CPRs e pico de colheita travam recuperação dos preços do arroz

Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Os preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul bateram no fechamento da primeira quinzena de maio com uma recuperação mínima e muito abaixo do necessário para fazer frente aos custos médios da safra 2017/18. A dimensão da safra, o momento final da colheita, que concentra a maior oferta e o vencimento dos contratos de financiamento privado, com indústrias e fornecedores de insumos, seguem pressionando os agricultores a venderem o arroz colhido e mantêm a indústria numa posição mais cômoda, de espera. Ou receberá em produto ou em dinheiro, e com juros. E na alta, poderá vender até o arroz em casca com algum ganho.

Livre para o produtor, o mercado gaúcho segue pagando entre R$ 33,00 e R$ 35,00. Mas, com o Funrural, CDO e outros penduricalhos incluídos, colocado na indústria, o saco de 50 quilos de arroz em casca (58×10) é cotado entre R$ 35,50 e R$ 37,00. O indicador Esalq/Senar – RS marcou, nesta quarta-feira, dia 14 de maio, R$ 36,53, acumulando 0,88% de recuperação no mês, o equivalente a US$ 10,08, graças ao comportamento do câmbio que ultrapassou R$ 3,60.

Na última quinta-feira (10/5) os preços foram maiores: R$ 36,63 (1,16% de acumulado) e US$ 10,33 pela cotação da moeda dos Estados Unidos naquele dia. A expectativa é de que o arroz continue a trajetória de valorização e a acelere a partir de junho. Os preços atuais deixam o mercado no “limbo”. Nem há uma recuperação mais célere das cotações, nem o governo federal pode intervir, pois os valores superaram o preço mínimo de garantia (R$ 36,01) para o arroz de 58% de inteiros. A safra gaúcha está chegando aos 5% finais, apesar de pancadas de chuvas terem atrapalhado a colheita das últimas áreas. A expectativa é de uma produção minimamente superior a 8 milhões de toneladas, 120.000 acima do projetado em fevereiro.

A Conab divulgou a sua pesquisa de safra, com projeção de 11.53 milhão de toneladas, levemente acima da expectativa anterior, graças à evolução dos cultivos no Rio Grande do Sul acima do esperado, e em alguns outros estados, mas nada que altere o cenário de oferta e demanda. Expetativa é de que o ano termine com um estoque de passagem bastante restrito, em 567.000 toneladas. O volume pode ser menor se o dólar continuar nos patamares superiores a R$ 3,50, que favorece a exportação e não é tão interessante para o Paraguai, por exemplo. Com uma desvalorização maior do peso, os argentinos começam a ganhar algum fôlego para exportar, enquanto o Uruguai conseguiu descontos nas tarifas de luz, renegociação dos créditos com os bancos oficiais e 15% de desconto de impostos sobre os combustíveis.

Soja

A soja tem sido importante neste momento para os arrozeiros que também optaram pela rotação e o cultivo da oleaginosa. Os bons preços obtidos entre o final de abril e o início de maio aqueceram o mercado e garantiram um reforço de caixa que, para os produtores mais capitalizados permitiu um fôlego e alongou o tempo em que poderá segurar o arroz antes de vender. Isso pode fazer a diferença entre prejuízo e lucro no final do exercício. Quanto mais tempo com o arroz na mão, neste ano, melhor, pois a tendência é de que alta se mantenha no segundo semestre. A valorização do dólar tem ajudado a conter as importações e fortalece as importações. Porém, já começa a fazer efeitos no custo de produção. Alguns insumos já estão 15% mais caros.

Exportação

Algumas tradings e indústrias estavam bastante interessadas na realização de mais um leilão de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) por parte da Conab para garantir o abastecimento de produto que pudesse ser embarcado até setembro e confirmado até dezembro. Mas, com prêmios maiores que os que vinham sendo apresentados nos pregões. Como os preços de mercado já superaram a referência do mínimo governamental, a atividade foi suspensa. A Conab está agendando interessados para as Aquisições do Governo Federal (AGFs), com base no preço mínimo.

Outra boa notícia é a boa demanda por arroz brasileiro para o comércio internacional, graças à valorização do dólar, que bateu em R$ 3,60. Apenas uma trading já tem cargas confirmadas até o final de julho, sendo dois navios por mês (50.000 a 60.000 toneladas). Em Santa Catarina, uma joint-venture entre cinco cooperativas realizará nesta quarta-feira sua primeira exportação de arroz em casca para a Venezuela pelo porto de Imbituba. As exportações brasileiras devem ficar em torno de 100.000 toneladas novamente em maio. Três navios em casca estão saindo, totalizando mais de 60.000 toneladas, entre um e dois navios com mais 35.000 toneladas de quebrados e há previsão de exportação de arroz beneficiado.

Mercado

A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica estabilidade nos preços médios do arroz no Rio Grande do Sul nos últimos 10 dias. A saca de 50 quilos em casca é comercializada a R$ 36,00 e a de 60 quilos de arroz branco (Tipo 1) a R$ 78,00 (sem ICMS/FOB). Os quebrados de arroz seguem bem valorizados, com o canjicão disputado para exportação e pela indústria de rações na faixa de R$ 53,50, a quirera em R$ 43,00, ambos em sacas de 60 quilos, e a tonelada do farelo de arroz a R$ 420,00 FOB.

Preço ao Consumidor

O Dieese, em seu levantamento mensal da cesta básica em 20 capitais brasileiras, apontou uma alta de 2,2% nos preços médios do arroz aos consumidores em 12 delas. A pesquisa está em consonância com a verificação semanal de Planeta Arroz, que vem indicando valores maiores no preço final do quilo. No Rio Grande do Sul nota-se uma variação um pouco mais elevada, sinalizando que o varejo pode estar esperando uma reação maior dos preços no segundo semestre.

O quilo de marcas mais conhecidas, naturalmente encontradas na faixa de R$ 1,78 a R$ 1,95, agora não baixa de R$ 2,38. Variedades como Tio João, Camil e Blueville já são encontradas na rede Walmart, em diversas cidades, acima de R$ 2,60 o quilo. O saco de 5 quilos das marcas mais conhecidas no Rio Grande do Sul superaram os R$ 12,00 de referência e a trajetória começa a ficar mais próxima de R$ 13,00, quando há pouco mais de 30 dias os preços variavam abaixo dos R$ 12,00 em diversas marcas.

Atualmente, apenas produtos regionais e marcas dos supermercados mantêm preços menores. Geralmente entre os dias 25 de um mês e 12, 15 de outro, o valor ao consumidor aumenta por causa da entrada dos salários. Mas, o que se nota é que a retração, com as ofertas entre os dias 15 e 25 de cada mês, não é para os patamares anteriores.

Tendências

Os preços do arroz em casca vão continuar subindo em maio, ainda presos à âncora das CPRs e demais contratos de financiamentos e ao endividamento e amarras de contratos de arrendamento. A expectativa é de que a partir da segunda quinzena de junho acelerem esta recuperação. O problema é que o tempo vai passando e o arroz é a areia na ampulheta do tempo, escorrendo da mão do produtor para o restante da cadeia produtiva mais rápido do que a valorização. E em julho já começa a necessidade de adquirir insumos para a próxima temporada.

 

Fonte: Cleiton Evandro dos Santos – Planeta Arroz

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