabricio Pezente. “Este é o segundo CRA Verde em dólar emitido e listado na Bolsa de Viena pela Opea e o terceiro no mercado local. A iniciativa abre uma porteira para que produtores que atuam de forma sustentável acessem recursos no exterior que antes eram apenas para grandes empresas brasileiras que emitem “green bonds””, indicou o sócio e chefe de Agronegócios da Opea, Renato Barros Frascino.

Fonte: Broadcast Agro
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