Com pré-custeio garantido, estoque quase zerado e oferta mínima, preços do arroz se mantêm firmes no pico da entressafra

As cotações do arroz no mês de janeiro mantiveram o comportamento médio dos anos em que os estoques nacionais são mais baixos, com mínimas oscilações e indicando firmeza até o início da colheita. A saca de 50 quilos de arroz em casca (58×10), à vista, vem mantendo referência média de negócios entre R$ 49,50 e R$ 49,90 ao longo do primeiro mês de 2017. As cotações se mantêm, em média, 20% acima do praticado há um ano.

Um conjunto de fatores vem mantendo as bases para essa trajetória de preços: o menor estoque de passagem da década, com 365.200 toneladas (o estoque público não passa de 30.000 toneladas, e vem sendo liberado gradativamente pelo governo federal); a oferta restrita exatamente por causa do baixo estoque, a movimentação das pequenas e médias indústrias em busca de pequenos lotes para manterem seus espaços nos pontos de venda; o alongamento do ciclo da safra em algumas regiões pelo atraso da germinação das lavouras – de 10 a 20 dias; o anúncio da liberação de financiamento de pré-­custeio pelo governo, que é uma garantia de não precisar negociar toda a produção na colheita para aqueles produtores com acesso ao crédito oficial.

Além disso, existe a expectativa de anúncio de mecanismos de comercialização durante a Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em fevereiro. As entidades ainda buscam convencer o governo de, entre outros mecanismos, propor AGF para até 500.000 toneladas, o que é pouco provável. Vale lembrar que a base de compras do governo é o preço mínimo, hoje muito abaixo do mercado, mas a regra diz que o valor a ser pago é ‘pelo menos o preço mínimo’, e as entidades argumentam que o governo poderia estabelecer uma média entre o mínimo e o mercado para reduzir a pressão de oferta e equalizar a liberação do produto com a garantia de renda para um grupo maior de agricultores.

Mercosul

A colheita em algumas regiões do Paraguai e da Argentina já está começando, o que deve manter a oferta para o Sudeste e o Nordeste brasileiros. A safra no Mercosul não apresenta problemas climáticos sérios e deve ter grandes produtividades. O que dispara um alerta é o uso massivo de variedades que a indústria tem certas restrições por causa dos defeitos, como barriga branca, que pode ter impacto, ainda que mínimo, nos preços de comercialização. Atualmente, os preços do Mercosul são atraentes para importação, com a tonelada de arroz do Paraguai alcançando o Brasil central por até 8% abaixo dos preços praticados pelo produto nacional.

O comportamento do dólar nos primeiros dias deste ano vem mantendo o cenário muito favorável às importações e pouco favorável às exportações, mas tradings e indústrias acreditam que a pressão de oferta levará os preços internos brasileiros para patamares que vão viabilizar bons negócios no primeiro semestre. Hoje, com grãos abaixo de R$ 45,00 já é possível exportar até mesmo arroz em casca de forma competitiva, e o mercado trabalha com a expectativa de um piso de preços no pós-­colheita, de R$ 39,00 a R$ 40,00 por saca.

Pressão de Safra

A expectativa é de que a medida me que se aproxime a colheita – e se avolume a oferta – os preços médios caiam até R$ 10,00 por saca. É o ônus da pressão de oferta. A razão básica disso é a falta de acesso ao crédito oficial por parte de pelo menos metade dos arrozeiros e a necessidade de cumprir com o pagamento dos financiamentos de terceiros. Boa parte dos contratos é em equivalência produto, ou seja, exigem a entrega de maior volume no momento em que os preços são menores. Também há contratos fixos em valores, com base em juros superiores aos do crédito agrícola (até 3,5% ao mês), o que também exigirá a entrega de um volume maior de arroz no pico da safra. Outro motivo para a pressão de safra é que quase 70% dos produtores não dispõem de armazenagem própria e precisam das indústrias e cooperativas para depositar o que colherem.

Alternativas

Por outro lado, as boas cotações da soja – cuja área em rotação com arroz aumentou nesta temporada – e o bom desenvolvimento da oleaginosa nas várzeas traz alento aos agricultores que optaram por esta alternativa. Com a comercialização da commodity, poderão fazer frente aos primeiros compromissos e segurar o arroz para comercialização gradual ao longo do ano. A boa condição das pastagens de verão no Sul do Brasil, por causa de ótima frequência de chuvas, também ajuda no sentido da comercialização de gado para aqueles arrozeiros que também associaram a pecuária à propriedade. Em geral, este não é o caso dos arrendatários.

Varejo

No varejo, o consumidor paulista, segundo dados do Dieese, tem pagado o preço médio de R$ 3,10 por quilo de arroz, com uma alta de quase 9% ao longo de um ano. No Rio Grande do Sul, o quilo do arroz branco, do tipo 1, tem média de preços de R$ 1,68.

Indicador

O indicador de preços do arroz em casca Esalq/Senar­RS, indica cotação média de R$ 49,81 na última sexta-­feira, dia 20 de janeiro. No mês a valorização acumulada foi de 0,93%. Por conta do comportamento do câmbio, em dólar este é o maior valor da saca de arroz no ano: US$ 15,67.

Leilão

No primeiro leilão de oferta do ano, na última quinta­-feira (19/1) para aproveitar as boas cotações, fazer caixa e ainda reduzir os custos com armazenagem, a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) vendeu 100% da oferta de 7.120 toneladas de arroz estocadas no Rio Grande do Sul. A matéria­-prima estava concentrada em depósitos de São Borja e Santa Vitória do Palmar. A operação gerou R$ 6.659.871,38. A média dos preços de abertura foi de R$ 41,86, enquanto a de fechamento alcançou R$ 46,77. O ágio dos preços médios na operação alcançou 11,71%, demonstrando que o mercado tinha real interesse nos lotes. Com essa venda, a Conab manterá em seus estoques públicos apenas 22.900 toneladas de arroz, volume inferior a um navio.

Mercado

A Corretora Mercado, de Porto Alegre (RS), indica preços médios de R$ 49,00 para a saca de arroz de 50 quilos (58×10) no estado gaúcho, livre ao produtor, e R$ 105,00 para a saca de arroz beneficiado (branco), Tipo 1, de 60 quilos, sem ICMS (FOB). Os derivados e subprodutos mantiveram as cotações médias das últimas semanas, sendo o canjicão de arroz cotado a R$ 52,00 e a quirera a R$ 53,00, ambos em sacas de 60 quilos. Já o farelo de arroz, sucedâneo do milho na composição de rações, vem perdendo levemente os preços com a safra de milho de verão, e fica em R$ 600,00 a tonelada (FOB/Arroio do Meio – RS).

 

Fonte: Planeta Arroz

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