China recua compras e leva setor de algodão a pedir novo preço mínimo

A redução nas importações da principal compradora de algodão, a China, aumentou a disputa no mercado internacional e derrubou os preços. Com os reflexos no Brasil – terceiro maior exportador global – somado ao avanço dos custos de produção, a saída é pedir reajuste do valor mínimo.

“A alta do dólar foi um dos fatores que puxaram os custos variáveis para cima. Agroquímicos que custavam R$ 2,10 agora estão a R$ 2,40. Esse desembolso do produtor subiu entre 15% e 20% nesta safra e o [preço] mínimo está parado”, disse o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Gilson Pinesso.

De acordo com os analistas ouvidos pelo DCI, a incidência de chuvas nas principais regiões produtoras durante a colheita de 2013/2014 prejudicou a qualidade da pluma, o que também acarreta uma elevação na quantidade de agroquímicos para o plantio da safra seguinte.

Reajuste

Para Pinesso, o atual valor mínimo de R$ 54,90 já não cobre os custos, que ficam entre R$ 61,00 e R$ 62,00. O presidente da Câmara Setorial de Algodão, Sergio de Marco, confirma que os cotonicultores reivindicam pelo reajuste que será levado ao próximo gestor do Ministério.
“O cenário não é favorável e vamos trabalhar com o próximo ministro da Agricultura, seja ele quem for, para fazer esta atualização”, reafirma o presidente da Abrapa.

Vale destacar que o preço mínimo em vigor na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) foi reajustado nos últimos anos, ao passar de cerca de R$ 48,00 para R$ 54,90.

“Se houver a necessidade de fazer a equalização lá na frente, o governo precisa ter um recurso em cima de um valor que cubra o gasto mínimo. Eu mesmo sou produtor, sei que o mercado vem caindo violentamente. Não queremos que haja uma queda brusca”, enfatiza o líder da Câmara Setorial.

O governo federal tem atuado na regularização do mercado doméstico através dos leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro). O último da cultura aconteceu no dia 13 deste mês para escoamento de 76.500 toneladas de algodão em pluma, e foi encerrado em 66.700 toneladas, representando 87% do total ofertado.

Segundo o Ministério da Agricultura, a comercialização por estado foi de 4.400 toneladas da Bahia, 778 toneladas de Minas Gerais, 4.300 toneladas de Goiás, 2.500 toneladas do Mato Grosso do Sul, 52.900 toneladas do Mato Grosso e 1.600 toneladas do Maranhão. A operação previa gastos de R$ 19.5 milhões.

“O governo fez a equalização de quase 60% da produção mato-grossense e o que ficou, cerca de 20%, é de pior qualidade”, afirmou Marco.
Mercado

O analista do Safras & Mercado, Elcio Bento, explica que a principal causa da queda nos preços é a posição menos agressiva da China no mercado internacional. “Por volta de 2010, os chineses entraram para compor estoques que acabaram ficando muito elevados. Na última safra, o consumo do país era de 7.5 milhões de toneladas enquanto o estoque batia 13.7 milhões”.
Segundo o especialista, o gigante asiático adquiriu cerca de 3 milhões de toneladas de algodão no período de 2013/2014 e, nesta safra, este volume deve cair pela metade, para 1.5 milhão de toneladas. Bento destaca que a situação só não é mais apertada porque temos um dólar acima de R$ 2,50, que favorece as exportações. O mesmo câmbio que beneficia o setor para venda externa, prejudica no momento em que a cadeia adquire insumos importados.
“Em um ano, os preços internacionais caíram 17,9% e isso derruba o mercado brasileiro. Apesar disso, quem tem algodão de qualidade no Brasil consegue preços maiores do que a média global. O problema é que a qualidade também foi afetada e a disputa com Estados Unidos e Índia é grande”, acrescenta o especialista.
Há anos não se via uma qualidade tão baixa na produção. A analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), Maria Aparecida Braghetta, diz que as chuvas na colheita prejudicaram a cor da pluma ou fizeram com que perdessem o brilho.
“Os produtores que têm algodão de qualidade anteciparam as entregas ou estão deixando de negociar, à espera de preços mais firmes. Quando a indústria decide comprar o produto mesmo com alguma característica negativa há um deságio [diminuição de valor]”, esclarece a analista. Por conta disso, comumente se fala que o deságio tem ajudado a pressionar os preços.
Atualmente, não há expectativa de recuperação no setor e o presidente da Abrapa espera queda entre 12% e 15% da área pelo atraso no plantio.

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