A crise econômica e política do País deixou os produtores cautelosos em relação à tomada de crédito para aquisição de novos equipamentos e frota – ou ainda investimento em novos negócios. A estratégia é tentar fugir de taxas de juros de contratos que dificilmente podem ser revistos no futuro. Hoje, a taxa oficial para o setor praticada pelas instituições financeiras é de 8,75%, cerca de 35% mais alta que o ano passado.
“Grande parte dos produtores, no Paraná, em torno de 70%, buscam bancos e cooperativas para financiar o custeio da produção. Muitos estão optando pelo sistema de troca de insumos, a fim de travar os preços antecipadamente”, afirma o economista Pedro Loyola, da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
De acordo com ele, somente na área de grãos, o incremento no custo da produção foi de 18,8% em relação à safra passada. Nesta conta, estão itens como óleo diesel, mão de obra e fertilizantes.
Vice-presidente da Associação de Produtores de Soja (Aprosoja) na Região Leste de Mato Grosso, Endrigo Dalcin diz que o principal efeito negativo da crise econômica no agronegócio foi a restrição de crédito para custeio.
“Nós perdemos os melhores preços de fertilizantes no primeiro semestre, em abril e maio, porque o governo não liberou o pré-custeio”, afirma. Segundo ele, apesar do aumento, de 6,5% para 8,75% ao ano, as taxas de juros ainda são bem interessantes.
INVESTIMENTOS
No âmbito dos investimentos, como a aquisição de maquinário e frota, a procura pela concessão de crédito já caiu 30% da safra passada para a atual, calcula a Faep.
“A venda de máquinas diminuiu 28%. O momento, nos bancos, é de uma campanha de custeio para fazer a lavoura. Os produtores também avaliam que o juro aumentou demais e talvez não consigam rever as condições contratuais mais adiante. Estão colocando o pé no freio”, pontua o economista da Federação.
O gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra, comenta que, até julho, os produtores conseguiam estabelecer ainda contratos para custeio com volumes razoáveis, mas que no momento muitos estão tendo de entrar nas chamadas composições.
“Eles trabalham com a tarifa de 8,75% mais taxas livres. Na média, as duas sobem e por conta da Selic estar alta, isso chega até 14%”, diz.
As cooperativas, neste cenário, também estão segurando investimentos que podem aguardar. “Em médio prazo, a preocupação é grande. No Paraná, temos muitas lavouras com alta adoção de tecnologia. Ou este uso é reduzido ou corre-se o risco de fazer financiamento e ser difícil de pagar as contas”, pondera ele, ao recomendar cautela até nas vendas futuras.
BANCO CENTRAL
De acordo com dados do Banco Central, houve redução de 45% no valor do investimento contratado no País, em relação a 2014. O índice considerou os meses de contratação de janeiro a junho; em 2014 eram R$ 13,5 bilhões e neste ano, R$ 7,3 bilhões.
O Paraná, que foi líder na contratação de crédito rural em 2014, registrou, por sua vez, queda de 49% nos investimentos em relação ao ano passado. De R$ 1,5 bilhão, os contratos somaram R$ 792,2 milhões no mesmo período de 2015.
O produtor Pedro Favoretto Filho, de Londrina, é um dos que decidiram conter os investimentos. “Investi dentro do que já tinha programado para 2015, como compra de maquinário. Mas investimentos de novas fazendas, áreas e novos negócios, neste ano, não vamos fazer”, comenta. Favoretto cria gado e planta soja, milho, café e cana-de-açúcar.
LIBERAÇÃO
O cenário de crise na economia também tem feito com que as instituições de crédito optem por aumentar as exigências para a concessão de crédito. “Por conta da inadimplência em geral, elas querem mais garantias. O processo se torna mais burocrático”, avalia o economista Pedro Loyola.
O diretor-executivo da cooperativa de crédito Sicredi, a terceira em repasses para o agronegócio no país, Rogério Machado, relata que a maior parte dos associados da instituição já fez renovação de frota e maquinários e, por conta disso e de restrições do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a tendência é de que haja uma redução na procura por investimentos a longo prazo.
“Mas há um esforço para que o associado tradicional não fique sem os recursos”, diz. Ainda assim, a orientação é ter prudência e paciência em relação aos negócios na agricultura e pecuária.
Fonte: Folha Web