Contratos no setor de algodão são renegociados diante da paralisação de indústrias

Compradores de algodão no país e no exterior estão suspendendo contratos e adiando prazos de pagamento em meio à paralisação das indústrias têxteis.

No mercado interno, fontes do segmento estimam que a demanda deverá cair 75.000 toneladas, para 650.000 toneladas, ao passo que cálculos da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) indicam que o Brasil deixará de embarcar ao menos 100.000 toneladas da pluma neste ano em razão de suspensões ou adiamentos de entregas.

Apesar disso, as exportações deverão bater novo recorde nesta safra 2019/20, que começou em julho do ano passado e terminará no próximo mês de junho, informou Henrique Snitcovski, presidente da Anea.

Preenchidos basicamente com a produção do ciclo 2018/19, os carregamentos da pluma deverão somar 1.95 milhão de toneladas em 2019/20, contra 1.3 milhão na temporada anterior, quando as exportações renderam US$ 2.3 bilhões.

Cerca de 1.7 milhão de toneladas já partiram dos portos brasileiros entre julho de 2019 e março de 2020, com receita de US$ 2.7 bilhões, e, não fossem as renegociações, a barreira de dois milhões de toneladas seria superada, como estava previsto inicialmente pela entidade.

Segundo João Paulo Lefèvre, presidente da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), no caso das exportações, a maior parte dos pedidos de renegociação acontecem com a mercadoria em trânsito, enquanto no mercado doméstico as encomendas já foram entregues e os compradores estão pedindo prazos maiores para o pagamento.

Para Lefèvre, o problema poderá se agravar, já que o sombrio cenário macroeconômico sinaliza que haverá renegociações de vendas antecipadas fechadas a preços mais elevados que os atuais.

Segundo o Presidente da BBM, muitas transações foram feitas no ano passado com a pluma cotada em cerca de US$ 0,80 por libra-peso na bolsa de Nova York, e hoje o valor varia de US$ 0,62 a US$ 0,65.

“Essa diferença é um grande problema para as tradings. No momento, tudo conspira contra o algodão”, disse Lefèvre. “A palavra de ordem agora é proteger o caixa. As fábricas estão paralisadas, pararam de comprar matéria-prima e ainda precisam lidar com a manutenção de funcionários em meio à pandemia. É uma situação muito complicada”.

O presidente da BBM explica que as tradings enfrentam dificuldades para entregar o algodão, já que muitas indústrias estão fechadas ou não dispõem de espaço para armazenagem. Para Levèfre, caso não haja acordo entre as partes, o número de arbitragens no segmento vai aumentar.

Depois de alcançar recorde de 2.8 milhões de toneladas na safra 2018/19 (cerca de 70% do volume já foi negociado), a produção brasileira deverá se manter nesse elevado patamar em 2019/20. “Nossa expectativa é de nova safra recorde, em função do clima favorável”, disse Snitcovski.

Dessa forma, embora a maior parte dos contratos já tenha sido paga aos produtores, até para o custeio da nova safra, o restante poderá ser prejudicado caso a pandemia perdure e as dificuldades dos compradores também. “Se espera que, quando a safra 2019/20 entrar no mercado, no segundo semestre, essa situação já esteja mais definida”, afirmou Lefèvre.

Nesse cenário, Snitcovski alerta para a necessidade de o produtor organizar o armazenamento da pluma enquanto os contratos não são concretizados. “Hoje há uma grande capacidade de armazenamento. Mas, dependendo de quanto tempo durar a pandemia e de quão lenta for a retomada da economia, será necessário ampliar essa capacidade para garantir o fluxo dos negócios”.

 

Valor Econômico

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp