Possível objeto de uma nova licitação pelo governo, assim como outras rodovias federais, a concessão da BR-163, no Mato Grosso, trecho de 855 km operado pela Odebrecht, já começa a dar sinais de desgaste. E vem trazendo grande preocupação ao setor do agronegócio, principal usuário da via, para quem as condições de conservação da BR pioraram e podem comprometer o escoamento da nova safra no início do próximo ano, período da colheita de soja no Centro-Oeste.
A reportagem do Valor percorreu há duas semanas um trecho da porção norte da BR-163, na região entre Sinop, Sorriso e Lucas do Rio Verde, municípios campeões de produção de soja no Brasil. Ali, pôde constatar que a rodovia federal até mantém condições de tráfego de caminhões pesados, mas já apresenta reparos frágeis na pavimentação, com vários sinais de relevos e algumas deteriorações na pista.
Quadro oposto ao encontrado há um ano e meio, quando o jornal também esteve na BR e comprovou que os trechos concedidos da Odebrecht eram os únicos com boa trafegabilidade, ao contrário dos mantidos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
A situação expõe a dificuldade da Odebrecht em captar financiamentos de longo prazo previstos em contrato com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A liberação dos recursos está paralisada ao mesmo tempo em que a empresa e outras gigantes do ramo de construção estão implicadas na Operação Lava-Jato, inclusive com executivos e sócios-fundadores presos.
“A grande preocupação que o setor tem é que agora em período de chuva a rodovia sofre muito e a tendência da pista é piorar daqui para a frente até a colheita, e coincidentemente é no período de chuva onde temos o maior movimento de caminhões”, disse Edeon Vaz, diretor-executivo do Movimento Pró-Logística, da Aprosoja, entidade que representa os sojicultores no País. Ele também participa de um grupo de trabalho formado por associações de produtores, transportadores e poder público para supervisionar e sugerir melhorias na concessão da BR-163, e avalia que o governo federal também precisa “cuidar com mais carinho” da BR para que as obras avancem.
A Prefeitura de Sorriso, cidade conhecida como capital brasileira do agronegócio pelos grandes volumes de soja e milho produzidos a cada temporada, e que corta o traçado da BR-163, também respondeu em nota que a Rota do Oeste, concessionária formada pela Odebrecht para administrar a via, “está com problemas de captação de recursos financeiros e não está conseguindo recuperar todos os trechos da rodovia, o que levou o trecho concedido da BR-163 a uma situação ruim”.
“A concessionária deveria ter investido mais. O que tem sido feito são obras tapa-buraco, mas o trabalho mais pesado parou”, adverte Miguel Mendes, diretor-executivo da Associação dos Transportadores de Cargas do Mato Grosso, que reúne 100 empresas do ramo, responsáveis por uma frota de 6 mil caminhões.
Já a Rota do Oeste listou uma série de benfeitorias realizadas no trecho concedido na rodovia federal e afirmou que a conservação de rotina “segue normalmente e garante a manutenção da rodovia nas condições exigidas em contrato”. Mas aponta a não liberação dos financiamentos de longo prazo do BNDES como principal entrave encontrado até o momento na BR-163.
“Com a liberação destes recursos, a concessionária poderá investir em uma solução definitiva para este local, com recomposição de acostamentos e recuperação profunda da via” respondeu.
Enquanto espera pelos recursos do BNDES, voltados para conservação e duplicação da rodovia, a concessionária pondera que já estão programadas outras benfeitorias, como a entrega de uma passarela em Sorriso, a restauração completa das travessias urbanas de Sorriso e Nova Mutum e a recuperação da rodovia dos Imigrantes.
“Sabedores de que o trecho (norte da BR-163) já necessita de investimentos adicionais à manutenção de rotina e solidários à preocupação da classe produtora do Nortão de Mato Grosso, de extrema importância para as economias local e nacional, a Rota do Oeste tem concentrado esforços na busca por alternativa ao financiamento de longo prazo para realizar uma série de serviços que impactam diretamente no escoamento da safra de soja em 2017”, explicou a concessionária.
Fonte: Valor Econômico