Conjuntura mantém preços firmes para o arroz em casca

O mercado de arroz no Rio Grande do Sul se mantém firme e seguirá sua trajetória de recuperação de preços baseado em fundamentos importantes como a safra menor em 4,6%, baixo estoque de passagem (300.000 toneladas), câmbio favorável à exportação, bom volume de embarques garantido até setembro, pelo menos, dificuldade do Mercosul competir no mercado brasileiro, preços firmes nos Estados Unidos apesar da aproximação da colheita, e demanda interna maior, segundo a Conab.

A safra de 8.4 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul não mostra, neste momento, maior impacto que altere o perfil de mercado, afinal indústrias e tradings disputam o arroz que está na mão dos produtores e os preços sobem sem parar nas últimas semanas. A leitura do mercado é de que a oferta e a demanda estão ajustadas, os preços subirão ainda mais, e quem tem contratos de exportação ou fornecimento precisa se abastecer.

Mesmo grandes indústrias, que o mercado considerava “compradas”, por conta dos contratos de financiamento direto (via CPRs) estão disputando lotes e pagando diferenciais pelo arroz de melhor qualidade.

A demanda também está derrubando os critérios de seleção por variedades. Os grãos de Irga 424 e 424 CL já não estão sendo diferenciados em diversas operações para Guri CL e outras cultivares.

O indicador de preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul Esalq-Senar/RS marcou R$ 41,94 de preço médio no Estado nesta segunda-feira, dia 16 de julho, logo após ter alcançado o maior valor da temporada, em R$ 42,00 na sexta-feira, voltando aos níveis de fevereiro de 2017.

Em julho o indicador acumula elevação de 3,1% e o valor desta segunda-feira equivale a US$ 10,85 por saca. Na segunda-feira, em geral, o mercado opera apenas com sondagens. A partir desta terça-feira espera-se a retomada do aquecimento.

As férias escolares de julho não devem atrapalhar o mercado porque muitas indústrias ainda operavam com ligeiro atraso no escoamento para o varejo devido à paralisação dos caminhoneiros e a nova tabela de frete. Aliás, é corrente que algumas grandes indústrias analisam a formação de frotas próprias se a tabela da ANTT for mantida.

O produto gaúcho, colocado no Porto de Rio Grande, era cotado na semana passada a R$ 47,00 (frete incluso), o que equivale a R$ 41,00 a R$ 42,00 na Fronteira-Oeste e Região Central.

As exportações brasileiras, principalmente de arroz em casca, seguem firmes e há pelo menos mais seis barcos para saírem do país até meados de setembro. Na semana que passou alguns contêineres de arroz branco foram impedidos de entrar nos Estados Unidos em situação que exigiu intervenção das organizações setoriais. Com a forte concorrência do arroz brasileiro, é esperada uma reação mais forte de outros exportadores.

Mercosul

No Uruguai a preocupação é com o fato de apenas 28% da safra estar comercializada, indicador que está bem abaixo da média anual. A expectativa das entidades setoriais é de que os arrozeiros uruguaios reduzam em até 10% a área semeada e a produção.

No Paraguai a expectativa é de que o mercado brasileiro alcance um patamar que permita exportar maiores volumes ao Brasil, enquanto são buscados outros países compradores. A logística vem sendo aperfeiçoada em busca de terceiros mercados. No Brasil a expectativa é de um avanço de 5% na área guarani. A Argentina também deve ter leve recuo na área plantada e vem buscando maior presença em mercados do Oriente Médio, Europa e América Central.

O arroz paraguaio passaria a competir de maneira mais forte com o Brasil a partir do momento em que o mercado doméstico alcançasse média de US$ 12,50 a US$ 13,00, o que equivaleria, pelo fechamento do dólar comercial ontem a R$ 3,861, a R$ 48,26 e R$ 50,20. O ponto de corte seria R$ 49,20 (US$ 12,89 pelo produto colocado em São Paulo – SP). Estes também são valores referenciais para valores competitivos aos uruguaios e argentinos.

