O dia 6 de julho de 2018 pode ficar marcado por uma mudança severa e profunda, mesmo que não seja definitiva, no comércio mundial de soja. É nessa data, afinal, que podem entrar em vigor as tarifas da China sobre os produtos importados dos EUA, incluindo a oleaginosa em 25%. A Bloomberg acompanha um navio, o Peak Pegasus, que tenta para chegar à nação asiática antes de que a carga de soja ser tarifada.
A embarcação está prevista para chegar a Dalian nesta sexta-feira, mesmo dia em que as taxas chinesas devem entrar em vigor. Se tudo correr como o planejado, o carregamento de soja poderá passar pela alfândega antes da taxação, segundo uma fonte da Bloomberg. A previsão é de que o Pegasus chegue ao porto chinês às 17h horário local.
O objetivo da China é tarifar cerca de US$ 34 bilhões de produtos americanos, incluindo a soja, em um movimento de retaliação do presidente americano Donald Trump que taxou muitos produtos chineses, dando início a uma séria guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. E apesar desta data estar fixada, lideranças da China disseram que “não irão dar o primeiro tiro”.
Com o mercado ainda sentindo a pressão desse entrave, a expectativa é de que mais cancelamentos de compras chinesas feitas nos EUA continuem a ser registrados, redirecionando a demanda da China para o Brasil, principalmente. Na última semana, 19 carregamentos de soja brasileira foram vendidos para a nação asiática.
Alternativas
Um acordo entre as duas nações ainda se mostra bastante distante. Para alguns analistas, um acordo efetivo só seria possível com um encontro pessoal entre Trump e Xi Jinping. Enquanto isso não acontece, o governo chinês tem trabalhado para encontrar e efetivar alternativas para o gap que a soja norte-americana deverá deixar na necessidade chinesa.
Informações apuradas pela consultoria internacional AgResource Mercosul (ARC) mostraram que o governo da China se reuniu, nos últimos dias, com as maiores esmagadoras do país para alertá-las sobre a possibilidade de uma redução de suas importações de soja em grão na casa de 15% a 20% no próximo ano comercial, o que daria cerca de 15 a 20 milhões de toneladas a menos, se confirmado esse intervalo.
“O plano chinês fala em, parcialmente, um corte no uso do farelo de soja, optando por utilizar mais milho e trigo na formulação da ração animal. Se o corte for efetivado, a China pode conseguir evitar de comprar soja dos EUA, mas temos que lembrar que a América do Sul hoje não tem condições para suprir toda a demanda chinesa pela oleaginosa”, disse Matheus Pereira, analista de mercado da ARC.
Além disso, com a efetivação dessa redução, a possibilidade também é de que o Brasil se confirme como o exportador majoritário de soja para a nação asiática, uma vez que a Argentina não é tradicional exportadora da soja in natura em função das “retenciones”.
“Hoje, a China tem de 9 a 11 milhões de toneladas de soja em estoque. Se a gente somar esses estoques com o ritmo de exportação brasileira, com o que o Brasil ainda tem de soja disponível no país, a indústria esmagadora doméstica chinesa só consegue ter suprimentos até meados de outubro no atual ritmo de importação. Então, se tudo for confirmado, a China vai precisar sim cortar o uso de farelo de soja, optar por recursos no milho e no trigo e só concretizar o que já está sendo preparado pelo governo chinês”, disse Pereira.
Embora essa seja uma realidade que há muito não vinha sendo sentida pelo mercado, uma vez que as importações de soja da China têm mantido em uma tendência crescente nos últimos anos e vinha sustentando a possibilidade de níveis recordes para a próxima temporada, as especulações cada vez mais próximas da realidade levaram a uma queda de mais de 15% dos preços da soja em grão na Bolsa de Chicago e de uma alta de mais de 4% no preço do farelo na China, diante de uma possibilidade de menor oferta.
No final de junho, o governo chinês anunciou a eliminação e a redução de importação de commodities-chaves de cinco países que são alguns de seus principais fornecedores. A soja vinda da Índia, da Coreia do Sul, Bangladesh, Laos e Sri Lank teve sua tarifação reduzida de 3% para zero.
Mais ingredientes para a fabricação de alimentação animal também tiveram suas taxas zeradas ao partirem de países asiáticos vizinhos, segundo informações do Ministério das Finanças chinês. O produto tinha tarifa de 5% é a farinha peixe, que também será zerada, de 2%.
Fogo aberto
Nesta quinta-feira, a China fez um alerta dizendo que os Estados Unidos estariam “abrindo fogo” contra o mundo com essas ameaças tarifárias. A nação asiática intensificou sua retórica e afirma que, embora ninguém queira uma guerra comercial – já que ameaça cadeias de abastecimento internacionais, sua resposta ao governo americano será imediata.
“Se os EUA implementarem suas tarifas, eles estarão, realmente, taxando empresas de todos os países, incluindo companhias chinesas e americanas. As medidas dos EUA estão atacando importantes cadeias de valores e suprimentos globais. Para deixar mais claro e simples, os EUA estão abrindo fogo contra o mundo todo, incluindo seu próprio país”, disse o porta-voz do Ministério do Comércio da China, Gao Feng.
Feng completou dizendo que a China não irá se curvar diante dessas ameaças e chantagens e tampouco irá hesitar em defender o sistema de livre comércio e o multilateralismo.
Fonte: Notícias Agrícolas (com informações da Bloomberg e Reuters)