Chuvas prejudicam colheita de grãos, café e cana

Apesar das ameaças de geadas na região Sul do Brasil, que representam algum risco para as plantações de milho, cana, trigo e café no Paraná, a chegada do inverno, no dia 21, não deverá tirar o sono dos agricultores brasileiros. Meteorologistas consultados pelo Valor confirmam que o aquecimento superficial das águas do oceano Pacífico indica uma possível formação do El Niño no próximo semestre, mas o fenômeno tem perdido força, com chances cada vez mais remotas dessa previsão se concretizar este ano.

Já o excesso de chuvas em alguns polos do centro-­sul nas últimas semanas virou uma pedra no sapato de muitos produtores. As precipitações têm provocado atrasos na colheita de cana­-de-­açúcar e café e gerado queda na qualidade do feijão cultivado na última das três safras do ciclo 2016/17. Segundo relatório do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Paraná, 41% das lavouras da leguminosa do estado apresentam condições ruins e só 25% estão em boa situação. Há um mês, os percentuais eram 16% e 58%, respectivamente.

Segundo Carlos Alberto Salvador, engenheiro agrônomo do Deral, as chuvas também têm atrasado a colheita do feijão, que está 29% mais lenta que na temporada passada. “Essa demora para sair do campo e as chuvas devem trazer perda de qualidade”, disse Salvador. Havia um temor de que as geadas comprometessem a safrinha de milho paranaense, estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 17.9 milhões de toneladas, um novo recorde histórico. Essa preocupação, entretanto, está ficando cada vez mais distante.

Segundo Edmar Gervásio, economista do Deral, grande parte da área de milho suscetível ao efeito negativo das geadas está no norte do Paraná, onde o problema não costuma acontecer. “A área mais crítica é a oeste do estado e, até domingo, não há previsão de geadas por lá”, afirma. Em dez dias, a maior parte do milho que está nos campos já terá saído da área de risco. “Teremos menos de 50% da área suscetível a geadas na semana que vem”, disse Gervásio.

As chuvas fortes também geram receio em outras regiões do país após algumas culturas terem sido prejudicadas pela escassez hídrica no ano passado. “A colheita do milho safrinha em Mato Grosso foi prejudicada”, afirma Daniel Latorraca Ferreira, superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Contudo, como o percentual de lavouras aptas a serem colhidas ainda é muito baixo, os efeitos drásticos foram mitigados. A colheita ainda está em 5,4% dos 4.7 milhões de hectares do ciclo no estado. “Devemos ver uma perda de qualidade pontual”, disse Latorraca.

No Nordeste, o maior volume de chuvas trouxe perdas em lavouras de cana, mas também restritas. Na avaliação de Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar de Pernambuco (Sindaçúcar), as precipitações prejudicaram de 3% a 4% da safra atual, cujas condições de desenvolvimento foram muito mais afetadas pela seca que vinha atingindo a região.

Os efeitos da chuva só não foram piores no Nordeste porque a maior incidência foi no litoral da região. Com isso, as frutas passaram ilesas pelo aumento das precipitações. Mesmo trazendo preocupações a mais para o agricultor, as previsões já indicam que o cenário não deve perdurar. O inverno deve ser seco e novas precipitações expressivas são esperadas apenas para entre o fim da estação e o início do verão.

Centros de monitoramento nacionais e estrangeiros têm indicado que, de forma geral, o inverno tende a ser menos rigoroso que o de 2016. O último relatório da Agência Americana de Pesquisas Atmosféricas e Oceânicas (NOAA, na sigla em inglês), por exemplo, aponta uma probabilidade de 35% a 50% para a formação de um El Niño capaz de causar problemas no próximo semestre. As chances de que o fenômeno seja neutro é de 55%.

“A gente nunca acreditou muito nesse El Niño e cada vez fica mais claro que ele não ocorrerá”, afirma Alexandre Nascimento, meteorologista da Climatempo. Ele acredita que os episódios mais sérios de geada este ano já tenham acontecido no último fim de semana. Paulo Etchichury, sócio diretor da Somar Meteorologia, avalia que nos próximos meses deverá prevalecer uma condição climática próxima da normalidade. “Se não dá pra garantir uma condição ideal (para a agricultura), pelo menos significa menor risco de fenômenos severos”, disse.

 

Fonte: Valor Econômico

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