A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) debateu, na quinta (17), os gargalos e desafios para o escoamento da safra brasileira, em audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento da Câmara dos Deputados.
A assessora técnica da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da Confederação, Elisangela Pereira Lopes, apresentou um comparativo de custos entre Brasil, Argentina e Estados Unidos do frete terrestre e marítimo para a China. Segundo os números, o custo maior é do Brasil e está relacionado à infraestrutura e logística do país.
“O Brasil tem pouco mais de 13 mil quilômetros de linha férrea e quando a gente analisa os custos e vê que é o dobro em relação aos Estados Unidos, isso cria um alerta”, disse.
Segundo ela, de tudo que é movimentado no país, 61% são por estradas que enfrentam situações que variam de “péssima a ruim” em 67% do total.
“Tem que evoluir e melhorar esse índice. Além disso, esse todo não corresponde a extensão das estradas no seu total. Sabemos que 12,4% das nossas estradas são pavimentadas, o restante não. Se a gente considerasse o universo de estradas no Brasil, esse número seria muito pior.”
A assessora mencionou o percurso que fez essa semana pela BR-163, de Sinop (MT) a Santarém (PA), pelo movimento Estradeiros, da Aprosoja Brasil.
“A situação não se encontra boa como tem sido divulgada. Existem problemas na estrada, que é concessionada. Se percorrem nessa estrada, por dia, 1,5 mil caminhões 17 milhões de toneladas de soja e milho com destino aos portos de Miritituba e Santarém, e onde há 33 km ainda sem pavimentação. Então, é necessário que se faça um investimento nesse corredor que é tão importante.”
Elisangela alertou que essa situação “não ideal” dos acessos ao sistema portuário é uma das maiores causas de aumento de custo no transporte em relação aos principais concorrentes do Brasil.
Ela falou ainda da produção de soja e milho em 2023, que chegou a 286,5 milhões de toneladas, onde a maior parte vem das regiões de novas fronteiras agrícolas como o Mato Grosso e o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o que corresponde a 69% do que foi produzido foi nessa região.
“E como se encontra a infraestrutura dessa região? Podemos contar nos dedos os grandes corredores como as BRs 163, 158, 153 e 242, o trecho da Ferrovia Norte-Sul, mas ainda tem muito o que se fazer nessa região.”
“Ou seja, são algumas falhas que o agronegócio aponta que tem tirado a competitividade dos nossos produtos, não só em relação ao mercado internacional, mas também ao mercado interno, porque tem encarecido os produtos que chegam até nossa mesa”, ressaltou.
A assessora da CNA falou ainda do crescimento da produção no Arco Norte entre 2009 e 2023, passando de 56 milhões de toneladas para 197 milhões de toneladas e na exportação, de 7 milhões para 61 milhões. “A produção de grãos tem crescido muito no Brasil, 13 milhões de toneladas por ano, mas a infraestrutura logística no Arco Norte não acompanha essa evolução.”
Para Elisangela, não só o acesso rodoviário que precisa de manutenção, mas os outros modos de transporte também. “O Arco Norte vinha superando a movimentação de Santos, mas em razão da seca no Norte, tivemos que desviar cargas para Santos e Paranaguá e perdermos esse posto.”
Armazenagem
Elisangela Lopes abordou ainda a questão da armazenagem no país, que não está acompanhando o crescimento da produção. Segundo ela, existe um déficit em 2024 de 118,7 milhões de toneladas e quando se analisa por região e/ou estado, essa situação piora, observa.
“Tem que ter uma política para resolver essa situação. Infelizmente não encontramos nada nesse sentido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Nada para equalizar esse déficit de armazenagem no Brasil.”
Ela citou ainda a pesquisa sobre armazenagem desenvolvida pela CNA, que ouviu produtores rurais sobre as razões para que não invistam em infraestrutura de armazenagem.
“Eles responderam que um dos principais motivos está nas taxas de crédito não atrativas, por exemplo. Então, a pesquisa traz um diagnóstico que pode servir para um futuro plano voltado para a armazenagem”, concluiu.
O debate, requerido pelo deputado Tião Medeiros (PP/PR), também contou com a participação da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq); Ministério dos Transportes; Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit); Ministério dos Portos e Aeroportos; Organização das Cooperativas do Brasil (OCB); Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa); Associação Nacional dos Transportes Ferroviários (ANTF).
Fonte: CNA