Em 8 de julho celebra-se o Dia Nacional da Ciência (Lei nº 10.221, de 18 de abril de 2001) e o Dia Nacional do Pesquisador Científico (Lei nº 11.807 de 2008). A data é pouco lembrada e,ainda menos, comemorada. Como são a ciência e os pesquisadores por aqui. Sem ciência, o caminho marítimo das Indias, o descobrimento do Brasil, o desenvolvimento do país e sua segurança alimentar teriam ficado para não se sabe quando.
No século I a.C., o general romano Pompeu, num contexto de insegurança alimentar, encorajou seus receosos marinheiros a enfrentarem uma arriscada travessia marítima para levar alimentos da África para Roma, sitiada: Navigarenecesse, vivere non est necesse. Navegar é preciso, viver não é preciso, ele proclamou, segundo Plutarco relatou no livro Vidas Paralelas.A frase tomou outro sentido com a epopeia das navegações portuguesas.
Nos regimentos das naus lusitanas do século XVI,essa frase evocava o início da navegação de precisão, graças a ciência.No caminho marítimo das Índias, as naus ficavam quase três meses sem ver terra. Só água. Ainda assim, sabiam onde se dirigiam e razoavelmente onde estavam.Com os lusitanos, a navegação começou a ser sinônimo de precisão.Portugal foi a primeira nação a dominar cientificamente a cosmografia, combinando o desenvolvimento da matemática com o dos instrumentos.
No século XVI, o matemático e cosmógrafo-mor português Pedro Nunes, inventor do nônio, (ilustração ao acima) do anel náutico e do instrumento de sombras, em seu Tratado em Defensam da Carta de Marear,deduziu: se um navio mantivesse uma rota fixa não conseguiria navegar através de uma circunferência. Para navegar com precisão, ele deveria seguir a “linha de rumo”, uma rota em espiral chamada loxodrômica.O navegar era cada vez mais preciso.A exatidão dos cálculos matemáticos e dos instrumentos alcançavam os minutos na esfera terrestre e permitiam corrigir os desvios das agulhas magnéticas das bússolas.Só com a invenção dos logaritmos, um século depois, Leibniz pode estabelecer a equação algébrica para a loxodrômica.
Para passar da navegação de precisão à agricultura de precisão foi necessário mais de um século e muita ciência. Hoje, o mundo digital faz parte da vida, do cotidiano, da produção e dos negócios na agricultura. A informática entrou nas fazendas pelos escritórios. Computadores passaram a ser base da gestão contábil, financeira e chegaram à parte técnica e operacional.
Graças a internet das coisas, ao fornecimento de dados pelos equipamentos utilizados em fazendas de regiões inteiras, conectados a grandes bancos de dados, aplicativos e dispositivos móveis permitem acompanhar pelo celular desde a agrometeorologia de precisão até a mosca dos estábulos, do hábito alimentar de bovinos até o seu efetivo conforto térmico. Ciência no dia a dia.
A junção de tecnologias digitais embarcadas em máquinas e equipamentos com as de geoprocessamento e o GPS trouxe uma progressiva automação e precisão na condução da agropecuária. É o tempo da agricultura de precisão, pecuária de precisão e meteorologia de precisão. Até versões de máquinas autônomas, sem tratorista, são testadas, reduzindo custos e ampliando a produtividade do trabalho. A ampliação da conexão no campo, hoje limitada a menos de 25% do mundo rural, trará enormes ganhos de produtividade até com equipamentos já existentes.
Cada vez mais fazendas geram e acessam grande número de informações. Na agropecuária, diversos BigData integram esses e outros dados e já respondem milhares de perguntas sobre produção animal, vegetal e uso de tecnologias. Graças a ciência, além dos robôs, drones e satélites, pesquisadores e empreendedores começam aplicar a inteligência artificial no agro. Ela promete revolucionar a assistência técnica ao homem do campo, o emprego de novas tecnologias e a gestão da logística.
Ainda persistem no mundo rural a agricultura de subsistência, a enxada e o uso do fogo, enquanto o agronegócio caminha da agricultura de precisão à agricultura de decisão pela inteligência artificial. O grande desafio, sobretudo no combate à pobreza rural, é a inovação, é levar a tecnologia, a produtividade e a rentabilidade para a maioria dos produtores.
Como disse o papa Francisco, não estamos numa época de mudanças e sim numa mudança de época. Uma época de oportunidades e ameaças. Como Roma no passado, o mundo pede por alimentos. Como seus antepassados portugueses, agricultores brasileiros sabem: para viver, competir e lucrar, produzir é preciso. Com inteligência, ciência e precisão! Todo dia.