Problemas à vista

Mas, se os preços devem garantir a remuneração de alguns produtores que tiveram altas produtividades, custos de produção mais baixos e conseguem agregar valor ao grão ou aguentar a pressão de venda até o segundo semestre, outras preocupações se avizinham. Campanha e Fronteira-Oeste estão com suas barragens com baixo nível de água.

O que poderia ser uma boa notícia para a recomposição dos níveis, a notícia de maior volume de chuvas, acabou se tornando uma preocupação maior ainda: meteorologistas estão prevendo temporada de chuvas acima da média, com 70% de chances de El Niño, com temporais, granizo e enchentes em setembro, outubro e novembro. Depois de um dezembro e janeiro secos, também estão prevendo fevereiro, março e abril de 2019 com novas chuvas e temperaturas médias mais baixas.

Sempre é importante lembrar que as menores produtividades e produções gaúchas acontecem em ciclos de El Niño.

Soma-se a este preocupação, o fato de que a colheita 2017/18 aconteceu, em grande parte, em terrenos úmidos. Mesmo a resteva da soja, que representa de 200.000 a 250.000 hectares, em boa parte apresenta rastros de colheitadeiras e tratores e o preparo antecipado bem atrasado em relação ao ano passado, de inverno seco e quente. É importante lembrar que a safra atual teve 55% da área plantada fora da melhor época – depois de 5 de novembro, e que só se recuperou graças a uma condição de radiação solar muito acima das médias. E em ano de El Niño o que mesmo há é radiação solar.

Endividamento

Para piorar, os arrozeiros do Sul do Brasil se depararam com condições de renegociação de suas dívidas muito abaixo da expectativa. Isto é, o nível de exigência de garantias, documentos, juros e condições para viabilizar o parcelamento, está longe do ideal. E a estimativa é de que poucos produtores tenham reais condições de acessar o mecanismo.

Mercado

A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 42,00 por saca de arroz em casca (50 kg – 58×10), à vista, no Rio Grande do Sul. Já a saca de 60 quilos, branco, Tipo 1, alcança R$ 87,00. A tonelada de farelo de arroz se manteve em R$ 470,00 e a quirera, em sacas de 60 quilos, em R$ 43,00. O canjicão é que perdeu pouquinho do preço, ou R$ 0,50. Baixou de R$ 51,50 para R$ 51,00.

Preço ao consumidor

O preço ao consumidor se manteve mais alto. Aliás, já tem pautado programas jornalísticos como vilão da inflação e artigo que está pesando no bolso dos consumidores. Acontece que no mês passado, em média, os preços do arroz subiram o dobro da inflação. Apesar da variação poder ser contada em centavos, na maioria dos casos, os percentuais acabam gerando manchetes alarmistas. Como tem preço baixo, na faixa de R$ 2,00 a R$ 3,00 por quilo, aliás, entre os mais baratos produtos da cesta básica, e andou com preços muito inferiores ao custo de produção na última temporada, o arroz voltou a preços de mais de uma década atrás.

Na medida em que os valores são recuperados, gradativamente, é natural que esta elevação seja repassada. No entanto, além das pesquisas de preço de cestas básicas, os consumidores vêm reclamando dos novos preços. E exceto a cadeia produtiva, principalmente o produtor, ninguém lembra quem pagou o preço deste arroz barato por mais de um ano.

Tendência

Os preços médios do arroz devem se manter em alta. O entendimento é de que há espaço para valorizar. A tabela de frete, no entanto, começa a “apertar” as margens de tradings e indústrias para escoar o produto da Campanha e Fronteira-Oeste até o porto e os polos de beneficiamento de Pelotas e Camaquã

Por Cleiton Evandro dos Santos – AgroDados

 

Fonte: Planeta Arroz

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