Clima adverso indica replantio para a soja do Brasil e eleva atenção sobre segunda safra

A demora da normalização das chuvas nas principais regiões produtoras de soja no Brasil resultará em replantio de algumas áreas em que agricultores se arriscaram a plantar com baixa umidade ou “no pó”, segundo agro meteorologistas.

A irregularidade climática que atrasa o plantio da soja acentua ainda os riscos de um atraso no ciclo para a segunda safra, de milho ou algodão, que são semeados após a colheita da oleaginosa.

“As regiões com maior incidência de clima irregular estão localizadas no Paraná, que realmente tem problema, e também algumas áreas de São Paulo. Não chove direito e isso prejudica a germinação (da soja), e há replantio em algumas áreas…”, disse à Reuters o agro meteorologista da Rural Clima, Marco Antônio dos Santos.

Porém, os especialistas consultados pela Reuters afirmaram que essa adversidade não impacta as perspectivas da safra de soja 2019/20 no maior exportador global, pois ainda haverá tempo para semear os campos dentro de boa janela climática.

“Quem arriscou plantar logo depois do vazio sanitário, esse é quase garantido que terá de fazer o replantio. A planta germinou, mas teve calor. Quem plantou no pó, tem chance de fazer replantio”, disse o agrônomo Paulo Cesar Sentelhas, agro meteorologista do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), entidade que reúne pesquisadores do setor. O replantio aumenta os custos dos produtores com sementes e combustíveis, já que o trabalho tem de ser refeito.

Dados meteorológicos publicados no terminal Eikon, da Refinitiv, apontam que algumas áreas do Paraná, um dos principais produtores do Brasil, estão entre as que receberam menos chuvas nos últimos 15 dias, colaborando para que o plantio avançasse para 22% da área até segunda-feira, em comparação aos 38% na mesma época de 2018.

Para Santos, da Rural Clima, as condições na safra 2019/20 estão muito parecidas com as registradas em 2017/18, quando o plantio também atrasou e o Brasil colheu sua última safra recorde de soja, de quase 120 milhões de toneladas, segundo números oficiais. Para o ciclo atual, analistas esperam a produção de mais de 120 milhões de toneladas da oleaginosa.

“Este ano pode ser perfeito (para a soja). Lembra que em 2017 também houve um atraso gigantesco e foi a melhor safra de soja do Brasil? Atrasar o plantio de soja não significa quebra de produtividade. Quem está replantando ainda tem como recuperar. É muito cedo para falar em quebra de produtividade”, disse Santos.

Os modelos climáticos apontam que as chuvas não devem se regularizar em outubro, o que aconteceria somente a partir de novembro nas principais regiões produtoras, garantindo boa umidade para quem plantar mais tarde.

De acordo com o especialista da Rural Clima, o plantio de soja no Brasil, em 5% da área até o início da semana, está atrasado em comparação aos 10% do mesmo período de 2018, mas em ritmo não muito diferente da média histórica para esta época, de 6%.

Segundo Sentelhas, do Cesb, as condições de umidade no solo nas principais regiões produtoras estão desfavoráveis e as previsões indicam pouca chuva no centro-sul em outubro. Dados do Eikon apontam precipitações abaixo da média histórica na maior parte do centro-sul do Brasil até pelo menos o próximo dia 23.

“Aquele produtor que pode esperar até novembro tem uma situação mais tranquila para a soja”, destacou o agro meteorologista do Cesb. “Se ele fizer a semeadura a partir de novembro, a previsão climática está indicando chuvas dentro da normalidade”.

Atenção para a segunda safra?

Se para a soja um plantio mais atrasado em 2017/18 ajudou numa safra recorde durante a temporada, para o milho segunda safra, que responde por cerca de 75% da colheita brasileira do cereal, o evento colaborou para uma quebra de 17,50% em relação ao período anterior, já que faltou chuva para uma cultura semeada com atraso.

Mas Santos avalia que há ainda boa oportunidade para plantio de milho na segunda safra 2019/20 dentro da janela climática, que vai até março em algumas áreas do centro-sul.

A analista Daniely Santos, da consultoria Céleres, disse que chama atenção o atraso no plantio da soja em relação ao ano passado nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná. “Porém, apesar do começo ruim, havendo uma melhora nos níveis de precipitação nos próximos 20 dias, há chance de reversão nesse quadro. Portanto, é cedo para dizermos que esse cenário comprometerá o cultivo da segunda safra”.

Na hipótese de as chuvas não serem suficientes e o atraso se agravar, o milho segunda safra ficaria mais exposto ao risco de seca, e mesmo de geadas, no Sul, lembrou Sentelhas. Ele ressaltou que, numa situação extrema, produtores desistiriam da chamada “safrinha” ou fariam uma safra com menos investimentos, reduzindo aplicações de adubos e pesticidas.

 

Reuters

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