Cinco vezes mais maracujá

Municípios sul catarinenses quintuplicaram área de produção de maracujá com tecnologias do IAC e estão produzindo maracujás de alta qualidade. Foto: Divulgação

Produtores de maracujá do Estado de Santa Catarina resolveram, em 2010, expandir a produção. Até então, os pomares locais eram bastante restritos por conta das limitações climáticas. A partir desse interesse, um trabalho do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), em parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Santa Catarina (Epagri), e o agrônomo da Cooperativa Agrícola de Jacinto Machado (Cooperja), Délcio Macarini, resultou em treinamento e suporte técnico para os produtores familiares, com base em ações conjuntas e pesquisa participativa.

Os resultados vieram rapidamente. Nas safras de 2012 e 2013, frutos de alta qualidade passaram a ter comércio garantido na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP), reconhecido por sua exigência em qualidade. As principais cidades catarinenses produtoras de maracujá são Sombrio, Araranguá e Araquari.

 

CULTIVARES

Laura Maria Molina Meletti, pesquisadora do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, lembra que, em 2011, levou para Santa Catarina a tecnologia de produção recomendada para o cultivo do maracujá, e também divulgou as cultivares lançadas pelo IAC, na época. “Eram tecnologias testadas e aprovadas nos pomares paulistas. Em 2013, retornei à região e constatei que nossa ação contribuiu para que Santa Catarina tenha hoje uma fruta da mais alta qualidade no mercado atacadista de frutas frescas”, afirma Laura Meletti.

 

O DIFERENCIAL

A pesquisadora do IAC explica que a produção de maracujá de Santa Catarina é voltada para o mercado de frutas frescas, que exige produtos maiores e pesados. “Essas características estão reunidas nas cultivares IAC 273 e IAC 277. A partir dos novos padrões que foram criados com o lançamento dessas cultivares, os produtores conseguiram desenvolver um produto para o mercado mais exigente que existe, a CEAGESP”, diz Laura Meletti.

Além do frio, grande adversário da cultura naquela região, também havia o desafio da distância até a Companhia de Entreposto. Para os frutos aguentarem os quase mil quilômetros de distância até a Capital paulista, foi necessário desenvolver frutos com cascas mais espessas, mais resistentes ao murchamento pelo calor e ao amassamento durante o transporte e descarregamento.

Em pesquisa participativa, produtores, a Epagri e o IAC desenvolveram um produto com este perfil, capaz de atender aos interesses comerciais da região.

 

CONHECIMENTO

O IAC transferiu para os municípios catarinenses o conhecimento sobre o uso de sementes selecionadas, implantação de quebra-ventos, formação de mudas de alta qualidade, polinização manual e controle preventivo de doenças. A pesquisadora afirma que até três anos atrás, o Estado de Santa Catarina não possuía expressão na produção nacional do maracujá. Hoje, a área plantada foi multiplicada por cinco e a qualidade dos frutos resultantes é das melhores do Brasil. “Já pode ser comparada aos Estados de Minas Gerais e Mato Grosso, que também já receberam pacotes tecnológicos do IAC”, afirma a responsável pela geração de transferência de tecnologia do maracujazeiro no IAC.

 

PESQUISA

Laura Meletti reforça a importância do trabalho conjunto com o pesquisador da Epagri, Ademar Brancher, que vem há vários anos buscando conhecimentos sobre a cultura. “A região produzia principalmente uva, arroz e palmito. Enxerguei nesta parceria com a Epagri uma alternativa agrícola rentável para os agricultores familiares, então investimos no treinamento deles”, relata.

Ela reconhece que sozinha e à distância, não conseguiria mudar muita coisa, mas com a participação da Epagri foi possível contar com um fitotecnista na região, reforçando a tecnologia de produção preconizada. “A situação mudou completamente, mudas de alta qualidade chegaram aos pomares e com elas foi possível obter pomares especiais e produção altamente rentável”, comemora.

Para explicar a qualidade alcançada, a pesquisadora destaca o capricho dos produtores, a polinização manual e a preocupação com cada fase da produção, além da ausência do vírus do endurecimento dos frutos naquela região, que já dizimou muitos pomares pelo Brasil.

 

O PAULISTA E O CATARINENSE

As diferenças na produção de maracujá nos dois Estados vão além da questão climática. Embora ambas sejam realizadas por agricultores familiares, em São Paulo a produção é dispersa, não há cooperativismo e os frutos são destinados para indústria e consumo in natura. São Paulo já foi o maior produtor de maracujá brasileiro durante quase uma década. Atualmente, está em fase decrescente, tanto em área como em produtividade, devido ao vírus que causa o endurecimento dos frutos, transmitido por pulgões e de difícil controle.

Em Santa Catarina, embora a produção esteja em expansão, ainda é concentrada no litoral sul. Por lá, temse trabalhado bastante para evitar a entrada do vírus causador do endurecimento do fruto. “O ritmo da produção catarinense é crescente, o inverso do que se observa em São Paulo. Estão conseguindo atender aos mercados compradores que eram nossos (paulistas). Eles produzem numa época definida, de bons preços e assim não precisam fazer uma safra longa”, afirma Laura Meletti.

Os produtores catarinenses concentram a colheita em abril e maio, oferecendo produto altamente diferenciado, que alcança preços tão elevados, que eles conseguem bancar a produção, pagar o frete e ter lucro, mesmo colhendo apenas dois meses por ano.

 

APOIO TÉCNICO

Desde o início das atividades, os fruticultores buscaram aplicar corretamente os conceitos da cultura e com o apoio técnico disponibilizado pelo IAC, pela Epagri e pela Coooperja, alcançaram nível admirável em produtividade e qualidade, mesmo quando o Estado não era considerado um local adequado para o maracujá.

O Brasil é o maior produtor mundial da fruta e também o maior consumidor.
Por isso, as exportações são pouco significativas, já que o mercado interno é sólido e paga preços altamente compensadores.

 

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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 703/2014

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