A visita técnica promovida no último dia 15 de julho, durante o Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, deixou boas impressões nos participantes estrangeiros do evento. “Eu não sabia que a ILPF era tão difundida e pesquisada no Brasil, os exemplos mostrados impressionam”, disse Ayaka Kishimoto, pesquisadora sênior em dinâmica de carbono do Instituto Nacional de Ciências Agroambientais do Japão (NIAES) participante do Congresso.
Ayaka e outros 38 congressistas de 15 nacionalidades participaram do dia do evento dedicado a visita ao campo que ofereceu com uma programação em inglês voltada a estrangeiros. O grupo visitou no período da manhã a Fazenda Recreio, no sudoeste do Distrito Federal, e suas áreas de ILPF.
Recebidos pelo proprietário, Elson Cascão, os visitantes passaram por três estações nas quais observaram experiências com diferentes espécies arbóreas. Na primeira, foi apresentada uma pastagem integrada à plantação de eucaliptos. Ao lado, um pasto convencional, sem árvores, serviu de comparativo para exemplificar as vantagens do componente arbóreo no campo.
“Podemos perceber que a presença das árvores além de reduzir a incidência solar, e com ela o calor, também retém mais umidade no pasto, gerando um microclima mais ameno”, explicou o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, que participou da visita.
Outra vantagem da integração foi a qualidade do pasto, visivelmente mais viçoso no sistema integrado. Em ambos, o produtor cria gado nelore. O diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Ladislau Martin Neto, também presente, chamou a atenção para a lotação animal que é maior na pastagem com as árvores.
PASTAGEM COM PLANTAÇÃO DE ACÁCIAS
Na segunda estação, os visitantes acompanharam a integração de pastagem com plantação de acácias. Árvore de interesse da indústria madeireira, a acácia é usada como um investimento de longo prazo pelo produtor.
“Pretendemos vender essa produção em cerca de 20 anos para a indústria moveleira”, informou o proprietário.
Os participantes ainda puderam conhecer a plantação de mogno africano associado à pastagem na última estação da fazenda. “Chamou a atenção o uso de espécies de árvores diferentes numa mesma propriedade, isso não ocorre com frequência na França”, disse Julie Ryschauly, professora assistente do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica da França (INRA) na cidade de Toulouse. Ela também afirmou que os sistemas de integração não são muito comuns em seu país.
O professor Paulo César de Faccio Carvalho, da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) informou que a adoção de sistemas de produção ainda tem muito que crescer no mundo. “Encontramos iniciativas [de implantação de ILPF] no Brasil e na Austrália, mas não há quase nada nos Estados Unidos e Europa”, falou. Por essa razão a visita e o próprio Congresso são importantes para a difusão do novo paradigma de produção.
O presidente da Embrapa elogiou a iniciativa da fazenda Recreio em desenvolver sua produção por meio da intensificação sustentável. “Tem sido feito aqui um trabalho fantástico e que se tornará referência em sustentabilidade”, elogiou Lopes.
INTEGRAÇÃO PODE TRIPLICAR PRODUÇÃO DE GADO
No período da tarde, o grupo de congressistas estrangeiros visitou duas áreas experimentais da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF). Na primeira estação, o pesquisador Roberto Guimarães falou sobre o potencial de crescimento dos sistemas integrados no Brasil. “Produzimos hoje 90 quilos de peso vivo por hectare por ano, podemos multiplicar esse número por três e já temos tecnologia para mudar isso”, afirmou.
Na segunda estação do centro de pesquisa da Embrapa, os congressistas perceberam as vantagens de se produzir grãos por meio de sistemas de integração. “Em todos os nossos experimentos e também em condições de fazenda, a soja produzida com rotação em consórcios produziu 500 kg a mais por hectare em comparação ao plantio contínuo da leguminosa”, apresentou o pesquisador Robélio Leandro Marchão, da Embrapa Cerrados.
“Uma fazenda bem-sucedida em sistema pecuária-floresta e um centro de pesquisa pioneiro no desenvolvimento do Cerrado brasileiro é, sem dúvida, uma experiência valiosa para os participantes estrangeiros do Congresso levarem de volta aos seus países”, disse o secretário executivo do evento, o pesquisador da Embrapa, Pedro Luiz Oliveira de Almeida Machado.
O cientista do solo, Yasuhito Shirato, do NIAES do Japão, considera as experiências brasileiras em ILPF importantes para o resto do mundo. “A experiência brasileira em ILPF comprova que o Brasil tem muito a mostrar ao mundo”, pontuou.
Fonte: Embrapa