Com a conclusão da safra dos Estados Unidos e a colheita já na reta final, os olhos dos mercados pelo mundo se voltam agora para a produção da América do Sul. O momento, como não poderia deixar de ser, é de forte especulação, tanto para a soja quanto para o milho. O quadro climático, portanto, vem sendo acompanhado bem de perto e deverá nortear os preços nos próximos meses, segundo consultores e analistas.
Para o consultor internacional Michael Cordonnier, um dos mais respeitados do setor, a safra sul americana de soja deverá ficar entre 163.9 milhões e 179 milhões de toneladas, com uma média de 172.2 milhões. A safra 2015/16 foi de 165.5 milhões de toneladas.
Argentina
Em sua última estimativa, o especialista reduziu em dois milhões de toneladas o esperado para a safra de soja da Argentina, que atingiu 56 milhões de toneladas em relação aos números da semana anterior, em razão de problemas climáticos que já começam a comprometer os trabalhos de campo. O plantio, afinal, foi iniciado com tempo bastante úmido e frio, e já está em ritmo mais lento se comparado ao ano anterior. Há 11% da área já semeada, contra 20% do mesmo período de 2015 e 18% da média dos últimos anos, de acordo com números da Bolsa de Grãos de Buenos Aires.
“A principal área a ser observada na Argentina será a região sudoeste, incluindo Buenos Aires, o norte de La Pampa e o sul de Córdoba. Essa faixa, de aproximadamente 600 mil hectares, registrou severas inundações na última semana. Partes dessas regiões terão de ser replantadas. O trigo está completamente perdido, a soja vai sofrer um atraso e até mesmo alguns volumes da oleaginosa que estavam estocadas em silo bags também foram perdidas. Assim, qualquer chuva a mais que chegue por lá pode manter os solos saturados por um período extenso de tempo”, disse Cordonnier.
Brasil
Para o Brasil, Cordonnier estima uma safra que pode ficar entre 97 milhões e 104 milhões de toneladas, com uma média de 101 milhões de toneladas. Em sua análise, o consultor afirma que pensou em até elevar suas estimativas, porém, achou mais cauteloso mantê-las inalteradas diante da irregularidade climática que pode ser observada nos últimos dias, apesar de um bom início registrado nos estados de Mato Grosso e Paraná. “O clima foi bom no Brasil, porém, mais seco do que a média na região Sul. E para esta semana, as previsões indicam que essas condições mais favoráveis se mantêm no centro do país, enquanto um padrão de tempo mais seco se desenvolve no Sul”, disse o consultor.
Neste momento, as chuvas devem se concentrar sobre o Centro-Oeste e a região do Matopiba, podendo atrasar o plantio da soja, de acordo com as últimas informações de especialistas. Por outro lado, produtores que aguardaram para realizar a semeadura, em determinados pontos que sofriam com menores volumes de precipitações, foram beneficiados; outros que se anteciparam precisarão fazer o replantio.
Meteorologistas consultados pelo Notícias Agrícolas afirmam que no período de 16 a 20 de novembro, as chuvas poderão ficar mais escassas no Rio Grande do Sul, oeste do Paraná, Santa Catarina, São Paulo e leste do Mato Grosso do Sul. A tendência é até mesmo de desenvolvimento de um veranico nessas áreas. E essas condições já inspiram preocupação entre os produtores, uma vez que a produtividade da soja pode ser comprometida. Afinal, os veranicos ainda poderão ser repetidos e, como explica o meteorologista do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), Luiz Renato Lazinski, existe ainda a possibilidade da chegada de uma nova onda de frio que está subindo da Antártida e deve atingir o sul do Paraná, podendo trazer geadas leves nas áreas de baixada.
“Para o centro-sul do Brasil, são esperadas chuvas mais irregulares e abaixo da média nas próximas semanas, principalmente no Rio Grande do Sul e também na Argentina. Já para o Centro-Oeste e áreas produtivas do Nordeste, as chuvas, que estão atrasadas, devem se regularizar nas próximas semanas, inclusive com volumes acima da média (…). As temperaturas também seguem abaixo da média no sul do Brasil, com a entrada de massas de ar frio de forte intensidade para a época do ano”, disse Lazinski.
E o meteorologista concluiu: “Os agricultores não devem esperar um clima muito favorável, como o que ocorreu nas últimas três safras passadas no sul do Brasil. Por outro lado, as chuvas que não foram muito favoráveis ao desenvolvimento das lavouras no Centro-Oeste e áreas produtivas do Nordeste nos últimos dois anos, devem ser mais abundantes, melhor distribuídas e apresentar volumes acima da média nesta próxima safra de verão, que está começando”. Ainda na América do Sul, Michael Cordonnier estima uma safra de 9.1 milhões de toneladas no Paraguai; 3.1 milhões de toneladas na Bolívia e mais três milhões de toneladas no Uruguai.
Fonte: Notícias Agrícolas