Com expectativas baixas, agricultores fogem de financiamentos

Com forte redução na área de milho, expectativas de produtividade menores na soja do que na safra anterior e incertezas quanto ao clima, os produtores rurais de Santa Catarina completaram o plantio em dezembro deixando os bancos de lado.

“É um ano bastante atípico para financiamentos agrícolas. O produtor estava capitalizado e abandonou os bancos oficiais para fazer uma safra com recursos próprios. Até porque o financiamento embute penduricalhos, como seguros, e não há uma (boa) previsão de preços, fazendo uma safra mais barata”, afirmou Enori Barbieri, vice-presidente da Federação de Agricultura de Santa Catarina (Faesc).

Produtor de grãos e um dos maiores produtores de leite do estado catarinense, Diolio Moscheta, da região de Xanxerê, disse ter financiado menos que 50% da produção na nova temporada: “Planto milho há 30 anos e nunca precisei de um seguro. Quando precisei há dois anos não me indenizaram. Quem pode economizar e está com os pés no chão, está deixando o banco de lado”.

Menos milho, mais soja

Moscheta é bom exemplo do que os poucos produtores de milho de Santa Catarina têm feito: utilizando o produto para silagem bovina. “Ano passado, quando o milho estava em alta, fiz contratos antecipados a R$ 45,00. Este ano, quando vendi (no balcão) estava por R$ 25,00”, disse.

Assim como em outros estados, a área de plantio de milho despencou em Santa Catarina. Dados da Secretaria de Agricultura apontam que área dedicada ao cereal será de 318.000 hectares nesta nova temporada, 45.000 a menos do que no ciclo passado. “Devemos ter a pior safra de milho de toda a história. As áreas plantadas são só para silagem de animais de leite”, disse Barbieri.

O especialista destaca que isso preocupa porque Santa Catarina depende da importação de outros estados e do Paraguai, já que é o principal insumo para a produção de carne. O estado é líder em suinocultura e vice em avicultura, por exemplo.

A área perdida pelo milho migra automaticamente para a soja, um dos poucos grãos que ainda traz rentabilidade ao produtor. A área de plantio chegou a 706.000 hectares, de acordo com a Secretaria de Agricultura, 7,3% superior à safra anterior.

Apesar disso, os contratos futuros ainda não ‘vingaram’ neste ano. “Eu diria que houve de 15%, no máximo 20% de comercialização antecipada”, disse o vice-presidente da Faesc.

Diolio Moscheta, contudo, disse que conseguiu a venda antecipada a R$ 70,00 por saca de soja, em novembro. A média da saca catarinense foi de R$ 64,42, segundo a Epagri – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. Mas ele ainda espera negócios melhores para o milho. “Tenho fé de que irá subir o preço”.

 

Fonte: Gazeta do Povo

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